sexta-feira, 7 de outubro de 2011


Brasil deixa de produzir até 3,6 mil GWh de energia todos os anos

Se acondicionada e aproveitada adequadamente, cada tonelada de resíduo pode gerar entre 50 e 60 KWh de energia elétrica l Foto: Carol Garcia/AGECOM

Foi com surpresa que a maioria da população recebeu a notícia da multa aplicada ao shopping Center Norte e a determinação de sua interdição em função das altas concentrações de metano decorrente da decomposição de lixo no subsolo. Isso porque a população desconhecia o risco a que estava exposta. Outro fato que também foge ao conhecimento público, mas que também deve causar espanto, é que esse mesmo gás que oferece risco de explosão pode ser utilizado para gerar energia elétrica.
Um levantamento realizado pela consultoria Andrade & Canellas revela que o Brasil deixa de produzir entre 3.050 e 3.660 GWh de energia todos os anos a partir do biogás gerado pela decomposição do lixo urbano em todo o País. Se acondicionada e aproveitada adequadamente, cada tonelada de resíduo pode gerar entre 50 e 60 KWh de energia elétrica. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em 2010 as cidades foram responsáveis pelo descarte de 61 milhões de toneladas de resíduos em lixões e aterros sanitários em todo o Brasil. Essa energia seria suficiente para abastecer até 18,3 milhões de casas, considerando o consumo médio residencial na faixa de 200 kWh por mês.
“O não aproveitamento da fonte é inaceitável tanto do ponto de vista estrutural, uma vez que a demanda por energia está em plena expansão, tanto pelo risco que ele oferece, já que seu acúmulo no interior de edificações eventualmente construídas sobre os aterros pode causar explosões”, alerta a gerente do núcleo de Energia Térmica e Fontes Alternativas da Andrade & Canellas, Monica Rodrigues de Souza. 
Para que o metano não se acumule e gere riscos, é preciso que o terreno onde o lixo é depositado possua um sistema de captação de gás. Uma vez nesse sistema, o combustível pode ter dois fins: a queima simples, que evita o acúmulo da substância e gera créditos de carbono na medida em que impede sua liberação na atmosfera (o metano causa 21 vezes mais efeito estufa que o gás carbônico), e a produção de energia por meio de motores a combustão interna. A maioria dos proprietários de aterros opta pela queima simples do gás ao invés de aproveitar o combustível para gerar energia, apesar de a atividade ser economicamente viável.
Com o objetivo de mudar esse cenário e aumentar a competitividade da fonte, o governo passou a oferecer desconto de 100% na tarifa de transmissão para a energia gerada por usinas desse tipo. Como resultado disso houve aumento no volume de insumo produzido a partir da molécula, a ponto dele poder ser comercializado em leilão, como aconteceu em 2006, quando o MWh foi comercializado pela São João Biogás a R$ 132,00 em valores da época.
Alguns dos obstáculos apontados pelos proprietários dos aterros para instalação de usinas a biogás é o alto investimento inicial, uma vez que eles alegam que os equipamentos são caros, e os custos elevados de operação e manutenção das plantas. A falta de linhas de financiamento específicas para projetos dessa natureza e a inexistência de políticas públicas voltadas especificamente para o setor também seriam gargalos que impedem a expansão do aproveitamento desse parque gerador. A inclusão de incentivos para esse tipo de geração nos Planos Nacional, Estadual e Municipal de Resíduos Sólidos é uma das sugestões para resolver esses problemas.
“A gestão de resíduos está sendo discutida nas três esferas de poder. Essa é uma ótima oportunidade para regulamentar ações de incentivo à instalação de usinas que permitam aproveitar o potencial de geração de energia a partir do metano. Não podemos nos dar ao luxo de ignorar essa fonte de energia”, completa Monica, da Andrade & Canellas.

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