sábado, 15 de dezembro de 2012

Instituto cria pontes entre doadores e organizações sem fins lucrativos


Por André Bürger, do Nós da Comunicação
casos e causos
Fazer sucesso no mercado financeiro é a meta de muitos estudantes de economia e administração. O executivo Marcos Flávio Azzi, de 39 anos, alcançou esse êxito em sua carreira, porém aos poucos foi percebendo que precisava "sair da relevância e ir para a significância" como ele próprio definiu a virada em sua vida. Vendeu sua empresa para o Banco Credit Suisse e, conversando com amigos, no Rio de Janeiro e em São Paulo, identificou que muitos de seus clientes gostariam de fazer doações financeiras para entidades do Terceiro Setor, mas tinham poucas informações sobre a área. "Percebi a necessidade de construir uma ponte que conectasse pessoas físicas a bons projetos sociais."

Com a proposta de prestar assessoria a indivíduos interessados em fazer filantropia, Marcos criou, em 2008, o Instituto Azzi, que mantém um canal aberto no site para que ONGs no Rio de Janeiro e em São Paulo apresentem seus projetos. Atualmente, o banco de dados da instituição possui mais de 500 organizações cadastradas.
Administrativamente, o Instituto se mantém graças a um fundo patrimonial independente criado por Marcos Azzi. Segundo ele, todo valor recebido para os projetos sociais é repassado diretamente para as ONGs.
Mais de 40 entidades já receberam investimentos de doadores por meio da parceria com o Instituto. Entre elas estão Médicos Sem Fronteiras, Instituto Ayrton Senna, Associação Pianoro, Fundação Abrinq, Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, Instituto Olinto Marques de Paulo e Pastoral Carcerária.
Segundo Marcos, quando um investidor procura uma área específica fora dos registros, o Instituto Azzi sai a campo em busca da entidade certa. "Muitas vezes é uma vontade específica, como apoiar projeto de inserção de ex-presidiários no mercado, por exemplo. Quando não conhecemos o projeto, pesquisamos no mercado e então fazemos esse contato."
As entidades não são apresentadas aos investidores a partir de escolhas aleatórias no banco de dados; todas são qualificadas levando em consideração quatro critérios: qualidade de gestão, solidez, transparência e potencial de impacto.

Um executivo no Terceiro Setor
Para Marcos uma das características trazidas do mercado financeiro, foi o pragmatismo no cumprimento de prazos e apresentação de ideias concretas de trabalho. "Se uma organização se propôs a oferecer um curso de dança para idosos, mas estiver deixando jovens e crianças se inscreverem, ela está errada. Por melhor que seja sua intenção, não foi essa a proposta original. Cobramos para que as ONGs cumpram o que propuseram".
Uma das características do Instituto é estar junto às comunidades carentes. "Hoje pela manhã estive no Cantagalo, aqui no Rio de Janeiro, amanhã estarei em Mandaqui, em São Paulo. Visitando esses locais conhecemos as reais demandas das pessoas", acredita Marcos. Mesmo que não gerem novos projetos, essas visitas servem de aprendizado. "O processo de conhecimento do Terceiro Setor é como um caracol. Quanto mais você vivencia essa realidade, mas informação é captada."
Uma das ações previstas para 2013 é visitar os locais com os piores índices de desenvolvimento humano da região metropolitana do Rio de Janeiro. "Não sei se teremos ONGs aptas a receberem investimentos nesses locais, mas precisamos sentir essa realidade."
A falta de transparência ainda é um entrave para que pessoas físicas façam doações. Anualmente, o Instituto Azzi convida pessoas físicas de alto poder aquisitivo para um café da manhã. No encontro deste ano, quando perguntados se doariam 1% do seu patrimônio líquido para o Terceiro Setor, 75% dos convidados disseram que sim. Entretanto, alguns responderam que não fazem doações, pois não têm tempo, não conhecem o setor e acham que falta credibilidade às ONGs. "Isso tem a ver com transparência. Com a ponte que criamos entre doadores e entidades, queremos mitigar esse sentimento."
Entidades beneficiadas em São Paulo
Há um ano e meio, o Instituto Azzi encontrou um investidor para a Associação Maria Helen Drexel (AMHD), organização civil que atende crianças e adolescentes do distrito de Santo Amaro, em São Paulo. Como explicou a gestora Roberta Lund, a entidade visa proporcionar assistência, saúde, educação e proteção para pessoas que tiveram seus direitos básicos violados ou ameaçados.
Em cada um dos seis lares, localizados na Zona Sul da capital paulista, podem morar até dez jovens. Cada lar dispõe de cozinha, banheiros e quartos separados para meninos e meninas, além de sala de estudos com computador. Nesses locais, a Associação fornece atendimento psicopedagógico e terapêutico. "Elas vão à escola e no resto do dia promovemos atividades extracurriculares, aulas de dança, informática, artes plásticas, esporte etc.", conta Roberta.
Como acontece regularmente com outros parceiros, a AMHD fornece ao Instituto Azzi relatórios de quanto foi investido. Recentemente, o apoio foi renovado por mais um ano. "A questão da transparência e prestação de contas é fundamental", diz Roberta.
Outra entidade que também conseguiu novos doadores graças ao Instituto foi a Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). Atuando há dez anos, a ONG foi criada por pacientes e familiares com o compromisso de fornecer informações e apoio aos portadores de câncer de sangue, como linfoma, mieloma múltiplo, mielodisplasia e leucemia. Além de indicar hospitais, oferecer apoio psicológico e suporte jurídico para esclarecer aos pacientes seus direitos, a entidade está constantemente em contato com órgãos públicos para garantir melhorias na legislação brasileira.
Com sede em São Paulo, a Abrale distribui cartilhas informativas, capacita médicos para ministrarem palestras e organiza pesquisas para entender as demandas dos portadores das doenças. "No âmbito das políticas públicas, participamos de reuniões mensais com o Ministério da Saúde, além de fazer parte do Conselho Nacional de Saúde", disse Sílvia Ferreira, responsável pela área de investimento social.
Localizada no distrito de São Luiz, também na Zona Sul paulista, e com filial em Córdoba, na Argentina, a Orpas - Obras Recreativas, Profissionais, Artísticas e Sociais visa promover a integração social por meio da arte, cultura e formação profissional. Por seu trabalho realizado desde 2005, a ONG foi reconhecida pelo Instituto Azzi para receber investimentos.
"Um dos nossos focos de atuação é oferecer aos jovens carentes intercâmbios para países como Finlândia, Noruega, Romênia e Argentina. A segunda dimensão é receber jovens que vêm ficar nas instalações da Orpas para trabalhar no desenvolvimento local", apresenta Daniel Neves, fundador da entidade. Mais de mil crianças já participaram das atividades da Orpas que vão desde aulas de artes, esportes e informática até oficinas de idioma e seminários.
fonte: plurale.com.br


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