sábado, 22 de março de 2014

ONU alerta que até 2015 três bilhões de pessoas não terão acesso à água


Ribeirão da Catarina, rio que abastece a região da Serra do Rola Moça, que integra o Oásis Serra da Moeda – Brumadinho, uma das iniciativas de Pagamento por Serviços Ambientais desenvolvida pela Fundação Grupo Boticário.
Crédito: Xará Villela



Muito se tem falado sobre uma possível ‘crise da água’, mas qual o impacto disso para a saúde e a sobrevivência da população; e para a biodiversidade? E quais as causas e as soluções para essa questão? Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013 cerca de 770 milhões     de pessoas em quase todos os continentes do mundo não possuíam acesso a uma fonte de água potável. Se essa tendência de escassez continuar, fruto do mau uso dos recursos naturais, é provável que para o ano que vem as estatísticas sejam ainda piores, com três bilhões de pessoas vivendo em situação de falta desse recurso.
Para a administradora-adjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Rebeca Grynspan, são vários os fatores que influenciam para essa carência de água. “Além do fato de que o mundo experimenta um crescimento explosivo na demanda por recursos hídricos, existe também o desperdício de água e a poluição, que ameaçam cada vez mais a integridade dos ecossistemas aquáticos, vitais para a vida”, explica.
No caso brasileiro, a poluição das águas é uma realidade crítica. Esse é o resultado da análise divulgada em 2013 pela ONG SOS Mata Atlântica e que coletou informações de 30 rios das regiões Sudeste – a mais populosa do país – e Nordeste – a que mais sofre com a falta de água. A pesquisa revelou que nenhum deles estava em situação satisfatória de conservação, sendo que 70% foram considerados de qualidade regular e os outros 30% como ruins.
Segundo o engenheiro florestal André Ferretti, existe ainda outro elemento que contribui para uma potencial crise hídrica da qual o país pode estar se aproximando. “As mudanças climáticas alteram o ciclo da água, intensificando eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas”, explica.
Ferretti atua como coordenador de Estratégias da Conservação na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, ONG que possui iniciativas relacionadas à manutenção de recursos hídricos. Ele explica que a mudança climática está intimamente ligada com o desmatamento, pois as florestas nativas possuem grande importância na regulação do clima, sendo relevantes também no ciclo da água [veja no infográfico]. Para contribuir na manutenção da regularidade desse ciclo e para contribuir com a conservação de mananciais de abastecimento público, a instituição premia financeiramente proprietários de terra que mantêm áreas com vegetação nativa em suas propriedades, além do exigido por lei. Isso acontece por meio do Oásis, uma iniciativa de Pagamento por Serviços Ambientais (confira mais detalhes abaixo, em ‘Caminhos para a solução’).
Anfíbios já estão sofrendo
Em locais onde a pressão sobre áreas nativas é muito intensa, com prejuízo dos recursos hídricos, os efeitos já são sentidos pela biodiversidade. Segundo o pesquisador Michel Garey, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), a população de anfíbios já está em declínio em todo o mundo, sendo que uma das hipóteses para essa redução é a poluição dos ambientes aquáticos.
“Os anfíbios são muito vulneráveis, pois dependem intrinsecamente da água durante sua fase de girino. Algumas espécies chegam a depender dos riachos, lagos e lagoas durante toda a sua vida”, explica. Ele destaca que a poluição proveniente da agricultura, com o despejo de agroquímicos nos corpos d’água, ameaça a formação dos sapos, rãs e pererecas. “Com a contaminação da água os anfíbios têm má formação dos seus corpos, com patas a mais ou a menos, cegueira, podendo chegar até a morte, em alguns casos”, destaca.
Além dos anfíbios, outras espécies aquáticas podem sofrer, ou já sofrem, com a poluição das águas. É o caso da baleia-azul (Balaenoptera musculus), um dos maiores mamíferos aquáticos: em um único indivíduo dessa espécie já foram encontrados vestígios de diversos pesticidas, resultado da poluição dos mares pelo aporte das substâncias através dos rios. As tartarugas-marinhas também têm sofrido, principalmente a tartaruga-verde (Chelonia mydas), que já se encontra na lista das espécies ameaçadas de extinção. No Brasil, destaca-se a lontra-brasileira (Lontra longicaudis), que sofre tanto com as doenças causadas pela poluição das águas dos rios quanto pela escassez de espécies das quais se alimentam, as quais morrem por conta do habitat alterado. O peixe-boi-da-amazônia (Trichechus inunguis) é outro caso: a espécie também é vítima da ingestão de lixo que é jogada nos rios, o que provoca a morte da espécie, que está ameaçada de extinção.
Caminhos para a solução
Para impedir que essas e outras espécies, inclusive os seres humanos, sejam ainda mais prejudicadas, há algumas ações que podem ser realizadas. Ana Lúcia Brandimarte, bióloga doutora em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela pesquisa “Crise da água: modismo, futurologia ou uma questão atual?”, afirma que alguns dos problemas relacionados à água podem ser evitados com conscientização. “As pessoas têm acesso à informação, mas não interiorizam”, afirmou.
Ela destaca algumas medidas para ajudar a solucionar o problema da escassez de água. A primeira delas é a economia doméstica, que inclui ações simples, como reduzir a duração do banho ou fechar a torneira durante a escovação dos dentes, bem como consertar vazamentos rapidamente. O segundo caminho é o reaproveitamento, que deve ser feito antes que a água atinja a rede de esgoto, isto é, a água utilizada durante o banho pode ser reaproveitada para a descarga do vaso sanitário, assim como a água da chuva pode ir para a lavagem de calçadas ou para a rega das plantas, por exemplo. A terceira medida é a reutilização da água, quando a água é utilizada após ter passado por uma estação de tratamento, solução já usada em vários países principalmente para os processos industriais.
Além dessas dicas, outra solução que tem se mostrado bastante eficaz é o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), estratégia que estimula a conservação de ambientais naturais fundamentais para produção de água, o que é mais barato e mais saudável do que o tratamento pós-poluição. “A proteção da vegetação nativa garante a produção de água de melhor qualidade e em maior quantidade, direto na fonte, diminuindo a necessidade de passar por processos de tratamento”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.
Na iniciativa de PSA da instituição, o Oásis, os proprietários que protegem áreas de mata nativa em suas propriedades, além do exigido por lei, recebem uma premiação financeira. “Esse valor é variável de acordo com o tamanho da propriedade e com base em uma série de itens que calculam o estado de conservação e a capacidade das áreas de contribuir para a proteção dos mananciais”, destaca Malu. Ela ressalta que desse modo é possível proporcionar a reflexão e a mudança de comportamento daqueles que são responsáveis pela terra.
A Fundação Grupo Boticário atua desde 2006 com o Oásis, protegendo nascentes de água em quatro estados do Brasil (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais). Até o momento, 228 proprietários já foram beneficiados diretamente, contribuindo para a conservação de mais de 2.478 hectares de áreas naturais e de 743 nascentes. Indiretamente, cerca de oito milhões de pessoas se beneficiam dessa proteção, por utilizarem a água produzida nessas áreas.
fonte: http://www.fundacaogrupoboticario.org.br/pt/Noticias/Pages/ONU-alerta-que-at%E9-2015-tres-bilhoes-de-pessoas-nao-terao-acesso-a-agua.aspx?utm_medium=email&utm_source=IQDIRECT&utm_campaign=dia_da_agua+339070&utm_term=jjadsan@yahoo.com.br

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