quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Obsolescência e economia criativa



Tenho um smartphone a pouco mais de um ano e estou percebendo que ele está dando pistas de que pretende deixar de funcionar. A princípio, é um aparelho novo, bem conservado, mas seus sinais apontam que já está com os dias contados. Certamente é sintoma do que se convencionou chamar “obsolescência programada”.
Para quem nunca ouviu falar, trata-se de uma estratégia da indústria para que seusprodutos tenham vida curta. A intenção por trás da tática é simples: satisfazer a necessidade urgente de manter a economia capitalista a todo vapor e alimentar o nosso vício de consumir novos produtos. Assim, mais se produz, mais se consome e a economia, em tese, sobrevive firme e forte.

O maior símbolo da obsolescência programada é a lâmpada. Explico: a tática de produzir itens cada vez menos duráveis não é de hoje. Nasceu lá nos anos 1920, para impulsionar uma economia debilitada por grandes crises. Naqueles anos, a recém-formada indústria de lâmpadas percebeu que se fabricasse produtos mais frágeis, as pessoas teriam que comprar mais.
Como efeito colateral dessa avidez em produzir e consumir, cresceu também a montanha já imensa de produtos eletrônicos descartados em todo o planeta. E está diminuindo velozmente a disponibilidade de recursos naturais usados para fabricá-los.
Acontece que as coisas estão mudando, para nossa salvação. Já existe gente inovadora percebendo que não é preciso usar uma estratégia tão desprezível para manter a economia aquecida. Essas pessoas estão abandonando o conceito de economia baseada em produtos, em benefício de uma outra, menos predatória e fundamentada em processos e serviços.
Tem sido chamada de “economia criativa”, com pessoas colocando a cabeça para funcionar em favor da inovação e da criatividade. Para isso, fazem bom uso da tecnologia, atribuindo valor econômico a novos produtos e serviços cada vez mais duráveis e necessários.
A economia criativa já se desenvolve em setores como design, artesanato, música, arquitetura, moda, editoração, softwares de lazer, entre outros. Aí entram novas atividades – que já estão aparecendo em quantidade e variedade – como as redes deempréstimos de carros e o chamado consumo colaborativo, baseado na troca de produtos entre pessoas. Ao contrário da velha economia, esta incentiva o saudável exercício do escambo, do empréstimo e do hábito de levar para a oficina aquele aparelho que quebrou, em vez de correr para a loja e comprar outro.
Para que essa nova economia tome forma e se sobressaia é preciso que a sociedade exija das empresas uma nova postura. As redes sociais são uma ótima ferramenta para exercer essa pressão. Aliás, a própria sociedade deve assumir uma nova postura.
Vou continuar com meu velho smartphone, até ele resolver não funcionar mais. Quem sabe consigo consertá-lo.

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