segunda-feira, 7 de abril de 2014

Segundo ONU a população mundial vai precisar de 40% a mais de água em 2030



Por ocasião do Dia Mundial da Água comemorado em 22 de março, a Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que, em 2030, a população global vai necessitar de 35% a mais de alimento, 40% a mais de água e 50% a mais de energia. Em 2014 as celebrações giraram em torno do tema Água e Energia e a relação arraigada entre esses dois elementos.

Água e energia estão entre os desafios globais mais iminentes, segundo o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial e membro da ONU-Água, Michel Jarraud, em nota divulgada pela organização. Atualmente, 768 milhões de pessoas não têm acesso a fontes de água tratada, 2,5 bilhões não melhoraram suas condições sanitárias e 1,3 bilhão não têm acesso à eletricidade, de acordo com a ONU. Segundo Jarraud, outro agravante é que os lugares onde as pessoas não têm acesso adequado à água coincidem com aqueles onde não se tem acesso à eletricidade, mostrando, assim, o quanto os dois setores estão interligados.


Relatório das Nações Unidas de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos de 2014 (2014 United Nations World Water Development Report – WWDR), de autoria da ONU-Água, reforça a necessidade de políticas e marcos regulatórios que reconheçam e integrem abordagens sobre prioridades nas áreas de água e energia. O documento destaca como assuntos relacionados à água impactam no campo da energia e vice-versa. Um dos exemplos citados lembra que a seca diminui a produção de energia, enquanto a falta de acesso à energia elétrica limita as possibilidades de irrigação. Ainda de acordo com o relatório, 75% de todo o consumo industrial de água é direcionado para a produção de energia elétrica.

Lançado no dia 25 de março o relatório faz a revisão crítica da falta de coordenação e planejamento entre os dois domínios, e insiste na melhora da gestãoe do planejamento em todos os níveis, para se evitar a escassez de energia e de abastecimento de água, e assim como mais deterioração dos recursos naturais.

“Essa quinta edição do WWDR é um marco, como foi primeira edição anual. O novo formato do relatório responde à necessidade da comunidade mundial por uma publicação anual, factual e com base em evidências, com um foco temático que o liga ao Dia Mundial da Água. Eu gostaria de expressar meu profundo agradecimento à UNESCO, por liderar o Programa Mundial de Avaliação da Água (World Water Assessment Programme – WWAP), que tem coordenado a produção e a publicação do relatório. Estou muito satisfeito que as Nações Unidas, por intermédio da ONU-Água, sejam capazes agora de prover anualmente informações atualizadas sobre uma questão que se tornará ainda mais importante na criação de um futuro sustentável”, disse Jarraud.

No total, a produção de energia é responsável por cerca de 15% da retirada de água. Porém, essas taxas estão aumentando, e espera-se que, até 2035, o aumento da população, a urbanização e a mudança de padrões de consumo façam com que o uso da água para produção de energia aumente mais 20%. Espera-se que a demanda por eletricidade aumente para 70% até 2035, com mais da metade desse crescimento devido ao desenvolvimento da China e da Índia.

A redução dos recursos hídricos já está afetando muitas partes do mundo, e acredita-se que 20% de todos os aquíferos já estão sendo sobre-explorados. Em 2050, 2,3 bilhões de pessoas estarão vivendo em regiões sujeitas a graves faltas de água, sobretudo no Norte da África, na África Central e no Sul da Ásia.

O desafio de atender à demanda de energia poderá vir com o custo da redução dos recursos hídricos. Como aumentam as preocupações sobre os impactos, sociais e ambientais, das usinas térmicas e nucleares, os países estão tentando diversificar suas fontes de energia, buscando reduzir a dependência estrangeira e mitigar os efeitos dos preços flutuantes. Porém, todas as opções atuais têm suas limitações.

O cultivo de biocombustível, que requer um grande consumo de água, tem aumentado em larga escala desde 2000. A extração de gás de xisto também tem aumentado recentemente, sobretudo nos Estados Unidos. Porém, essa energia fóssil somente pode ser extraída por meio da fragmentação hidráulica, processo que requer grandes quantidades de água e apresenta o risco de contaminar os lençóis freáticos.

Fontes de energia renovável parecem ser menos prejudiciais aos suprimentos de água. Atualmente, a hidroeletricidade responde por 16% da demanda mundial de energia, e seu potencial é ainda pouco explorado. No entanto, a construção de usinas hidrelétricas pode ter impacto negativa na biodiversidade e em comunidades humanas.

Outras fontes alternativas de energia estão ganhando terreno. Entre 2000 e 2010, a energia eólica e a energia solar cresceram em todo o mundo, 27% e 42%, respectivamente. Porém, apesar de essas tecnologias requererem pouca água, elas fornecem energia de forma intermitente, além de necessitarem ser combinadas com outras fontes que requerem o uso de água. Sendo assim, apesar do progresso nas energias renováveis, o uso de combustíveis fósseis provavelmente permanecerá na liderança nos próximos anos. A Agência Internacional de Energia (AIE) espera que os combustíveis fósseis dominem pelo menos até 2035, seguido pelas energias renováveis.

O Relatório WWDR é um esforço colaborativo de 31 entidades das Nações Unidas e 36 parceiros internacionais que compõem a ONU-Água. Ele é coordenado e produzido pelo WWAP, programa desenvolvido pela UNESCO. Até 2012, o relatório era produzido a cada três anos, coletando dados relevantes sobre os recursos hídricos no mundo. A partir deste ano, o relatório enfocará um tema específico, e será apresentado anualmente no Dia Mundial da Água, cujo tema será o mesmo do relatório. Os eventos deste ano para o Dia são coordenados pela Universidade das Nações Unidas (UNU) e pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO), em nome da ONU-Água.

O Dia Mundial da Água foi instituído em 1992. Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, a data é referência para as discussões em busca de soluções para os conflitos existentes entre oferta e demanda de água ao redor do mundo.

Clique nos nomes para baixar os dois volumes do United Nations World Water Development Report (WWDR 2014): Volume 1: Water and Energy e Volume 2: Facing the Challanges.
As principais ameaças à qualidade da água no Brasil
A falta de tratamento de esgoto e a poluição oriunda da indústria e agricultura são as principais ameaças à qualidade da água no Brasil. Segundo levantamento da ONG SOS Mata Atlântica, a água é ruim ou péssima em 40% dos 96 rios, córregos e lagos avaliados em sete estados brasileiros. A pesquisa, divulgada por ocasião do Dia Mundial da Água (22 de março), mostra que a situação é preocupante no bioma da Mata Atlântica, principalmente em áreas urbanizadas.

Apenas 11% dos rios e mananciais foram classificados como bons – todos localizados em áreas de proteção ambiental e de mata ciliar preservada. Em 49% dos rios, a água é regular. A pesquisa foi realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Cantarina e Rio Grande do Sul.

Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), 76% dos corpos d’água apresentam qualidade boa; 6% foram classificados como ruim e apenas 1% como péssimo. Em áreas urbanas, a parcela considerada boa cai para 24%. As águas de qualidade ruim e péssima sobem para 32% e 12%, respectivamente.

Apesar de serem os principais centros de poluição, as cidades grandes possuem maior infraestrutura de saneamento básico, ressalta o professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG Marcos von Sperling. “A cobertura de saneamento das cidades pequenas é normalmente bem inferior às cidades grandes. No Brasil, um quarto dos municípios tem até cinco mil habitantes e são muito frágeis em termos de administração. E é até inviável do ponto de vista financeiro fazer o tratamento e cobrar por ele. São populações com renda familiar muito baixa”, afirma.

A ANA alerta para a falta de informação sobre a qualidade dos recursos hídricos no Brasil. A agência realiza o diagnóstico a partir de dados das redes estaduais, mas apenas 17 das 27 unidades da federação fazem o monitoramento da água. Outra dificuldade é que não há uma padronização no trabalho de coleta de dados. Segundo a agência, apenas 658 pontos de análise tiveram uma série histórica longa o suficiente para realização do estudo. Nestes casos, 8% apresentaram tendência de melhoria na qualidade da água e 5%, de piora.

Para diminuir a falta de informação, a agência lançou no dia 20 de março a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade das Águas (RNQA) , que deve padronizar os dados e procedimentos de coleta. O objetivo é subsidiar a definição de políticas públicas e a gestão dos recursos hídricos. “A qualidade da água hoje é insuficientemente monitorada. Não temos um retrato do país. São várias as entidades de gestão da água, públicas e privadas, em âmbito federal, estadual e municipal. Estamos nos adaptando a essa imensa fragmentação do sistema brasileiro”, defende Maurrem Vieira, especialista em recursos hídricos da ANA.

Os especialistas são unânimes em afirmar que o maior problema da qualidade da água no país é a falta de tratamento de esgoto. Mesmo com poucos dados disponíveis, a especialista em recursos hídricos da ANA Renata Bley diz que as tendências de melhora identificadas são “resultado, principalmente, de investimentos em coleta e tratamento de esgoto nas regiões metropolitanas”.

Apenas 37,5% do esgoto gerado no Brasil é tratado, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento(Snis), do Ministério das Cidades. A coleta é realizada para 48,1% da população. Um estudo do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, lançado no dia 19 de março, indica que o País está na 112ª posição de um ranking de 200 nações conforme o seu avanço na questão do saneamento, envolvendo água e esgoto. A chave para entender o ranking é seu Índice de Desenvolvimento do Saneamento, um número de zero (pior) a um (melhor). Leva em consideração tanto a cobertura do saneamento alcançado quanto a sua evolução recente. Ou seja, fica bem nele a nação que tem boas redes de água e esgotos ou as ampliou muito. O Brasil obteve uma nota baixa, 0,581, porque vai mal nos dois quesitos. 

Segundo o SNIS 81% dos brasileiros têm acesso a água tratada, porém só 46% contam com esgotos coletados. Pior, mesmo para essa minoria com ligação à rede coletora, apenas 38% dos dejetos são tratados em estações. Como ressalta o relatório Trata Brasil/CEBDS, mais grave é que o ritmo de expansão do saneamento na realidade caiu. Na década de 2000, as redes cresciam 4,6% por ano, mas de 2010 para cá, essa taxa encolheu para 4,1%.

Um dos principais problemas ambientais causados pelo esgoto não tratado é a falta de oxigênio nos rios. Os dejetos contêm matéria orgânica, que serve de alimento para bactérias. No processo, elas consomem oxigênio, baixando o nível do gás na água. Em regiões urbanas, é comum encontrar rios praticamente sem oxigênio, onde o odor é forte e a fauna aquática não consegue sobreviver.

Outra dificuldade recorrente é o crescimento exacerbado de algas em lagoas e represas, causado pela presença de nitrogênio e fósforo, que são nutrientes para esses organismos. “As algas mudam a coloração do corpo d’água e prejudicam bastante a qualidade”, afirma Marcos Von Sperling.

As principais causas de poluição, além do esgoto, são os lançamentos da indústria e da agricultura, que geram rejeitos químicos nocivos, como os agrotóxicos, por exemplo. Por fim, há a poluição difusa, cuja origem é difícil de verificar e pode incluir qualquer dejeto. “Vai desde o sofá velho ao cachorro morto, tudo vai parar nos córregos”, diz Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.

A falta de tratamento de esgoto tem consequências graves para a saúde pública do país. “Nos dejetos há diversos organismos patogênicos, como bactérias, vírus, protozoários e vermes, que causam uma série de doenças”, explica o professor Marcos Von Sperling. Ainda que o tratamento da água seja realizado corretamente, há outros usos dos recursos hídricos que podem disseminar doenças. “Se a pessoa nadar em um rio sujo, comer alimentos lavados ou irrigados com água contaminada, ela pode ser infectada”, lembra.

Segundo o estudo do Instituto Trata Brasil, foram notificadas 340 mil internações por infecções gastrointestinais no Brasil em 2013. Mais de 170 mil foram de crianças de até 14 anos de idade. A pesquisa aponta que a universalização do saneamento traria uma economia anual de 27,3 milhões de reais para os cofres públicos apenas com as internações.

A poluição dos rios e represas com esgoto e rejeitos químicos nocivos também pode afetar a qualidade da água que chega às casas. “O risco é sempre maior quando tratamos uma água bruta muito poluída”, defende Von Sperling. “As estações de tratamento de água não estão preparadas para o esgoto. São processos diferentes. Por isso, se o material é jogado sem tratamento em uma área de captação de água, pode sim haver problemas”, argumenta Pedro Mancuso, professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP. Além do risco para a saúde, a poluição encarece o tratamento de água, afirma Von Sperling. “Os processos convencionais se tornam insuficientes e é preciso empregar métodos mais caros”, diz.

Ainda que a qualidade da água varie muito no Brasil, inclusive dentro de uma mesma cidade, os especialistas consideram que ela é satisfatória. “Temos o primo pobre, que é o tratamento de esgoto, e o primo rico, que é o tratamento da água”, assegura Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica. Os estudiosos concordam que as caixas d’água são um ponto fraco do sistema, que não está presente em outros países, onde o abastecimento é feito direto da estação para as residências. Segundo eles, a água tratada é de qualidade, mas pode se deteriorar nos encanamentos e reservatórios das casas e edifícios.

fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=712

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