domingo, 9 de junho de 2013

Carta de um suicida, crônica de Paulo Sanda

planeta 'doente'
Será a pulsão de tânatos?
Afinal segundo Freud, tenho esta danada pulsão de morte dentro de mim.
Mas também há a pulsão de eros, por esta eu deveria ter prazer, buscar o prazer de viver. Aliás isto já quer dizer alguma coisa não?
Bom, no berço onde nasci nem sou dos mais velhos, aliás sou um caçula.
Mas eu cresci, me desenvolvi e superei todos que vieram antes de mim.

Parece que foi ontem, quando ainda desajeitado, de quatro, era frágil em comparação com a força e agilidade de meus irmãos. Minha mãe não deixava faltar nada, mas ela tinha que ser justa, e não podia me superproteger, não seria justo.
Mas eu fui esperto, engenhosamente fui subvertendo minha mãe e com isto superando e subjugando meus irmãos. Então não teve para ninguém! Me tornei o senhor absoluto de minha mãe!
Quer dizer, quase apesar de minha engenhosidade e sagacidade, ela vez por outra ainda me surpreende, e quando isto acontece, vixe sai de baixo, apanho feio.
Sabem como cheguei a este ponto? O de ser o senhor de minha mãe?
Bom, é uma longa história, por isto vou ter que encurtá-la pois não me sobra muito tempo.
Desde cedo como já disse, minhas ambições foram grandes.
Mas um dia descobri uma substância que multiplicava enormemente minha força, comecei a usá-la e não parei mais. Com ela eu pude ser mais forte e veloz que qualquer outro de meus irmãos.
Usando esta substância, derrubo e corto irmãos dezenas, centenas de vezes mais fortes que eu.
Por que eu faço isto? Bom, para me alimentar, e também por prazer.
Aliás não é apenas uma substância, mas várias, a primeira era uma pedra preta, depois um líquido grosso e negro também, mas hoje são muitas, aliás deixaram de ser apenas substâncias, tenho uma fonte enorme de energéticos, que me deixam cada vez mais forte.
Mas ai que está o problema, eu fiquei forte, cresci mais do que qualquer outro, só que estou viciado. Sei que o próximo “trago” será o fim, mas não posso deixar de fazê-lo.
Com meu vício destruí minha mãe, não tenho mais alternativa pois sem ela eu não vivo.
Meu nome? Humanidade.
Minha mãe, Gaia, mais conhecida como Terra.
Meus vícios, começaram com o carvão, petróleo, agora destruo minha mãe por energia elétrica, álcool, urânio, etc. Enfim qualquer coisa para garantir meu vício em energia.
Mas agora, já tendo ultrapassado 400 partículas de dióxido de carbono por milhão, a próxima tragada será a última. Deixo então esta carta, para o próximo que vier depois de mim, como um testamento, pois sei que minha mãe vai se recuperar, ela vai sobreviver a mim. Minhas histórias estão gravadas em incontáveis páginas, conheça-as e não cometa o mesmo erro.
Paulo Sanda é Teólogo, palestrante, idealista, associado da ONG RUAH, é um dos coordenadores do Portal Palavra Aberta.
 fonte: ecodebate

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