Compostar é transformar resíduos em matéria orgânica. Comecei a pensar nisto ainda nos bancos da escola de agronomia, quando aprendemos sobre tudo o que o húmus faz em um solo, e como a agricultura convencional não se preocupa muito com isto.
Uma semana depois de formado, minha primeira ação foi comprar um balde grande e começar a compostar os resíduos de casa.
Os anos e as pilhas de composto se passaram e fui aprendendo não só como compostar, mas também a entender o que se passa na cabeça das pessoas que compostam (e das que não compostam).
No começo de minha vida profissional tive que deixar a coisa um pouco de lado. Naquela época em Harvard não se falava em compostagem, e ainda hoje a coisa lá está mais para nojo que para realidade. Veja uma foto sobre a postura mais errada que você pode ter.
Mas voltando ao Brasil, comecei a compostar todo o lixo de meu apartamento na varanda e depois passei a compostar em escolas.
No começo achei que iria por a coisa para funcionar em uma escola para depois passar para outra. Nada disso. Escolas trocam seu pessoal a cada ano e portanto exigem um trabalho constante.
Também achei que fosse ensinar as escolas a compostar. Já na segunda escola mudamos radicalmente o modo de trabalhar e inventamos um protótipo de composteira onde o lixo não cheira de jeito algum, e foi a escola que me ensinou isto.
Foi também nas escolas que aprendi que a ideia de transformar lixo em adubo tem muito mais inimigos do que parece. São inimigos silenciosos, que agem à sorrelfa, escondidos até de suas próprias consciências.
– Sou super a favor de compostagem, mas… (e lá vem desculpa)
Uma década de compostagem em escolas me mostrou principalmente que a maior autoridade de uma pessoa é seu exemplo. Minha autoridade para dizer que qualquer um pode tratar seus resíduos em casa não vem de titulação acadêmica ou conceito subjetivo. Ela vem de ter feito isto. Se eu fiz, você também pode.
Compostar é, afinal, muito mais que produzir matéria orgânica. Compostar é uma metáfora poderosa acerca de cuidar de si próprio e do mundo.
Enquanto isto, em São Paulo, minhocário ou compostagem?
Terminou no dia 2 de agosto, o prazo dado pela lei 12305 de 2010 para que todos municípios brasileiros construam seus aterros sanitários.
Por isso é positiva, a priori, a iniciativa da cidade de São Paulo de distribuir vinte mil caixas plásticas para o uso de minhocas para transformar lixo doméstico em adubo orgânico é a única solução ambientalmente adequada para o problema.
A alternativa é bem intencionada mas tecnicamente inadequada.
Minhocas não comem todos resíduos. Não comem alimentos temperados, com óleo, cascas de frutas cítricas, de cebola. Colocando algumas destas sobras no substrato onde estão as minhocas, elas irão fugir por onde puderem e a decomposição para. A cada vez que elas fogem, é necessário conseguir novas minhocas para reiniciar o processo.
Igualmente, se as minhocas ficarem algum tempo sem comida, porque a família se ausentou, por exemplo, elas também morrem, obrigando mais uma vez, conseguir novo lote de minhocas.
Por estes dois fatores, a minhocultura é uma atividade que exige dedicação e conhecimento para que seja bem sucedida. É difícil encontrar uma família urbana com tal nível de abnegação.
Há uma outra alternativa, que deveria ser considerada pela Prefeitura de São Paulo.
Há milhares de anos microorganismos são utilizados para a decomposição de resíduos, ao redor do mundo, na Índia, China, Inglaterra durante a Idade Média.
Há quase uma década, alguns alunos universitários e professores do ciclo básico temos ajudado escolas e casas a compostar seus resíduos. adaptamos este conhecimento ancestral para a realidade atual.
A transformação de lixo em adubo deve ser simples e barata se quisermos que seja amplamente adotada. Qualquer caixa plástica de frutas se presta a receber todos resíduos orgânicos, incluindo resíduos animais, alimentos processados, salgados, com óleo, absolutamente todos resíduos que saem de uma cozinha.
Nas escolas, as composteiras frequentemente têm sua adição de resíduos interrompida
Por uma década compostamos todos resíduos de cozinha em meu próprio apartamento. Neste tempo adaptamos a tecnologia para o ambiente doméstico urbano.
A sugestão para a Prefeitura de São Paulo, sem prejuízo da boa intenção eco idealismo, é necessário um pouco mais de experiência antes de iniciar um projeto em tão grande escala.
Efraim Rodrigues, Ph.D. (efraim@efraim.com.br), Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor pela Universidade de Harvard, Professor Associado de Recursos Naturais da Universidade Estadual de Londrina, consultor do programa FODEPAL da FAO-ONU, autor dos livros Biologia da Conservação e Histórias Impublicáveis sobre trabalhos acadêmicos e seus autores. Também ajuda escolas do Vale do Paraíba-SP, Brasília-DF, Curitiba e Londrina-PR a transformar lixo de cozinha em adubo orgânico e a coletar água da chuva. É professor visitante da UFPR, PUC-PR, UNEB – Paulo Afonso e Duke – EUA
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
http://ambienteporinteiro-efraim.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário