quarta-feira, 4 de agosto de 2021

O que é upcycle ou superciclagem e por que seu uso é defendido pela economia circular?

 






Upcycle ou superciclagem é o processo que reaproveita os materiais disponíveis nos produtos sem perda do seu valor ou da sua qualidade. Esses materiais são reutilizados no mesmo ciclo produtivo ou em cadeia de valor ainda mais alto.

O termo upcycle, ou upcycling, tornou-se popular como modalidade de transformação artesanal de materiais. Ou seja, a criação de objetos a partir de recursos descartados, como uma luminária de um escorredor de macarrão, um pufe com garrafas PET ou uma bolsa feita de calças jeans gastas, sem passar por um processo industrial de reciclagem.

Ainda que em muitos casos essa prática realmente gere novas cadeias de valor interessantes para materiais desprezados, o upcycle sobre o qual falamos na economia circular engloba o desenho inteligente de produtos e materiais desde o princípio. Está relacionado ainda com a manutenção da qualidade dos materiais dentro de novos ciclos industriais. Neste sentido, para concretizar uma economia circular, é preciso substituir o downcycle ou subciclagem, que é a reciclagem de hoje cuja característica está na grande perda de qualidade e recursos. O upcycle ou superciclagem torna-se assim a forma de reciclagem necessária para que os materiais se mantenham no máximo do seu valor através de diversos ciclos de uso.

Imagine transformar uma rede de pesca em um tapete. Ou seja, os recursos que fazem parte da rede descartada ou abandonada empregados na fabricação do tapete. É exatamente esse o trabalho da iniciativa Net-Works, que já coletou 142 toneladas de redes de pesca para superciclagem.

O náilon dessas redes leva em média 600 anos para se decompor. Esse produto, a rede, permaneceria mais de meio século causando problemas para o meio ambiente marinho, como sufocamento de peixes e tartarugas. Ao trabalhar com comunidades que ficam nos Camarões e nas Filipinas, a Net-Works altera o comportamento dos pescadores, que deixam de descartar ou abandonar as redes no meio ambiente. Os rendimentos da iniciativa também alimentam um banco comunitário, gerando acesso ao crédito para outros projetos da população.

Nesse caso, o náilon aparece como um “nutriente técnico”, ou seja, material ou produto projetado para retornar ao ciclo técnico, ao metabolismo industrial do qual provém, sem contaminar a biosfera. A televisão possui mais do que quatro mil produtos químicos. Alguns deles são realmente tóxicos, não podendo ser reaproveitados, mas outros são nutrientes valiosos para a indústria. Isolar esses recursos que gozam de imenso valor para que passem pelo upcycle fará com que eles conservem suas caraterísticas técnicas no mesmo ciclo industrial ou em um de qualidade superior.

Existe também o nutriente biológico, igualmente importante para o upcycle ou superciclagem. Trata-se do material ou produto projetado para retornar ao ciclo biológico, interagindo de forma benéfica com a biosfera. Deve ser, portanto, literalmente consumido por micro-organismos presentes no solo ou por outros animais. Algumas embalagens, por exemplo, poderiam ser projetadas para virar nutriente biológico.

Como você já percebeu, não há razão de frascos de xampu, tubos de pasta de dente e caixas de sorvete durarem mais tempo do que seu conteúdo, que se encerra rapidamente. Essas embalagens podem e devem ser desenhadas para se decomponham com segurança ou ainda para que sirvam como fertilizante, devolvendo assim nutrientes para o solo.

Independentemente do tipo de nutriente, técnico ou biológico, há uma certeza. O produto pode ser desenvolvido desde o início para que seus materiais continuem em algum desses ciclos. Mais do que isso: esses recursos podem ser pensados de forma a manter a qualidade técnica inicial.

Qual é então a concepção de produto ideal para upcycle ou superciclagem? Além do redesenho de materiais e componentes, essa resposta se relaciona com a alteração da lógica de consumo adotada há muito tempo. Na nova dinâmica, em muitos casos, saem de cena compra, posse e descarte de um produto para dar lugar à contratação de um serviço cuja tecnologia é renovada pelo fornecedor.

Você quer possuir os mais de 4 mil produtos químicos contidos em um aparelho de televisão ou assistir ao seu programa favorito? Você precisa possuir uma máquina de lavar para usufruir do serviço que ela proporciona ao limpar suas roupas? Em vez de comprar geladeira, televisão, celular, por que não adquirir a licença de uso? Nesse modelo, a empresa fornecedora garante ao cliente o serviço relacionado a determinado produto por um período definido em contrato. Esses produtos citados e muitos outros – carro, computador, geladeira, carpete, aparelho de ar-condicionado – contêm nutrientes técnicos de alto valor e importância que precisam ser reaproveitados da melhor forma possível.

Em uma economia enquadrada nessa nova lógica, as empresas projetam seus produtos para durar o máximo possível. Já na concepção do produto, elas facilitam ao máximo o processo de desmontagem com o objetivo de reutilizar indefinidamente os nutrientes técnicos. O resultado imediato é uma economia de bilhões de dólares em materiais valiosos por parte dos fabricantes, reduzindo assim a extração de matérias-primas do meio ambiente e a fabricação de materiais potencialmente perigosos – usados muitas vezes para alargar o ciclo de uso de um produto que não foi pensado para ser duradouro.

*em outras fontes, upcycle pode aparecer traduzido como “supraciclagem”, seguindo a tradução de Portugal. Em nosso trabalho de divulgação dos conceitos de design circular e cradle to cradle aplicados ao contexto brasileiro, preferimos utilizar o termo superciclagem. Acreditamos que ele transmita de forma mais intuitiva a superioridade desse tipo de transformação em relação à reciclagem – ou subciclagem – convencional.

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Fonte:

https://www.ideiacircular.com/o-que-e-upcycle-ou-superciclagem-e-por-que-seu-uso-e-defendido-pela-economia-circular/

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