“Tem muita importância ensinar novamente porque estão esquecendo muitas coisas. Eu aprendi com meus avós, com meus tios, que era grande rezador, conhecedor da natureza, então eu cheguei a conhecer muitas coisas com eles, tanto na parte espiritual como também na parte material – a medicina do mato, né. Estamos fazendo isso para deixar alguma coisa, porque não vou viver muito tempo mais. Então antes que meu corpo vá embora quero deixar alguma coisa para eles ainda”, Gwaíra, pajé.
Como colocou o pajé Guairá, essa cartilha fala da “medicina do mato”, aquela que os Tupi-Guarani aprenderam com a natureza e Nhanderú e que vem sendo transmitida de geração em geração. Mas que nos últimos tempos anda meio esquecida especialmente pela geração mais jovem.
A cartilha Ywyrá Rogwé/ Ywyrá Rapó: Djaroypy Djiwy Nhanémoã Nhanderekó Tupi Guarani (“Plantas e Raízes: Resgatando a medicina tradicional Tupi-Guarani) atende a um anseio colocado à Comissão Pró-Índio de São Paulo pelos professores indígenas da aldeia Piaçaguera (também conhecida como Ywy Pyaú), Luan Elísio Apyká e Dhevan Pacheco: publicar o resultado do trabalho que realizaram com seus alunos com o apoio dos txeramoi e das txedjaryi (mais velhos).
“Há alguns anos uma das crianças de nossa escola sentiu dor de barriga durante uma das aulas. Não tínhamos remédios para a ajudar e ninguém para ir buscá-los na cidade. Sem saber o que fazer lembramos que nhimbogwé wá regwá (Marcelinha) era usada antigamente para dor de barriga. Fizemos o chá com a planta e a criança melhorou.
Depois disso pensamos: na nossa aldeia há uma “farmácia natural”, não há motivos para dependermos somente dos remédios dos brancos e sempre correr atrás da Sesai. Ainda mais que nossos pais e os mais velhos sempre usaram as plantas medicinais.
Começamos, então, um projeto na escola durante as aulas de Tupi para que esse conhecimento fosse “resgatado”. Fizemos um convite para os mais velhos – cada semana vir um mostrar aquilo que sabia aos alunos da escola, que não conheciam nada das plantas, e mesmo os seus pais estavam esquecendo. E ao invés de levarmos as plantas para a sala de aulas, organizamos para as crianças acompanharem os mais velhos até elas, assim elas saberiam onde estão essas plantas. É o primeiro material produzido por nós a ser publicado dessa forma” , Luan Apiká e Dhevan Pacheco
Depois disso pensamos: na nossa aldeia há uma “farmácia natural”, não há motivos para dependermos somente dos remédios dos brancos e sempre correr atrás da Sesai. Ainda mais que nossos pais e os mais velhos sempre usaram as plantas medicinais.
Começamos, então, um projeto na escola durante as aulas de Tupi para que esse conhecimento fosse “resgatado”. Fizemos um convite para os mais velhos – cada semana vir um mostrar aquilo que sabia aos alunos da escola, que não conheciam nada das plantas, e mesmo os seus pais estavam esquecendo. E ao invés de levarmos as plantas para a sala de aulas, organizamos para as crianças acompanharem os mais velhos até elas, assim elas saberiam onde estão essas plantas. É o primeiro material produzido por nós a ser publicado dessa forma” , Luan Apiká e Dhevan Pacheco
A iniciativa visa resgatar e valorizar esse conhecimento tradicional. E é esse o sentido dessa publicação: lembrar os mais jovens da sabedoria dos Tupi-Guarani. E instigá-los a procurar os txeramoi e as txedjaryi e conhecer mais sobre a “medicina do mato”. Não se trata de um catálogo exaustivo das plantas conhecidas pelos Tupi-Guarani e, sim, uma pequena amostra desse vasto conhecimento, um ponto de partida para o aprendizado e reflexão.
O conteúdo da cartilha é produto de um trabalho coletivo dos professores, seus alunos, das pessoas mais velhas da aldeia Piaçaguera e da equipe da Comissão Pró-Índio de São Paulo. Nosso papel foi o de auxiliar na edição do material, promover o registro fotográfico das plantas e viabilizar o projeto gráfico construído pela equipe de designer juntamente com os índios, atividades realizadas com o apoio financeiro de Christian Aid, DKA Áustria e Size of Wales.
A Terra Indígena Piaçaguera
A Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul de São Paulo, é morada de cerca de 250 índios Tupi-Guarani. Distribuídos em cinco aldeias eles ocupam uma área de 2.790 hectares no município de Peruíbe. Piaçaguera foi declarada como terra indígena pela Funai em 2011, porém, até maio de 2014, o processo de demarcação ainda não havia sido concluído sendo necessária ainda a retirada dos ocupantes não – indígenas pela Funai.
A Terra Indígena Piaçaguera, no litoral sul de São Paulo, é morada de cerca de 250 índios Tupi-Guarani. Distribuídos em cinco aldeias eles ocupam uma área de 2.790 hectares no município de Peruíbe. Piaçaguera foi declarada como terra indígena pela Funai em 2011, porém, até maio de 2014, o processo de demarcação ainda não havia sido concluído sendo necessária ainda a retirada dos ocupantes não – indígenas pela Funai.
A demora na conclusão da demarcação é apenas um dos muitos problemas enfrentados pelos Tupi-Guarani em Piaçaguera. A terra é um território extremamente vulnerável pela proximidade da área urbana, pela existência de uma estrada de uso intenso, pelo fluxo de turistas e pelos impactos causados por mais de 50 anos de atividade minerária no interior de suas terras. Os Tupi-Guarani buscam alternativas para viver da forma que consideram ideal em um ambiente sujeito a muitas pressões e ameaças. A produção dessa cartilha faz parte dessa busca.
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/2014/06/13/lancamento-da-cartilha-folhas-e-raizes-resgatando-a-medicina-tradicional-tupi-guarani/
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