Relatório analisa consciência ambiental de empresas
Embora a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos estejam ganhando a atenção da indústria nos últimos anos, muitos setores ainda parecem desconsiderar os riscos e oportunidades associados com a preservação da natureza
Para satisfazer os exageros de consumo dos habitantes do planeta, empresas abusam dos recursos naturais de forma irracional e a cada dia nos aproximamos mais de uma crise que será provocada pela escassez de matérias-primas e serviços ecossistêmicos. Para tentar evitar esse cenário, ou ao menos se adaptar a ele, algumas companhias já estão desenvolvendo estratégias de conservação de biodiversidade e dos serviços ambientais (BES).
Entretanto, uma pesquisa intitulada Sustainable Insight – The Nature of Ecosystem Services Risks for Business (Visão Sustentável – A natureza dos riscos de serviços ambientais para empresas), revela que embora a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos tenham entrado em pauta nos últimos anos, muitos setores ainda não estão cientes da importância dessa questão, seja ambiental ou financeiramente.
O relatório, publicado recentemente pela consultoria KPMG, pela Flora & Fauna Internacional (FFI) e pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA IF), sugere que mesmo empresas de setores que estão sempre em contato com questões ambientais, como o da extração, da construção, do agronegócio e mesmo das finanças, não desenvolvem estratégias de preservação de BES.
Com isso essas companhias estão sujeitas a riscos dos mais variados tipos, que o estudo classifica como: riscos de reputação, regulamentares, operacionais, de responsabilidades jurídicas e sistêmicos. Segundo a pesquisa, esses riscos podem afetar a firma não só economicamente, mas também na sua imagem e credibilidade.
“A estabilidade financeira pode já ter sido afetada por fenômenos ambientais que se manifestam através de falhas e riscos no contexto da perda e degradação de ecossistemas”, declarou a PNUMA IF.
Neste panorama, a análise, que baseia em dados de estudos anteriores, não mostra dados muito positivos. Conforme a pesquisa, apenas 48% das empresas fazem avaliações de riscos e oportunidades em relação à BES. O relatório também aponta que os setores que apresentam maiores riscos à BES, tanto em termos de impacto quanto na maturidade em administrar a questão, são o alimentício, o de gás e petróleo e o de mineração.
No entanto, o estudo apresenta algumas informações que indicam que esse cenário tem potencial para mudar. Segundo a pesquisa, 44% dos executivos concordam que a sustentabilidade é uma fonte de inovação, e 39% veem a sustentabilidade como uma fonte de novas oportunidades comerciais.
Para combater os riscos relacionados à BES, o documento sugere que as firmas sigam algumas recomendações de ação corporativa, como identificar os impactos e dependências da empresa em relação à BES; analisar os riscos associados a esses impactos e dependências; desenvolver sistemas de informação e relatar resultados ligados a BES; tomar atitudes para evitar, minimizar, mitigar e compensar riscos a BES, entre outras.
Herman Mulder, diretor do grupo de gestão de riscos ABN-AMRO acredita que “as três principais áreas de interesse das empresas para identificar riscos relacionados à biodiversidade e aos serviços ambientais dizem respeito: 1) à necessidade das companhias de evitarem a pressão de mercado a curto prazo para considerarem um horizonte de longo prazo; 2) criar compromissos coletivos para essa questão; 3) gerar preferência no consumidor e refletir isso no valor da marca da sua companhia”.
“Deveria haver melhores informações e divulgação para mitigar os riscos dos investidores. As companhias que estão catalogadas nas nossas principais bolsas de valores deveriam ser, no mínimo, obrigadas a relatar como elas são dependentes dos serviços ambientais e como elas estão impactando esses serviços”, declarou Courtney Lowrance, diretora de gestão de riscos ambientais e sociais do Grupo Citi, no relatório.
Já Matt Hale, do Bank of America Merrill Lynch, recomenda que uma metodologia, ou uma série delas, sejam estabelecidas para medir os riscos de biodiversidade e de serviços ambientais das empresas. “Até lá, será difícil para as companhias desenvolverem formas de lidar ou compensar esses riscos”.
O estudo indica que caso as empresas optem por administrar esses riscos, estes poderão ser convertidos em oportunidades, como a diferenciação no mercado, a entrada em mercados ambientais e mercados para produtos certificados, abastecimento sustentável e contínuo etc.
Alguns exemplos de companhias que adotaram tais estratégias e se diferenciaram no mercado são apresentadas na pesquisa. Um dos exemplos é o da Natura, firma brasileira de cosméticos, que desenvolveu toda uma linha de produtos que utiliza sustentavelmente sua matéria-prima, ganhando diferenciação no mercado.
Outro exemplo citado no relatório é o da empresa de alimentos Häagen-Dazs, que desenvolveu projetos e campanhas de marketing alertando para a ligação entre a polinização, o mel e o desenvolvimento dos ingredientes de seus produtos, e assim também ganhou diferenciação no mercado.
Joshua Bishop, economista-chefe da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), defende que o principal objetivo do relatório é apontar formas de tornar as práticas sustentáveis de produção e a conservação da biodiversidade tão ou mais rentáveis que as práticas insustentáveis. “Ainda estamos longe disso, mas acho que alguns empresários e investidores estão tentando mostrar que isso pode acontecer e pode haver um bom progresso em alguns setores”, refletiu.
fonte: http://www.institutocarbonobrasil.org.br/?id=727985
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