domingo, 20 de outubro de 2024

Pesquisadores brasileiros apostam no agave como alternativa sustentável para bioenergia no semiárido

 







Planta tradicionalmente usada na produção de sisal pode se tornar uma solução viável para a produção de bioenergia em regiões secas, onde a cana-de-açúcar enfrenta dificuldades devido às mudanças climáticas.

Em resposta às mudanças climáticas e à expansão das regiões semiáridas no Brasil, cientistas brasileiros estão apostando no agave como uma nova fonte de bioenergia. O gênero de plantas suculentas, que inclui mais de 200 espécies, é amplamente utilizado no México para a produção de tequila.

Entretanto, pesquisadores brasileiros veem no agave uma alternativa promissora à cana-de-açúcar, especialmente para áreas onde o cultivo desta se torna inviável devido à escassez de água.

A iniciativa foi apresentada recentemente durante a FAPESP Week Itália, destacando o potencial da planta para regiões semiáridas, que têm avançado a uma taxa de 7,5 mil quilômetros quadrados por ano no Brasil desde 1990.

Redução dos resíduos

agave
Agave usada para produção de tequila no México – Foto: Reprodução/Pexels

Segundo Marcelo Falsarella Carazzolle, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do projeto Brazilian Agave Development (Brave), ao lado de Gonçalo Pereira, o Brasil cultiva principalmente a espécie Agave sisalana, utilizada na fabricação do sisal. No entanto, apenas uma pequena parte da planta é aproveitada, gerando grande quantidade de resíduos. O novo estudo busca explorar o uso desses resíduos e outros componentes da planta para a produção de bioenergia, como etanol, biometano, bio-hidrogênio e biochar.

De acordo com Carazzolle, as folhas do agave, além de ricas em inulina, um tipo de açúcar, também possuem bagaço rico em celulose, ambos com potencial para geração de energia.

O agave, que demanda menos água e fertilizantes do que a cana-de-açúcar, pode produzir até 800 toneladas de biomassa por hectare em um período de cinco anos, o que torna a planta uma candidata viável para o cultivo em áreas com restrições hídricas.

Por outro lado, os desafios técnicos ainda são significativos. A levedura tradicionalmente usada na produção de etanol, Saccharomyces cerevisiae, não consegue metabolizar a inulina de forma eficiente. Para resolver essa questão, os cientistas brasileiros desenvolveram uma cepa geneticamente modificada capaz de realizar essa função. Além disso, novas cepas de levedura foram criadas para processar a xilose presente no bagaço do agave. Essas inovações tecnológicas já resultaram em patentes depositadas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Desafios técnicos

biomassa
Foto: Reprodução/Pexels

Outro desafio relevante está na busca por soluções que acelerem o crescimento da planta, considerado lento. A equipe de pesquisadores está desenvolvendo bioestimulantes que dobram a taxa de crescimento do agave, além de investigar outros compostos promissores.

Além das questões biológicas, o projeto também aborda a competitividade com ervas daninhas no semiárido. Para isso, foi criada uma planta geneticamente modificada que é tolerante ao glifosato, um herbicida amplamente utilizado no controle de pragas.

O objetivo final da pesquisa é viabilizar a produção de várias formas de bioenergia a partir do agave, ampliando o leque de soluções sustentáveis para a geração de energia em regiões afetadas pelas mudanças climáticas.

Com o avanço dessas pesquisas, o agave pode se tornar uma importante alternativa para a produção de bioenergia no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e ajudando a mitigar os impactos das alterações climáticas, especialmente em áreas mais áridas.

Fonte:

https://portalsustentabilidade.com/2024/10/17/pesquisadores-brasileiros-apostam-no-agave-como-alternativa-sustentavel-para-bioenergia-no-semiarido/

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