quarta-feira, 20 de julho de 2011

Muito mais do que pegadas

destaques
A pegada ecológica e a pegada de carbono já não são termos exclusivamente utilizados por ambientalistas. Buscando representar em números os impactos que as ações e padrão de vida do homem contemporâneo têm no planeta, estes conceitos caíram no uso da maioria das pessoas, e definitivamente, podemos dizer que “entraram na moda”.
Poucos são indiferentes à curiosidade de saber quantas árvores serão necessárias plantar para que as suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) sejam compensadas. A ótima notícia sobre isso é que calcular a pegada de carbono de um cidadão, de uma empresa, de uma cidade ou de um país pode ultrapassar os limites da simples curiosidade; as pegadas se desenvolveram e aprimoraram para auxiliar a gestão e o planejamento estratégico relacionado ao meio ambiente em empresas, cidades e países, permitindo uma análise crítica da situação em que vivemos atualmente, bem como uma projeção segura dos riscos e oportunidades que teremos no futuro. Seja por meio de inventários de emissões, ou do cálculo da água virtual, conhecer e mensurar os impactos ambientais atrelados às suas atividades já é uma realidade da maioria das grandes empresas no mundo todo, e aqueles que estiverem cada vez mais familiarizados irão não apenas se destacar, mas também enfrentar melhor as mudanças e novidades que os novos modelos econômicos trazem para o mundo corporativo.
Por definição, a pegada de carbono é a medida dos impactos das atividades de uma pessoa, cidadão, cidade, estado ou país em toneladas de carbono. Ela pode representar, por exemplo, a quantidade de dióxido de carbono (CO2) um ser humano emite apenas realizando suas atividades diárias. Uma ida ao trabalho de carro, um movimento do interruptor de luz, uma viagem de ônibus, o transporte de carro até o trabalho, um vôo para fora do país, o “lixo” gerado na cozinha de casa, etc.
O conceito de pegada de carbono evoluiu da pegada ecológica, ou “ecological footprint”, uma ferramenta, criada pelo Global Footprint Network, que permite o cálculo de quantos planetas seriam necessários para a população humana viver através da transformação das atividades em impactos aos recursos naturais (terra). Em suma, o cálculo consiste em compreender quanta terra e água seriam necessários para atender os padrões de vida da população terrestre. A resposta para o mundo é 1,5 planeta. A resposta para os Estados Unidos da América é aproximadamente oito planetas, e no caso do Brasil, cinco planetas. A pegada de carbono representa 54% de toda a pegada ecológica.
Para saber quanta terra e água seriam necessárias para seqüestrar a quantidade emitida de carbono pela população, é essencial saber quanto é a emissão de GEE pela população. Por isso, a ligação entre pegada de carbono e inventário de emissões de GEE. O inventário de emissões é uma ferramenta de cálculo que permite que a empresa identifique suas principais fontes de emissões e onde estão os potenciais projetos de redução de emissões e as oportunidades para diminuição de suas emissões.
A relevância do inventário de emissões é alta, pois ele se tornou a base para quaisquer projetos e planos de ação no que se refere à gestão de carbono, não apenas numa empresa, mas também a nível nacional e internacional. Um bom exemplo dos benefícios da manutenção de um inventário periódico é o caso do período de consolidação do maior mercado regulado de carbono do mundo, o “European Union Emissions Trading Scheme” – EU ETS, que antes de informações exatas sobre as emissões de seus participantes definiu metas de emissões maiores do que eram necessárias, causando um desequilíbrio negativo para estagnação da comercialização de emissões. Da mesma maneira, notamos que muitas políticas brasileiras de mudanças climáticas, em especial a nível estadual, apresentaram metas de redução antes mesmo de se ter conhecimento sobre as principais fontes e quantidades de emissões do estado; é como estabelecer a si mesmo a meta de emagrecer 5 kg, sem saber quanto se pesa atualmente. Hoje, é possível observar um crescente movimento de municípios, estados e setores econômicos que buscam inventariar com cada vez mais detalhes suas emissões de GEE.
Com a conscientização dos principais atores sociais sobre o assunto veio também o amadurecimento das metodologias utilizadas pra elaboração dos inventários. A ISO, a mais importante instituição de normatização internacionalmente reconhecida, criou a norma ISO 14064, que apresenta diretrizes para a realização dos cálculos de emissões de GEE. No Brasil, além da ISO, as corporações orientam-se através do GHG Protocol, programa criado pelo “World Business Council for Sustainable Business” e do “World Resource Institute” e que hoje possui sua versão brasileira, gerida pela equipe de sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas.
Um inventário de emissões completo deve apresentar três escopos onde são calculadas, de acordo com fatores de emissões dados pelo IPCC, as emissões diretas controladas pela empresa, as emissões indiretas de aquisição de eletricidade e as emissões do famoso escopo 3, decorrentes de atividades da empresa que são produzidas em fontes que não pertencem ou não são controladas pela empresa.
Além do inventário de emissões, outro conceito que tem sido aprofundado é o “Water Footprint” ou, a pegada de água. Elaborada pelo professor da Universidade de Twente na Holanda, Arjen Y. Hoekstra, esta metodologia refere-se ao uso da água relacionado ao consumo de produtos e serviços dentro de um país.
Através de diversos estudos, eles comprovaram que a maior quantidade de água é utilizada na produção de commodities agrícolas – superior ao consumo nos setores doméstico e industrial. Assim, com o foco do estudo na fase primária de produção de culturas agrícolas pelos países produtores e das relações comerciais que existem entre os países que importam e exportam essas commodities, há a possibilidade de identificar a influência do comércio no uso de água de determinado país. Para isso, eles utilizaram o conceito de água virtual, criado pelo professor da King’s College de Londres John Anthony Allan, que se refere ao volume de água usada para produzir uma commodity e que está virtualmente inserida na mesma. A quantidade de água virtual é estimada através da quantidade de água utilizada para produzir determinada cultura agrícola em um país (m3/ha) dividida pela produtividade obtida nas mesmas condições (ton/ha).
É inegável que os conceitos de pegadas ecológicas evoluíram e trouxeram novas oportunidades para que nações, cidades e empresas conheçam o real impacto de suas atividades. As discussões em torno destas questões possibilitaram a criação de mercados de commodities ambientais de sucesso, como podemos observar com o mercado de carbono. Nunca antes se deu tanta importância a uma questão ambiental como no caso do aquecimento global, e sob um viés econômico, a precificação do carbono fez uma grande diferença e a possibilidade de se ter ganhos econômicos e não apenas perdas financeiras ao se cuidar de um passivo ambiental possibilitou a ação de países e empresas na busca pela redução de emissões. Para o Brasil existe uma gama de oportunidades ao se aprofundar o conceito de pegadas, por exemplo, a biocapacidade dos países. Rico em recursos naturais, nosso país tem hoje riquezas das quais poucos países desenvolvidos podem se gabar. Por isso, é importante aproveitarmos as novas oportunidades que o mercado traz, e utilizarmos ferramentas como inventários e água virtual a nosso favor, praticando um exercício importante de autoconhecimento.
fonte: http://www.plurale.com.br/noticias-ler.php?cod_noticia=11086

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