quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Rio Salgado, a realidade em três momentos.

Por João José Anselmo dos Santos *
Fotos da Trilha realizada ao longo do Rio Salgado, em jun/08.
Fonte:  Acervo do professor Anselmo


Essa era a realidade em 2008. Essas fotos foram produzidas durante uma trilha realizada ao longo de 15 km do Rio Salgado, saindo do seu encontro com o Rio Jaguaribe até a ponte Piquet Carneiro (zona urbana do município de Icó - CE). Na época já era grande o nível de degradação ambiental observado, principalmente relacionado ao: desmatamento das margens, assoreamento de alguns trechos, lançamento de esgoto e grande volume de resíduos lançados no leito do mesmo. 

O problema referente aos resíduos ficou mais evidente na zona urbana do rio, onde se encontrou de tudo um pouco. O que chamou a atenção foi o volume de entulho de construção jogado as margens. Essa ação, na época, era fruto da atividade dos caçambeiros e carroceiros que retirava areia do leito do rio. Quase sempre essa retirada era associada à colocação de entulho, pois alguns desses indivíduos aproveitavam a viagem para levar o entulho e retirar a areia do rio. Um fato a salientar é que na maior parte desses casos de retirada de área ocorreram em locais não recomendados para retirada desse tipo de material, principalmente próximo a ponte Piquet Carneiro.
Outro fato também preocupante, com relação ao tipo de resíduo encontrado, diz respeito a vasilhame de agrotóxico. Isso ocorreu e continuar a ocorre devido ao fato de que alguns lotes, explorados com agricultura, ficarem próximo ao rio e ai os produtores lançam tudo que considera lixo no mesmo. 
Durante a trilha, tive a oportunidade de conversar com um desses produtores e observei que ele não possui nenhum preparo para manejar esse tipo de produto, apesar de ter conhecimento que o mesmo faz mal a saúde. Mesmo com a consciência dos danos que o produto faz, ele continua lançando ao rio. Essa realidade não é diferente dos demais.



 
 
 

 
Fotos da Trilha realizada ao longo do Rio Salgado, em jun/08.
Fonte:  Acervo do professor Anselmo


Fotos da margens do Rio Salgado, zona urbana, em 2008.
Fonte: Acervo do Professor Anselmo.

Em outubro de 2011, durante a realização de uma expedição com alunos de uma escola pública, ao um trecho do rio Salgado (prainha do Salgado) notei que a situação piorou. Na ocasião foi realizada uma coleta de lixo e dentre os vários tipos de resíduos foi encontrado lixo hospitalar. 





















Fotos da expedição realizada em um trecho do Rio Salgado (prainha do Salgado), em outubro de 2011.
Fonte:  Acervo do professor Anselmo

Em 2012 constatei que a situação do Rio Salgado de nada melhorou. Em janeiro de 2012 fui até a lagoa de estabilização do esgoto do município de Icó-CE. A mesma localizada a margem do rio, joga constantemente o produto oriundo da decantação do esgoto. O que chamou atenção foi a grande concentração de plantas aquáticas no local do rio de água parada e animais pastando bem próximo. Outro ponto a relatar é que mais ou menos um 60 m após o local onde o material decantado é lançado, tinha uma bomba captando água para irrigar um plantio de banana.






Fotos da Lagoa de estabilização do esgoto do município de Icó - Ce (jan./12)
Fonte:  Acervo do professor Anselmo

Já em dezembro de 2012, na área urbana, voltei ao mesmo local onde tirei fotos em 2008. A realidade é uma situação extremamente preocupante, o que se ver é uma verdadeira rampa de lixo as margens do rio. Uma novidade é a grande concentração de planta aquática, algo que não tinha, que provavelmente seja fruto de um processo de eutrofização. Esse processo é caracterizado pelo crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto aderidas. O principal fator de estímulo é um nível excessivo de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo. Com conseqüências indesejáveis desse processo, observadas em condição de água parada, destaca-se: diminuição do uso da água para recreação; frequente redução geral na atração turística devido a distúrbios com crescimento excessivo da vegetação; eventuais mortes de peixes; mau cheiro; mosquitos e insetos; e condições anaeróbias no fundo dos lagos.
Essa condição de eutrofização, provavelmente, seja produto da descarga de esgoto e criação de animais (porcos) no local. A liberação de despejos domésticos em recursos hídricos provoca o aumento da DBO (Demanda Básica por Oxigênio), que empobrece o meio aquático de oxigênio e provoca a morte dos organismos que precisam desse gás para respirar.
Salientando que, o Rio Salgado não é exclusivo do município de Icó, pois nasce no Crato-Ce, no Distrito do Lameiro, no pé da serra do Araripe, com o nome de Rio da Batateira. Sua bacia hidrográfica está espalhada por 23 municípios: Icó, Cedro, Umari, Baixio, Ipaumirim, Várzea Alegre, Lavras da Mangabeira, Granjeiro, Aurora, Caririaçu, Barro, Juazeiro do Norte, Crato, Missão Velha, Barbalha, Jardim, Penaforte, Milagres, Abaiara, Mauriti, Brejo Santo, Porteiras e Jati, com uma população estimada em 850.000 pessoas. Sendo assim Icó não é inteiramente responsável pela a situação de degradação que se encontra o Rio Salgado, mas a nível macro é mais um a poluir. 



Fotos de trecho urbano do Rio Salgado, em dez./12
Fonte:  Acervo do professor Anselmo

De modo geral, a questão ambiental com relação ao município de Icó é complexa, pois necessita de ações conjuntas de vários órgãos tanto públicos como privados, bem como da participação efetiva de cada cidadão, adotando em qualquer que seja a situação uma postura proativa em relação ao rio. A nível macro é necessário a formatação de uma política conjunta entre os municípios diretamente afetados pelo problema, algo com elaboração de leis, projetos de educação ambiental e construção de obras visando o bem comum das populações e do rio. 
O Rio Salgado pede socorro, temos que fazer algo. Você pode começar assinando e divulgando a petição SALVE O RIO SALGADO (https://secure.avaaz.org/po/petition/SALVE_O_RIO_SALGADO/)

(*) Engenheiro agrônomo, professor da Faculdade Vale do Salgado - FVS, Coordenador do Centro Vocacional Tecnológico de Icó - CVT de Icó e membro do Comitê da Sub Bacia Hidrográfica do Alto Jaguaribe. 


  


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