sábado, 6 de dezembro de 2014

Desmatamento anual caiu 18% na Amazônia Legal, mas tendência é de alta



O governo federal divulgou no dia 26 de novembro a estimativa oficial da taxa de desmatamento na Amazônia Legal. Entre agosto de 2013 e julho de 2014, foram desmatados 4.884 km² de floresta, uma queda de 18% quando comparado ao mesmo período de 2012-2013, quando foram derrubados 5.891 km². Trata-se do segundo menor índice, desde que ele começou a ser produzido o monitoramento, em 1988.

A estimativa deverá ser consolidada no primeiro semestre do ano que vem, mas a expectativa dos técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) é que haja uma variação de no máximo 10%, para mais ou para menos.

Confira aqui a apresentação oficial dos dados do Prodes divulgada pelo governo em coletiva de imprensa. 

O monitoramento na maior floresta tropical do planeta considera como período de medição os meses de agosto de um ano e julho do outro, o chamado "ano fiscal". A área desmatada anual caiu 83% ao longo de 8 anos seguidos, de 2004 a 2012, sendo que o desmatamento alcançou seu menor nível histórico no período 2011-2012, quando chegou a 4.571 km². Mas a sequência foi quebrada por um repique (aumento) de 29% no período 2012-2013, quando chegou a 5.891 km². E o resultado de 2013-2014 ainda nos deixa em um patamar 6% acima da área desmatada em 2011-2012. Ou seja, a mudança é boa quando comparada a base do ano passado, mas não garante que retornamos a uma trajetória de queda.

Estados - Entre os 9 estados que compõem a área da Amazônia Legal, objeto do monitoramento, somente Acre e Roraima registraram alta nas taxas, 41% e 37% respectivamente. Todos os outros estados da Amazônia Legal tiveram queda em seus números. O Pará continua sendo o campeão do desmatamento, com 1,8 mil quilômetros quadrados de matas derrubadas, o que significa, contudo, um decréscimo de 22% em relação ao período anterior. Mato Grosso segue em segundo lugar, com uma área desmatada de pouco mais de mil quilômetros quadrados, uma queda de 8%. Rondônia vem na sequência, com 669 quilômetros quadrados derrubados, uma redução de 28%.

Polêmica - O novo índice de desmatamento do Prodes vem a público depois da polêmica causada pelo atraso na divulgação da mesma taxa oficial consolidada do desmatamento, para o período de 2012-2013, e nas taxas mensais de outro sistema, o Deter (Sistema de Detecção de Mapeamento em Tempo Real), que tem uma resolução menor e serve apenas para orientar a fiscalização do Ibama. Após ser acusado de adiar a liberação das informações para não prejudicar a campanha eleitoral de Dilma Rousseff, o governo informou no dia 7 de novembro que evitava divulgar as imagens de satélite para não favorecer quem desmata ilegalmente. Também, anunciou que vai divulgar os dados de Deter apenas a cada três meses: em novembro (dados de agosto, setembro e outubro), fevereiro (dados de novembro, dezembro e janeiro), maio (dados de fevereiro, março e abril) e agosto (dados de maio, junho e julho).

Cumprindo este novo calendário, no dia 28 de novembro o governo finalmente divulgou os dados do Deter referentes aos meses de agosto, setembro e outubro: No período, foram detectados alertas de desmatamento por corte raso (derrubada total) e por degradação florestal (destruição parcial) que somam 1.924 km², um índice 117% maior que no mesmo trimestre de 2013, quando foram detectados 886 km².

Dos quase 2 mil km² de alertas, uma área de 856 km² de desmatamento por corte raso, 1.000 km² de áreas sejam de degradação florestal, e 68 km² sejam de falsos positivos. Mato Grosso foi o estado com mais alertas de desmatamento entre agosto e outubro, com 729,09 km². O Pará foi o segundo, 514,72 km².

O Inpe reforçou que o Deter é voltado a orientar a fiscalização em campo para coibir o desmatamento ilegal, não para a medição precisa de área, já que é feito com imagens de satélite de resolução moderada e tem sempre uma margem de falsos positivos.

Diferenças entre sistemas – Existem diferentes sistemas de monitoramento do desmatamento da Amazônia. Todos eles são feitos por técnicos que observam imagens de satélite seguindo distintas metodologias. O Deter é produzido mensalmente pelo Inpe e, como é mais rápido, não se destina a medir áreas, mas detectar focos de derrubadas de floresta para que as autoridades de fiscalização sejam acionadas a tempo.

O diretor do INPE, Leonel Fernando Perondi explica que os sistemas estão passando por aperfeiçoamentos e que o Inpe já está testando imagens de um satélite de maior resolução que vai alimentar o que estão chamando de Deter B. “Será baseado no sensor AWiFS, que monitora polígonos menores que 25 hectares e detecta desmatamentos superiores a 6,25 hectares.” O novo sensor é capaz de discriminar desmatamentos por corte raso, corte seletivo e degradação florestal, por ter resolução de 60 metros (m) contra os 250 m de resolução do atual equipamento. Ele informou, também, que a formalização do uso desse novo equipamento só ocorrerá no final do primeiro semestre de 2015, mas há estão sendo feitos pilotos para monitoramento e captação de imagens que serão usadas no aperfeiçoamento do sistema.

Os índices oficiais de desmatamento são divulgados anualmente para o período de agosto a juho, pelo sistema Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal), que utiliza imagens de satélites Landsat, capazes de detectar corte raso (remoção completa da cobertura florestal) em áreas iguais ou maiores do que 6,25 hectares. O Prodes e o Deter são utilizados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Um outro sistema, chamado SAD (sistema de Alertas de Desmatamento), é feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), de Belém, também mensalmente, mas, por ser de uma ONG, não é reconhecido pelo governo. Os números desses três sistemas, por serem gerados com métodos distintos, não podem ser comparados entre si.

Apesar desta medição do Prodes referente a 2013-2014 ter apontado a queda de um período anual que já passou, é preciso cautela, já que os dados do Deter e do SAD referente aos meses seguintes à estimava do governo (agosto a outubro de 2014) apresentaram tendência de alta do desflorestamento em relação ao mesmo período de 2013. Essa subida é preocupante, mas ainda é cedo para cravar que o desmatamento oficial do Prodes para o período de agosto de 2014 a julho de 2015 será mais alto do que o ora divulgado  para 2013-2014.

TerraClass 2012 – No dia 26 de novembro também foram divulgados os resultados de um estudo relativo ao uso do solo das áreas desmatadas na Amazônia Legal, denominado TerraClass. O levantamento, atualizado a cada dois anos, começou a ser feito em 2008, e qualifica as áreas mapeadas pelo Prodes.

A área mapeada em 2012 teve um aumento de 43,5 mil km² em comparação com o primeiro relatório (TerraClass 2008). Para o TerraClass 2012 foram mapeados 751 km² (18,5% da área da Amazônia), que é o total de desmatamento monitorado pelo Prodes no período de 1988 até 2012. O estudo descarta as áreas de cerrado dentro do território da Amazônia Legal, e é feito em parceria com três ministérios. 

Para descrever a situação do uso e da cobertura da terra, o projeto TerraClass considera 12 classes temáticas: Agricultura Anual, Pasto Limpo, Pasto Sujo, Pasto com Solo Exposto, Regeneração com Pasto, Vegetação Secundária, Mosaico de Ocupações, Mineração, Área Urbana e Reflorestamento.

O estudo do TerraClass revelou que da área total da Amazônia desmatada até 2012 (751.340 km²), 60% foi convertida em pasto para o gado, ou seja, 450,8 mil km². Outros 23% vêm sendo regenerados, ou seja: terras desmatadas em processo de reconversão em floresta. E 5,6% dos desmatamentos viraram culturas agrícolas, principalmente soja. Ao todo, 18,5% da Amazônia já foram desmatados, uma área.

De 2008 a 2012 o total de áreas desmatadas em processo de regeneração (vegetação secundária = 113 mil km²) são 2,5 vezes maiores do que o total desmatado (44 mil km²) no mesmo período. 

“Tem três grandes resultados deste estudo: o primeiro é que houve uma redução da pressão da agricultura sobre a floresta nativa. Fica claro que das áreas desmatadas, a pastagem está transferindo área para a agricultura. A segunda mensagem preciosa é que 23% da área desmatada da Amazônia está em regeneração. A floresta está crescendo. E finalmente o fato de a área em regeneração ser 2,5 vezes maior do que a área desmatada nesse período”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

O estudo mostra que 78,6% da Amazônia continuam “em pé” (embora parte da floresta possa ter sofrido degradação por corte seletivo de árvores ou queimadas), cerca de 4 milhões de km². Dentre as 12 classes do levantamento, foi constatado que a maior parte do território desmatado, 46%, virou campo limpo, ou seja: pastagens em atividade. Por conta da presença de nuvens, 9% do território analisado não pode ser observado.

Considerando apenas os desflorestamentos ocorridos desde 2008 até 2012, 63% tornaram-se pastagem (17.515 km²), 19% vegetação secundária (5.424 km²) e 2% agricultura (513 km²).

O percentual de área ocupada pelas classes de pastagem apresentou uma pequena redução, mantendo-se nas edições mapeados pelo TerraClass (2008, 2010 e 2012) próximo de 60%. A área ocupada desta classe em 2008 era de 447 mil km², tornando-se 443 mil km² em 2012. Os estados do Acre, Rondônia e Tocantins são os que, percentualmente, mais destinam as áreas desmatadas para pastagem, com mais de 70% convertido para este tipo de uso. A classe de pastagem é a que mais cede área para agricultura ou para vegetação secundária.

As classes com maior aumento de 2008 a 2012 foram mineração e área urbana – crescimento de 7,5% e 6,9%, respectivamente. Já a classe mosaico de ocupações teve a maior redução, de 17,1%.

Também ocorreu um aumento da área de agricultura anual, passando de 35 mil km² em 2008 para 42 mil km² em 2012, representando uma taxa média de crescimento da ordem de 4%. Cerca de 70% das áreas agora mapeadas como agricultura já apresentavam este uso em 2008 – 12 mil km² foram convertidos para agricultura entre 2008 e 2012. Destes, a expansão agrícola ocorreu quase que exclusivamente sobre áreas de pastagem (80%) e de vegetação secundária (9%).

A partir do dia 2 de dezembro estará disponível na internet, uma plataforma com a base de dados do TerraClass, com a possibilidade de fazer combinações e cruzar dados também por estados e municípios.

Fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=730

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