Quando comecei a trabalhar com meio ambiente, era 1992, o ano em que foi cunhado o conceito de desenvolvimento sustentável, aqui mesmo no Rio de Janeiro, na Rio-92. Um conceito amplo, genérico, que se mostrou uma ótima alternativa para que continuássemos fazendo o mesmo que sempre fizemos desde a Revolução Industrial, com menos culpa. Esse conceito, tão abrangente, que quer dizer tudo e nada ao mesmo tempo, fez com que nenhum dos países reunidos na conferência se opusesse a essa brilhante alternativa, que calava a boca dos ambientalistas e cientistas, e permitia à sociedade continuar crescendo nos mesmos moldes de sempre.
O problema começou quando os impactos das mudanças climáticas começaram a ser percebidos no dia a dia das pessoas. Faziam-se necessárias medidas mais objetivas, com metas e medições. Passávamos do conceitual para o real. Foi exatamente neste ponto que a massa do bolo desandou: o Protocolo de Kyoto, assinado em 1997, foi uma tentativa de tornar reais as promessas feitas na Rio-92, mas só conseguiu ratificação em 2005, ou seja, oito anos depois. Este foi o primeiro sinal de que os países não estavam preparados para efetivamente pôr em prática a tão discutida agenda ambiental.
Hoje, 20 anos depois da Rio-92, o Protocolo vem se arrastando pelas areias do deserto, morto de sede, sob o sol escaldante. Depois de Doha, conseguiu sobreviver a duras penas até 2020. E, mesmo assim, ainda moribundo. Falta coragem para assumir que esse modelo, muito valioso há duas décadas, como primeiras tentativas para abrir os olhos da Humanidade quanto aos seus valores e dinâmicas, já não funciona mais.
O modelo atual da agenda ambiental é por si defasado e falido. No primeiro sinal de crise econômica, seja em casa, na empresa, no país ou no mundo, quem se preocupa com meio ambiente? Que valor isso tem se comparado com indicadores importantes como o PIB (que tem que crescer para sempre)?
É justamente aí que podemos e devemos mudar os rumos da nossa história na Terra. O Homem faz parte do meio ambiente e não o meio ambiente é parte da agenda do Homem. É imperativo que mudemos as dinâmicas de valores da nossa sociedade e que as questões ambientais estejam amalgamadas nas nossas decisões, não sendo apenas uma agenda paralela.
Não há soluções fáceis e nem imediatas. Mudanças profundas requerem medidas de longo prazo e, portanto, continuidade nas ações dos governantes e da sociedade em geral. Além disso, é fundamental uma coalizão entre países para que a solução seja global, pois, caso contrário, continuaremos com ações de resultados pífios, sem a escala necessária para mudar as dinâmicas atuais.
Infelizmente, o que vemos hoje é um retrocesso nas decisões conjuntas dos países. A tendência é de que cada país ou região estabeleça seus próprios mecanismos para mitigar as mudanças climáticas e alcançar a sustentabilidade. A semente plantada na Rio-92 ainda não deu os frutos que gostaríamos. Mas gerou mudas que podem ser replantadas.
Minha esperança é que meus alunos, que hoje se formam como fiz há vinte anos, consigam concretizar isso, tornando a nossa sociedade realmente sustentável, o que significa: continuar existindo.
Christianne Maroun é professora de Engenharia Ambiental da PUC-Rio.
fonte: ecodebate.com.br
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