sábado, 10 de maio de 2014

Polinizadores “Made in Brazil”

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A boa experiência com biofábricas de predadores e parasitas de pragas agrícolascriou condições para o desenvolvimento de um novo produto – vivo e sustentável – oriundo da biodiversidade brasileiraabelhinhas sem ferrão para a polinizaçãode morangos, pepinos, melancias, açaís, tomates, berinjelas e o que mais for preciso. A polinização é extremamente importante para essas culturas. Sem os insetos, a quebra na produção pode variar entre 10 e 30%. Já com as miniauxiliares dá até para resolver problemas que hoje têm impacto na comercialização, como é o caso da deformação dos morangos.

“Fizemos experimentos em estufas e em áreas abertas de produção orgânica de morangos, onde o índice de deformação dos frutos era muito alto”, conta a biólogaKátia Braga, da Embrapa Meio Ambiente, de Jaguariúna, São Paulo. “Conseguimos reduzir bastante o índice de deformação só com a polinização feita pelas abelhinhasmandaguaris (Scaptotrigona depilis)”. A espécie foi eleita para os primeiros experimentos pela facilidade em se multiplicar e por sua rusticidade.
Até o final de 2015, Kátia espera ter elementos para elaborar um manual técnico demanejo dessas abelhinhas para a polinização, incluindo recomendações dos sistemas de irrigação mais compatíveis com a presença dos insetos nas lavouras e das regras para pulverizações ou outras atividades rurais. “Vamos indicar as práticas amigáveispara as abelhinhas, o que pode, o que não pode, quantas colmeias usar, como transportar, como fazer a distribuição no campo, como fazer o condicionamento das abelhas”.
Em relação à abelha europeia ou europeia africanizada (Apis mellifera), uma grande vantagem das espécies brasileiras é o fato de não terem ferrão e, portanto, oferecerem menos risco no manejo para polinização. Nestes casos, as colmeias são colocadas no meio das lavouras ou dos pomares, onde há circulação de trabalhadores (e nem todos sabem lidar com abelhas). Outra vantagem é o voo mais curto e menos dispersivo das abelhinhas brasileiras.
Essa nova possibilidade – de investir na produção em massa das abelhinhas nativas – deriva das pesquisas de biologia e manejo, iniciadas em 2004, pelo entomólogoCristiano Menezes, hoje pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, em Belém, Pará. As abelhas sem ferrão também foram objeto de sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP), com a orientação de Vera Lúcia Imperatriz Fonseca. Agora ele trabalha em parceira com Kátia Braga e com o engenheiro agrônomo Marcelo Poletti, da biofábrica Pomip, localizada em Engenheiro Coelho, São Paulo. Eles querem superar as principais dificuldades da reprodução em grande escala de mandaguaris.
O estudo conta com recursos do programa de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). E, nos estudos realizados no Pará, há também recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
“Um dos obstáculos é criar um ambiente em laboratório para a fertilização das rainhas”, explica Cristiano Menezes. “Atualmente ainda mantemos núcleos de fecundação na natureza para a realização do voo nupcial e cópula. Se conseguirmos desenvolver técnicas de controle da fertilização da rainha será possível fazermelhoramento genético e obter, por exemplo, abelhas mais resistentes a agrotóxicos”.
“Nossa ideia é associar o uso de polinizadores sem ferrão aos sistemas de manejo integrado de pragas com os quais já trabalhamos, de forma a oferecer ao agricultor um pacote tecnológico”, acrescenta Poletti. “Vamos oferecer as abelhinhas nativas como produto ou como serviço. Como produto, o agricultor compra os insetos, instala as colmeias e faz o manejo. Como serviço teremos uma equipe técnica para levar as colmeias às plantações na época da floração e cuidar da saúde das colmeias em campo”.
O “aluguel” de polinizadores já existe há muito tempo, com grande número de adeptos nos Estados Unidos e Europa. Mas a disponibilização de colmeias de abelhinhas sem ferrão é novidade. Quase todos os criadores dessas espécies brasileiras focam apenas na produção de mel e própolis. O serviço de polinização fica por conta da natureza quando – e se – existem remanescentes de matas nativas por perto.
Produzir abelhinhas em larga escala para suprir as necessidades da agricultura comercial pode contribuir muito para o aumento da produtividade na agricultura brasileira. E é totalmente compatível com a produção de mel e própolis para comercialização.
Para disseminar os efeitos positivos da criação de abelhas sem ferrão, Cristiano Menezes transformou os pequenos insetos em educadores ambientais. “Recebemos alunos de todas as idades, de 4 a 5 anos até adultos. Ou também vamos até as escolas, levamos as colmeias de observação. Damos cursos para os agricultores. Usamos as abelhas para fazer educação ambiental, ensinando a manter as matas onde elas se abrigam, a cultivar árvores e plantas que lhes servem de alimento. E assim mostramos como obter alguma renda extra e, ao mesmo tempo, como conservar a diversidadede abelhas nativas”.
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Fotos: Cristiano Menezes (mandaguari – Scaptotrigona depilis)
Kátia Braga (morangos mal formados por falta de polinização, à esq., e morangos polinizados por mandaguaris, à dir.)

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/biodiversa/polinizadores-made-in-brazil/?utm_source=redesabril_psustentavel&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_psustentavel_biodiversa

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