terça-feira, 27 de setembro de 2011


Brasil: Superpotência agrícola, ambiental ou ambas?

O Brasil é, ao mesmo tempo, o líder mundial na expansão da produção agrícola e na mitigação da mudança climática. Estas posições de liderança podem entrar em choque se a expansão da agropecuária provocar uma nova onda de desmatamento.
Para Daniel Nepstad, coordenador do Programa Internacional do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a única opção sensata para o país é investir em um cenário onde as duas possibilidades se combinem.
O caminho de liderança nas duas frentes se torna mais importante dado o cenário global de altos preços de commodities. A taxa de crescimento global da demanda para alimentos, combustíveis, óleos, fibras e rações é maior que a taxa de crescimento da oferta dessas commodities, criando um aumento dos preços que vários analistas acham que vai durar muitos anos. “É, na verdade, uma tendência e não uma bolha, evidenciando mais um sinal de escassez de recursos naturais e de produção agrícola no nível mundial. E o mundo está contando com Brasil para tapar o buraco na oferta de commodities agrícolas”, disse o pesquisador durante o workshop “Diálogos sobre investimento em REDD+”, realizado dia 11 de agosto, em Brasília. 
O Brasil se encontra numa grande bifurcação. De um lado, existe o caminho de expansão agrícola de sempre, com a transformação da floresta amazônica e do Cerrado em novos campos agrícolas e pastagens. Do outro lado, existe o caminho de “baixas emissões” (de gases efeito estufa), com o aumento de produção gerado através da melhor utilização das pastagens que já existem. 
Para conquistar a trajetória agropecuária de “baixas emissões”, os planos do governo de controle de desmatamento precisam ser implementados ao mesmo tempo em que os incentivos são criados para promover a intensificação da pecuária e a expansão agrícola em áreas já abertas. Esse caminho é facilitado pela transformação dos mercados de commodities, que estão começando excluir produtos advindo de áreas recém desmatadas.  As “mesas redondas” de commodities, por exemplo, a “RTRS” para soja, a “Bonsucro” para cana-de-açúcar e a RSPO para óleo de dendê, estabeleceram critérios que restringem certificação de produtores que estão desmatando vegetação nativa. Os sócios dessas mesas redondas são responsáveis por 28% a 50% da produção global de cada commodity. 
Mas hoje, os produtores brasileiros estão encontrando dificuldades em cobrir os custos de certificação, principalmente aqueles custos associados com o a regulamentação ambiental: o restauro da áreas de preservação permanentes e da Reserva Legal. Nesse contexto, surge uma oportunidade importante: financiamentos públicos voltados para “REDD” (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação florestal”) poderiam ser disponibilizados para cobrir esses custos, criando um círculo virtuoso em que o Brasil tem um setor produtivo encaminhando para desmatar cada vez menos, reduzindo as suas emissões de gases efeito estufa e mantendo acesso aos mercados cada vez mais exigentes. 
Nepstad enfatizou que a transição do Brasil para o caminho das baixas emissões vai exigir muitos investimentos privados em melhorias e intensificação da produção. Essa canalização de investimentos vai ser possível, mesmo sem um mercado global de carbono que já valoriza a floresta em pé. Esse mercado vem sendo construído de uma maneira fragmentada, por exemplo, através dos acordos entre estados e províncias e o programa de mitigação de emissões da Califórnia.

Saiba mais: http://www.ipam.org.br/ipam/nepstad-brasil:superpotencia-da-expansao-agricola
fonte: http://www.ipam.org.br/revista/Brasil-Superpotencia-agricola-ambiental-ou-ambas-/321

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