
Entrevista com Esther Vivas, pesquisadora em políticas agrícolas e alimentares
- É possível outro modelo de consumo?
O modelo atual é baseado no consumo de alimentos quilométricos e com um impacto ambiental muito negativo. Dispensa o conhecimento camponês e cada vez mais comemos alimentos similares, pouco diversificados, que nos fazem mal. A combinação desses fatores faz com que devamos considerar uma alternativa alimentar totalmente antagônica à que existe atualmente e que se baseie nos princípios da soberania alimentar.
O modelo atual é baseado no consumo de alimentos quilométricos e com um impacto ambiental muito negativo. Dispensa o conhecimento camponês e cada vez mais comemos alimentos similares, pouco diversificados, que nos fazem mal. A combinação desses fatores faz com que devamos considerar uma alternativa alimentar totalmente antagônica à que existe atualmente e que se baseie nos princípios da soberania alimentar.
- Em que consiste?
Em devolver às pessoas a capacidade de decidir sobre o que comer, que os camponeses tenham terra para trabalhar, e que nas políticas agrícolas e alimentares prevaleçam as necessidades das pessoas ao invés dos interesses da indústria de alimentos. Concretamente: apostar numa alimentação de proximidade, local, optando pela proximidade com o poder, local, camponesa, ecológica, sazonal.
Em devolver às pessoas a capacidade de decidir sobre o que comer, que os camponeses tenham terra para trabalhar, e que nas políticas agrícolas e alimentares prevaleçam as necessidades das pessoas ao invés dos interesses da indústria de alimentos. Concretamente: apostar numa alimentação de proximidade, local, optando pela proximidade com o poder, local, camponesa, ecológica, sazonal.
- Você fala em alimentação quilométrica. É lógico ter maçãs da África do Sul e que as daqui tenham que ser exportadas ou inclusive, algumas vezes, apodreçam nas árvores porque não produzem o numero suficiente para colhê-las?
Não. É mais um exemplo de que este sistema não funciona. E que só serve aos interesses do agronegócio, que deslocaliza a produção para ganhar mais dinheiro explorando as condições precárias dos camponeses no sul. Além disso, a crise energética terá um impacto direto na forma de nos alimentar. A própria crise econômica e energética está nos dizendo que precisamos de uma mudança radical de modelo.
Não. É mais um exemplo de que este sistema não funciona. E que só serve aos interesses do agronegócio, que deslocaliza a produção para ganhar mais dinheiro explorando as condições precárias dos camponeses no sul. Além disso, a crise energética terá um impacto direto na forma de nos alimentar. A própria crise econômica e energética está nos dizendo que precisamos de uma mudança radical de modelo.
- Que parte da culpa é do consumidor?
Muitas vezes tentam nos culpar como consumidores. E, obviamente, é preciso repensar nossas práticas de consumo. Mas há uma responsabilidade política neste modelo. O capitalismo impõe uma sociedade de consumo. As mercadorias são produzidas a partir da criação de necessidades artificiais, que antes não tínhamos, e através da obsolescência programada, projetando os produtos para que se estraguem depois de um tempo para que se tenha que comprar um novo.
Muitas vezes tentam nos culpar como consumidores. E, obviamente, é preciso repensar nossas práticas de consumo. Mas há uma responsabilidade política neste modelo. O capitalismo impõe uma sociedade de consumo. As mercadorias são produzidas a partir da criação de necessidades artificiais, que antes não tínhamos, e através da obsolescência programada, projetando os produtos para que se estraguem depois de um tempo para que se tenha que comprar um novo.
- Os escândalos alimentares que ocorreram nos últimos anos irão ajudar a população a tomar consciência do que come?
Casos como a doença da vaca louca, a gripe aviária ou a carne de cavalo põe em cima da mesa que não temos nem ideia do que comemos. Consequentemente, nos últimos anos, tem aumentado a demanda por produtos ecológicos e a participação em grupos e cooperativas de consumo. Mas são necessárias, também, mudanças políticas.
Casos como a doença da vaca louca, a gripe aviária ou a carne de cavalo põe em cima da mesa que não temos nem ideia do que comemos. Consequentemente, nos últimos anos, tem aumentado a demanda por produtos ecológicos e a participação em grupos e cooperativas de consumo. Mas são necessárias, também, mudanças políticas.
- Como por exemplo?
É imprescindível que se proíba os transgênicos. Na Catalunha e em Aragón é cultivado um tipo de milho transgênico que é proibido na maioria dos países europeus. Os transgênicos terminam contaminando outros cultivos no campo e é necessário que prevaleça o princípio da precaução. Também é essencial uma reforma agrária e um banco público de terras para acabar com a especulação e torne a terra acessível às pessoas que querem viver dignamente no campo.
É imprescindível que se proíba os transgênicos. Na Catalunha e em Aragón é cultivado um tipo de milho transgênico que é proibido na maioria dos países europeus. Os transgênicos terminam contaminando outros cultivos no campo e é necessário que prevaleça o princípio da precaução. Também é essencial uma reforma agrária e um banco público de terras para acabar com a especulação e torne a terra acessível às pessoas que querem viver dignamente no campo.
- Você desenha um cenário sombrio.
O sistema agrícola e alimentar está na UTI. O modelo atual não funciona e tem um impacto e consequências sociais e ambientais muito negativos. Ele está acabando com o campesinato, gerando fome num mundo de abundância de alimentos. São jogadas fora toneladas de comida diariamente, enquanto há milhões de pessoas passando fome. Os alimentos tornaram-se uma mercadoria, um instrumento de negócio.
O sistema agrícola e alimentar está na UTI. O modelo atual não funciona e tem um impacto e consequências sociais e ambientais muito negativos. Ele está acabando com o campesinato, gerando fome num mundo de abundância de alimentos. São jogadas fora toneladas de comida diariamente, enquanto há milhões de pessoas passando fome. Os alimentos tornaram-se uma mercadoria, um instrumento de negócio.
- Um negócio no qual os intermediários colhem os benefícios em detrimento do produtor.
As subvenções agrícolas beneficiam os grandes latifundiários e empresas do agronegócio, deixando os pequenos e médios produtores praticamente à margem. A diferença entre o preço na origem e no destino é em média de 400%, e são os intermediários e supermercados que ficam com o lucro.
As subvenções agrícolas beneficiam os grandes latifundiários e empresas do agronegócio, deixando os pequenos e médios produtores praticamente à margem. A diferença entre o preço na origem e no destino é em média de 400%, e são os intermediários e supermercados que ficam com o lucro.
- No entanto, cada vez mais pessoas tomam consciência e mudam seus hábitos de consumo.
Há experiências a nível local, como grupos de consumidores, redes de troca, hortas urbanas, mercados de agricultores …, que têm aumentado e que nos mostram que são possíveis outras práticas. Existem alternativas.
Há experiências a nível local, como grupos de consumidores, redes de troca, hortas urbanas, mercados de agricultores …, que têm aumentado e que nos mostram que são possíveis outras práticas. Existem alternativas.
- E você vê indícios de vontade política?
A maioria da classe política tem ligações estreitas com o poder econômico. É essencial, portanto, desmascarar essa ligação e exigir democracia real. Tomar consciência, nos mobilizar, desobedecer e mudar o sistema.
A maioria da classe política tem ligações estreitas com o poder econômico. É essencial, portanto, desmascarar essa ligação e exigir democracia real. Tomar consciência, nos mobilizar, desobedecer e mudar o sistema.
*Esther Vivas, Colaboradora Internacional do Portal EcoDebate, é ativista e pesquisadora em movimentos sociais e políticas agrícolas e alimentares, autora de vários livros, entre os quais “Planeta Indignado”. Esther Vivas é licenciada em jornalismo e mestre em Sociologia. Seus principais campos de pesquisa passam por analisar as alternativas apresentadas por movimentos sociais (globalização, fóruns sociais, revolta), os impactos da agricultura industrial e as alternativas que surgem a partir da soberania alimentar e do consumo crítico.
*Tradução ao português: Tárzia Medeiros.
+info: http://esthervivas.com/portugues/
fonte: ecodebate
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