Além do futebol, o brasileiro acaba de revelar que tem outra paixão. Uma pesquisa nacional encomendada pelo WWF-Brasil aponta que a maior parte da população tem um forte sentimento de orgulho pelo meio ambiente e as riquezas naturais do país. A maioria sabe da importância das áreas protegidas para o bem estar humano e acha que a natureza não está sendo tão bem cuidada como como deveria. Os resultados foram apresentados no dia 18 de novembro em Sidney, na Austrália, durante o Congresso Mundial de Parques da IUCN.
A pesquisa feita pelo Ibope durante a segunda quinzena de outubro com cerca de duas mil pessoas em todas as regiões buscou entender como a população brasileira se relaciona com as unidades de conservação, como parques, reservas e outras áreas protegidas.
Os dados mostram que 58% dos entrevistados consideram o meio ambiente e as riquezas naturais motivo de orgulho para o país. O resultado supera a diversidade de opinião da população sobre cultura (37%), esporte (30%), qualidade de vida (28%) e a característica pacífica do país (19%).
O brasileiro também está ciente do papel das áreas protegidas para o bem estar de todos. Entre os entrevistados, 65% afirmaram que a proteção da fauna e da flora é um dos benefícios dessas áreas. Para 48% dos pesquisados, as áreas protegidas ajudam a melhorar a qualidade do ar; 34% identificam nesses locais uma oportunidade para o descanso e o lazer e 25% enxergam perspectivas econômicas a partir da conservação do meio ambiente.
“O que a pesquisa deixa claro é que há um descompasso entre as políticas públicas de meio ambiente no Brasil e os anseios da população. Apesar do apreço que o brasileiro tem pelas áreas naturais, da importância delas na vida cotidiana das pessoas, esse tema não é uma prioridade nacional do ponto de vista dos governos”, afirma Maria Cecília Wey de Brito, CEO do WWF-Brasil. Exemplo disso, diz ela, é o fato de que no recente debate eleitoral, o tema ambiental ficou na escuridão. “E foi isso que nos inspirou a fazer a pesquisa. Achamos que os políticos ainda não percebem o quanto o meio ambiente pode beneficiar o país. E o pior: não são capazes de perceber que a proteção do meio ambiente é uma expectativa nacional.”
Segundo a CEO, as áreas protegidas ajudam a conservar a água que abastece desde a agricultura até o consumo doméstico. As florestas e outros ecossistemas também colaboram no equilíbrio do clima, no regime de chuvas e fornecem uma diversidade enorme de outros serviços, como matérias primas para medicamentos, alimentos e cosméticos. Têm, portanto, um papel econômico que ainda não está sendo considerado.
A falta de atenção com o meio ambiente é uma preocupação do brasileiro que se reflete na pesquisa encomendada pelo WWF-Brasil: 82% da população brasileira acreditam que a natureza do país não está protegida de forma adequada. Apenas 11% da população acreditam que a natureza está sendo protegida corretamente, enquanto 7% não souberam responder.
A pesquisa mostra ainda que 74% dos entrevistados atribuem ao governo a responsabilidade por cuidar das unidades de conservação; 46% aos cidadãos e 20% às ONGs (6% não souberam responder).
“Muitas vezes, as pessoas entendem que, por elas pagarem impostos, quem tem de cuidar é o governo. Mas quem polui rio, quem não liga o esgoto no sistema de esgoto, quem joga óleo na rua, o posto de gasolina, também está afetando o meio ambiente”, diz a secretária-geral da WWF-Brasil, Maria Cecília Wey de Brito. “No entanto, pensando exclusivamente nas áreas protegidas, dos parques de fato, os governos têm um potencial de responsabilidade maior, embora se a população cobrar, ele pode ter mais recursos para que essas áreas funcionem”, ressalva Maria Cecília.
“De fato, nosso sistema nacional de unidades de conservação nunca esteve tão ameaçado quanto agora. E isso está ocorrendo com anuência do Congresso Nacional por meio de projetos de lei e uma avalanche de pedidos de licença para mineração e construção de grandes obras de infraestrutura”, adverte Jean François Timmers, Superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.
Todas essas são atividades que podem gerar muito desmatamento. E 27% dos entrevistados veem no corte raso das florestas uma das principais ameaças à natureza. A poluição das águas vem em segundo lugar, com 26%. Caçar e pescar em locais proibidos são motivos de preocupação para 19% dos entrevistados. Outras ameaças apontadas na pesquisa são as grandes obras de infraestrutura e as mudanças climáticas.
“Precisamos de um pacto amplo, que envolva todos os setores, para mudar o cenário atual e posicionar a conservação da natureza e as áreas protegidas como prioridades reais na agenda do governo nos próximos quatro anos” afirma Timmers. “Não dá mais para esperar, os resultados dessa negligência estão batendo à nossa porta”.
A pesquisa mostra ainda que a população sabe que preservar o meio ambiente significa garantir a proteção das nascentes, represas e rios (55%) e proteger a diversidade de plantas e animais (65%).
Ainda, segundo Maria Cecília, o levantamento demonstra a preocupação com o tema e tenta aproximar da realidade da população urbana a informação de que “áreas protegidas não estão apenas na Amazônia”. Atualmente, o Brasil tem 320 unidades de conservação federal, distribuídas por todas as regiões do país, que representam 759.375 km² do território brasileiro protegidos por lei. Somadas as unidades estaduais e municipais, cerca de 10% do país está preservado sob o título de unidade de conservação.
Fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=730
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