sexta-feira, 27 de maio de 2011

EcoD Básico: Água cinza


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Água cinza é aquela proveniente do chuveiro, banheira, lavatório de banheiro e máquina de lavar roupas. É diferente da água negra, que é a usada em vasos sanitários e na pia de cozinha e contém algum tipo de coliforme fecal e bactérias com potencial patogênico. A água cinza pode ser coletada e reutilizada dentro de casa, de diversas formas, contanto que tenha a qualidade mínima requerida pelos padrões e normas sanitárias.
Devido aos seus usos prévios, essas águas são ricas em sabões, sólidos suspensos e matéria orgânica, como cabelos, sangue e sêmen, e podem possuir pequenas quantidades de bactérias. O Brasil ainda não possui normas e diretrizes que definam plenamente os conceitos, parâmetros e restrições ao reuso das águas reutilizadas em nível residencial, comercial e industrial.
Porém, de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), esgoto de origem doméstica tratado só pode ser reutilizado para fins que exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como irrigação dos jardins, lavagem dos pios e dos veículos automotivos, na descarga dos vasos sanitários, na manutenção paisagística dos lagos e canais com água, e na irrigação dos campos agrícolas e pastagens.
Por ter menores índices de matéria orgânica e bactérias e poderem ser tratadas com mais facilidade, as águas cinzas são as mais reutilizadas para outros fins em um residência e o retorno do investimento aplicado nos equipamentos do sistema virá em tempo consideravelmente menor.
Processos
Para reutilizar a água de uma residência ou centro comercial é necessário separar a água cinza da negra. Isso pode ser feito com a instalação de um equipamento de tratamento que prevê um sistema de irrigação adequado e direcionado.
As águas cinzas podem ser usadas nas residências a partir de dois processos distintos que variam basicamente pelo nível de complexidade do tratamento:
Irrigação por infiltração subterrânea
Nos casos de irrigação exclusivamente por infiltração subterrânea, estas águas não necessitam de praticamente nenhum tratamento específico. Somente os sólidos suspensos devem ser retidos, enquanto a água é armazenada corretamente e bombeada para a irrigação.
Irrigação superficial
Se for usada na irrigação superficial, retorno ao vaso sanitário ou lavagens de pátios, as águas cinzas de reuso devem ser necessariamente tratadas. Este tratamento envolve basicamente filtragem, retirada de odores e esterilização. Na irrigação superficial recomenda-se não usar a aspersão por spray, e sim o gotejamento. Nas lavagens aconselha-se tomar o cuidado de jamais irrigar áreas que possam ter o contato humano tais como calçadas internas, playground, dormitórios, cozinhas e refeitórios, dando preferência para as lavagens de garagens e acesso de automóveis.
A instalação desse sistema deve ser feito ainda na etapa da obra para se evitar despesas extras com troca dos revestimentos dos banheiros. Para tanto, é aconselhável o apoio de um profissional para fazer o projeto. Esse sistema irá reter partículas sólidas, óleos e gorduras, matéria orgânica e lodo orgânico. Após esses processos, a água já poderá ser utilizada para irrigação de plantas ornamentais e gramados.
O arquiteto sistêmico Mário Hermes Stanziona Viggiano lembra que o uso dessa água na descarga do vaso sanitário, chuveiro ou máquina de lavar roupas não é aconselhável. O uso da água cinza sem tratamento só é aconselhado em casos de irrigação subterrânea. Ainda assim ela deverá ser filtrada para evitar o entupimento dos aspersores da irrigação.
Importância e contexto
O reuso da água cinza tem se tornado vantajoso do ponto de vista ambiental, devido à diminuição da demanda por novas estações de tratamento de água e esgoto, e também econômica, já que reduz os gastos de água, podendo trazer retorno financeiro poucos anos após a instalação de sistemas de captura e tratamento.
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De acordo com Viggiano, a perspectiva de reaproveitamento das águas cinzas é uma novidade a nível mundial. Vários países processam estudos sistemáticos sobre o assunto, mas poucos são os que já possuem uma legislação com aplicações práticas pela população.
No Japão, mais especificamente na cidade de Tóquio, o reuso é obrigatório para prédios com mais de 30 mil metros quadrados ou com potencial de reuso de 100 metros cúbicos por dia.
Os Estados Unidos possuem uma vasta rede de informação sobre reuso das águas cinzas, tendo a matéria sido normalizada em vários estados. Em geral, as normas americanas direcionam o aproveitamento das águas cinzas prioritariamente para a irrigação subterrânea. No entanto, a utilização em irrigação superficial, retorno aos vasos sanitários e em lavagens é permitido em alguns casos a partir da aprovação de projeto em que são comprovadas as capacidades de tratamento do sistema utilizado.
Em geral as diretrizes para o reuso das águas cinzas nos Estados Unidos seguem normas genéricas como as publicadas pelo Departamento de Qualidade Ambiental do Estado de Arizona (The Arizona Department of Environmental Quality – ADEQ) 3 que afirma que as águas cinzas podem ser reutilizadas desde que:
• Sejam usadas na própria residência na irrigação dos jardins;
• Não permitam o contato humano com as águas de reuso;
• Não sejam utilizadas para irrigar árvores frutíferas e hortaliças;
• Não sejam lançadas nas águas de reuso, produtos químicos tais como óleos e graxas de automóveis, químicos de laboratório fotográfico e metais pesados oriundos de atividades artísticas como pintura e cerâmica;
• Seja instalado o sistema de reuso com um mecanismo de bypass que permita o direcionamento das águas para o esgoto doméstico;
• Na instalação dos tanques de acumulação, os mesmos devem possibilitar a restrição de acesso e serem tampados para evitar a proliferação de mosquitos;
• Todo o sistema deve ser instalado fora dos limites do piso da residência;
• Em caso de utilização de bombas, não permitir o compartilhamento do sistema com qualquer outro tipo de água potável ou não potável;
• Não reutilizar a água de tanques de lavagem ou máquinas de lavar roupa que sejam responsáveis pela limpeza de fraldas de bebes ou similares que possam conter coliformes fecais, outros tipos de bactérias e vírus;
• Não utilizar irrigação através de spray, priorizando o gotejamento e a irrigação subterrânea através de valas de percolação.
• Possibilitar a interrupção da utilização das águas de reuso no caso de incidência na residência de caso comprovado de doença por bactérias, vírus ou protozoários.
No Brasil, o LabCau (Laboratório Casa Autônoma de Arquitetura Sustentável) mantém uma pesquisa sistemática sobre o reuso das águas cinzas com o aprimoramento de sistemas que possibilitem a utilização das águas para fins não potáveis como irrigação, lavagens e retorno aos vasos sanitários. Diversos sistemas estão sendo pesquisados com o intuito de atender alguns setores da sociedade que possam vir a se utilizar dos processos tais como as lavanderias, lava-autos, postos de gasolina e condomínios.
Fonte: Site Águas Cinzas e Mário Hermes Stanziona Viggiano (arquiteto sistêmico e integrante do projeto Senado Verde).

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