quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Abramovay aponta economia regenerativa como novo movimento empresarial



Para ele, o desafio é fazer a empresa nortear cada decisão pela preocupação de regenerar os tecidos sociais e ambientais junto aos quais ela atua.
Apresentando mais um dos palestrantes da Conferência Ethos 2013, entrevistamos o economista Ricardo Abramovay, professor do Departamento de Economia e do Instituto de Relações Internacionais da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Pesquisador premiado na área de sustentabilidade, Abramovay também é um consagrado autor de análises sobre o tema.

Ele lançou seu livro Muito Além da Economia Verde na Conferência Ethos 2012 e, durante o evento deste ano, divulgará um estudo aprofundado chamado Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade Mais Próspera. Produzido pelo Grupo de Trabalho de Resíduos Sólidos do Instituto Ethos, o trabalho foi escrito por Abramovay, em conjunto com Juliana Simões Speranza e Cécile Petitgand, do Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa), da USP, e será lançado no dia 4 de setembro, às 18h00, nas dependências da Conferência, em atividade que é aberta ao público.
No dia anterior (3/9), o professor participará do painel “Os desafios para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos”.
Confira, nesta breve entrevista, a visão desse especialista sobre como incentivar modos de produção mais inovadores no país.
Instituto EthosMuitas empresas brasileiras vêm adotando melhores práticas em seu modo de produção. Como é possível ajudá-las a fazer frente à alta competição do mercado e, ao mesmo tempo, avançar na direção de ciclos sustentáveis?Ricardo Abramovay: São inúmeros os estudos mostrando que a inovação não é hoje a marca central da economia e, sobretudo, da indústria no Brasil. Nossa capacidade competitiva ainda não tem por base a expansão e a generalização da economia do conhecimento. O desafio é fazer da sustentabilidade o eixo decisivo da própria inovação. Isso se faz fora do Brasil muito mais do que aqui, inclusive quando se compara, em diferentes países, a atuação das grandes marcas globais.
IEO Brasil tem leis avançadas nas áreas social e ambiental, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos, por exemplo, aprovada e sancionada em 2010. Ainda há um longo caminho, contudo, até que isso se reflita de fato nas práticas existentes. Como o processo de passar da visão para ação pode ser acelerado?
RA: Os resíduos sólidos são um exemplo do contraste entre o que fazem as marcas globais no Brasil e nos países desenvolvidos. Estou lançando, na Conferência, um livro que resulta de estudo feito em cooperação com o Instituto Ethos e a Fundação Avina: Gestão de Resíduos Sólidos para uma Sociedade Mais Próspera. O trabalho mostra que as grandes marcas globais assumiram responsabilidade financeira direta pela gestão de embalagens não só na Europa, mas também nos Estados Unidos. Este será um fator de inovação com repercussões extraordinárias sobre toda a sua cadeia de valor: Temos de incorporar esses avanços, e a Política Nacional de Resíduos Sólidos abre a oportunidade para isso.
IEQual a importância para o Brasil de institutos e ONGs voltados para a promoção e o fortalecimento da responsabilidade socioambiental empresarial?RA: O grande desafio atual não é mais o de organizar a filantropia levada adiante pelas empresas ou o de imprimir transparência e inovação ao que fazem as ONGs. O avanço nessa direção foi grande e hoje essas atividades estão cada vez mais profissionalizadas. O desafio é fazer com que cada decisão empresarial seja norteada não só por provocar menos danos aos ecossistemas, mas, sobretudo, pela preocupação explícita de regenerar os tecidos sociais e ambientais junto aos quais a empresa atua. A ideia de economia regenerativa nasce em algumas ONGs globais e hoje já começa a se transformar num movimento empresarial.
IENa sua opinião, quais são e onde estão as melhores oportunidades ligadas a negócios sustentáveis e responsáveis no país?RA: Há três temas estratégicos nessa direção. O primeiro consiste em responder de forma eficiente à imensa demanda por bens públicos e coletivos que emergiu nas jornadas de junho. O brasileiro conquistou renda, mas ainda não conquistou saneamento básico, saúde, educação e mobilidade de qualidade.
O segundo é a mobilidade: da mesma forma que em outros países, precisamos passar da oferta de veículos automotores à oferta de mobilidade. Isso não pode depender só do governo.
O terceiro tema é expresso no desafio colocado pela saudosa Bertha Becker: temos que passar de uma economia da destruição para uma economia do conhecimento da natureza.
E o Brasil tem tudo para ser a potência socioambiental do século XXI. Mas isso supõe o desenvolvimento de capacidades empresariais voltadas à valorização do imenso leque de produtos e serviços ecossistêmicos que podem ser oferecidos pela floresta em pé. Infelizmente, ainda estamos longe do equacionamento desses três objetivos estratégicos, apesar das imensas oportunidades empresariais a que eles podem dar lugar.
Por Neuza Arbocz, para o Instituto Ethos

Nenhum comentário:

Postar um comentário