terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Ciência e tecnologia vão agregar valor a planta do Cariri usada pela indústria farmacêutica e de cosméticos


Foto: http://www.portalsaofrancisco.com.br


Padetec fornece tecnologia para criação de unidade de produção de rutina e outros derivados para exportação.
Manter a mata em pé tem mais sustentabilidade à medida que a contribuição do conhecimento científico agrega valor aos produtos vegetais. Um exemplo é o que acontece com o extrativismo da fava d’anta ou faveira (Dimorphandra mollis), espécie nativa da Família Leguminosae, praticado no Sul do Ceará, no Cariri. A região produz por ano cerca de 300 toneladas de Fava, da planta Fava D’anta, abundante na região e preservada pelo Ibama e pela comunidade de catadores locais reunidos em uma cooperativa. A árvore está presente cerrado e no nordeste brasileiro.

A cooperativa adquire a fava dos catadores, faz a sua secagem e vende o produto por um preço irrisório para empresas multinacionais que a transforma em rutina, substância exportada para o exterior, com lucros exorbitantes. Os catadores de uma associação em Jardim, no Ceará, fazem a coleta e vendem os frutos para a associação, que faz a secagem e repassa para uma indústria multinacional.

O preço médio pago pela associação por quilo de fava verde aos coletores é de R$ 0,28 . A Associação faz a secagem e repassa a fava seca para a indústria por R$ 1 o quilo. As empresas multinacionais que operam com este produto no Brasil fazem a transformação da fava d’anta em rutina, vendida no mercado internacional. O preço da rutina, em valores de 201l, tem tido aumentos sucessivos em função da demanda e hoje é comercializada por até U$ 30 o quilo.

Foto: Padetec
 O valor agregado pode ainda aumentar mais com a transformação de rutina para quercetina, cujo valor de mercado é de U$110,00 por quilo, a preços de 2012, informa Afrânio Aragão Craveiro, diretor presidente do Padetec. Existe uma forte demanda para este produto. Como o Padetec desenvolveu tecnologia para obtenção da rutina, através de extração aquosa, sem usos de solventes, gerou o interesse de montar unidade de produção da substância na região do Cariri, com a participação da Cooperativa de Catadores e Ibama e com o apoio da Prefeitura do Crato, Universidade Regional do Cariri (Urca) e Banco do Nordeste.

As vagens da fava d’anta apresentam alto rendimento de rutina: 100 gramas de pericarpo rendem oito gramas de rutina, substância largamente utilizada na indústria farmacêutica e de cosméticos. A planta, pelas suas características, se presta ao extrativismo sustentável, uma vez que apenas os frutos tem interesse econômico, fazendo com que os catadores preservem a planta, assinala Afrânio Craveiro.

Pelo método praticado hoje na região, as vagens são processadas totalmente, por trituração. A extração da rutina é feita com uso de solventes, principalmente metanol. O solvente é evaporado para obtenção de um extrato que sofre várias etapas de purificação. O processo visa eliminar impurezas até a obtenção do produto final, a rutina, com grau de pureza acima de 95%. Este produto é analisado por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (HPLC, sigla em ingles), embalado e comercializado nos mercados nacional e internacional.
Foto: Padetec
Afrânio Craveiro informa que o Padetec desenvolveu nova tecnologia de extração com água, em que elimina o uso de solventes tóxicos e inflamáveis. “Esta tecnologia agrega ainda mais valor ao produto final, uma vez que os importadores estão cada vez mais exigentes e evitando adquirir produtos que contenham resíduos de solventes”, assinala.

A convite das autoridades locais do Cariri, o diretor do Padetec realizou reuniões e proferiu palestras da região nos dias 10 e 11 de dezembro, com objetivo de sensibilizar a comunidade local para implantação de empreendimentos de base tecnológica, utilizando a biodiversidade. Segundo ele, esta nova unidade no Cariri vai permitir gerar renda agregando valor ao produto, de modo a remunerar melhor aos catadores, contribuir para preservação da espécie e gerar desenvolvimento sustentável para a agricultura familiar.

“Esta nova tecnologia permitirá um forte incremento na pauta de exportação da região, vai eliminar custo do transporte, gerar empregos e impostos no local, e vai viabilizar a produção de uma rutina sem usos de solventes”, afirma Afrânio Craveiro. A produção estimada é de até 24 toneladas por ano de rutina com faturamento previsto de R$ 1,44 milhão por ano. O diretor enfatiza que a rutina pode ser transformada em outros produtos de maior valor agregado, tais como quercetina e rhamnose, que estão com valor de mercado bastante elevado nos últimos anos e cuja tecnologia de produção o Padetec vem desenvolvendo.

Nas reuniões com a comunidade local, Pedro Augusto Carlos Monteiro, representante do ICMBio (Ibama), órgão encarregado da preservação da Floresta Nacional do Araripe, mostrou a importância do projeto para o desenvolvimento sustentável da Flona. Houve unanimidade dos presentes em relação à importância do projeto para a região, tendo a Secretaria do Meio Ambiente de Jardim colocado à disposição do Projeto um galpão disponível no Município para instalação da unidade, informa o Padetec no relatório da visita.

A presidente da Associação de Catadores de Fava de Jardim, Maria de Fátima do Nascimento Santos, também demonstrou ser favorável ao projeto e solicitou outra reunião com outras associações de catadores da região para garantir a disponibilidade de 300 toneladas por ano de Fava que asseguram a matéria prima necessária. Esta nova reunião foi marcada para o dia 18 de janeiro no mesmo local. Deverá ser firmado compromisso destas associações com o fornecimento de fava para a unidade de produção de rutina.

O diretor do Padetec avalia que a quantidade de fava exigida para o empreendimento, 300 toneladas por ano, ficou praticamente garantida nesta reunião. Existe um grande interesse, demonstrado por todos os presentes, que a unidade ficasse sediada em Jardim, onde se concentra a maior produção de Fava da região. Também o futuro secretário do Meio Ambiente do Crato, Stephenson Ramalho em reunião com Afrânio Aragão Craveiro e José Galberto da Costa, da Urca, colocou vários locais no município à disposição do projeto.

Foi remarcada uma nova reunião para o dia 18 de janeiro para visita aos locais disponíveis. Diante do sucesso dos contatos de sensibilização para instalação de novo empreendimento de base tecnológica no Cariri, com o apoio do Padetec e do Banco do Nordeste, o diretor prevê para os próximos meses a criação de nova empresa, formada por um Arranjo Produtivo Local (APL) para produção de rutina a partir da fava d'anta

 Os encontros foram realizados na prefeitura do Crato, Urca, Casa de Vigilância Santa Rita, Galpão, ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Cooperativa de Catadores e Ibama em Barbalha. Também participaram dos encontros Angélica Maria Leite Jorge, secretária do Meio Ambiente de Jardim; Francisco Antônio de Souza, representante dos catadores; Damásio Damião Pessoa, mateiro; e três observadores: José Antônio Pessoa, Antônio Damião Pessoa e Gilmário Agostinho dos Santos.

FONTE:desimbloglio.blogspot.com.br

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