quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cada brasileiro produzirá 8kg de lixo eletrônico por ano até 2015

A ONU afirma que há uma necessidade "urgente" de preparar os países para a "onda" mundial de e-waste
Nos últimos 20 anos, a indústria de eletrônicos tem revolucionado e facilitado o dia a dia das pessoas. Em estudo publicado em 2012, o Banco Mundial destacou que, sem esses produtos, a vida moderna não seria possível nos países industrializados. Conforme o relatório, além do uso nas residências, áreas como medicina, mobilidade, educação, saúde, comunicação, segurança e cultura fazem uso frequente desses equipamentos, que vão desde computadores pessoais, até brinquedos e TVs.
















































Na Ecoletas, os eletrônicos são separados e levados para reciclagem Foto: Kid Júnior

Mas a revolução digital trouxe consigo alguns problemas e um deles ainda está longe de ser solucionado: o lixo eletrônico está crescendo mais rápido do que qualquer outro tipo de resíduo. O aquecimento do mercado de eletrônicos e as constantes mudanças de tecnologia que deixam os produtos obsoletos cada vez mais rápido são alguns dos fatores para esse crescimento, segundo especialistas do Banco Mundial.

E os números são alarmantes. De acordo com estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado em 2009, no mundo, são produzidos aproximadamente 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. No Brasil, a estimativa aponta para uma produção que varia de 600 mil a um milhão de toneladas anuais de Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos (Reee), termo utilizado para definir os equipamentos que já não têm mais utilidade e são descartados.

De acordo com dados divulgados no estudo feito ano passado pelo Banco Mundial, a produção de lixo eletrônico (e-waste) no Brasil deve aumentar para 8 quilos/habitante por ano até 2015, superando os atuais 6,5 quilos. Conforme o documento, a Copa do Mundo e a exploração de petróleo na camada do pré-sal serão responsáveis pelo aumento ainda maior pela procura de aparelhos eletrônicos.

O relatório do Pnuma destacou a "urgente necessidade de preparar os países em desenvolvimento para a onda de resíduos eletrônicos". O Brasil, juntamente com o México e Senegal, produzem mais lixo eletrônico por pessoa do que os outros 11 países pesquisados.

Mas, a pergunta a ser feita é: para onde estão sendo destinados esses detritos, muitos deles compostos de metais pesados, como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo e que contaminam o lençol freático se forem jogados em aterros, poluem o ar se forem incinerados e podem trazer sérios problemas ambientais.

Segundo Marcos Bonanzini, diretor-geral da Ecoletas Ambiental, empresa com quase uma década de atuação no recolhimento e seleção de eletrônicos em Fortaleza, atualmente, o descarte da maior parte desses materiais ainda é feita em lixões, terrenos baldios, calçadas, rios e outros lugares inadequados.

Bonanzini salienta que a situação do mercado de reciclagem de eletrônicos no País é "preocupante". Segundo ele, 99% dos operadores são irregulares e pessoas que movimentam lixo eletrônico acham que estão fazendo a retirada dos produtos de forma correta. "Reciclagem de lixo eletrônico é coisa séria, exige licenciamento dos operadores, porém não há fiscalização dos órgãos ambientais".

O diretor da Ecoletas lembra que essa deveria ser uma "indústria de transformação", mas, segundo ele, operadores irregulares têm "canibalizado" os resíduos, retirando metais que tenham algum valor de mercado e destinando de forma errada o restante do material os quais contém metais pesados, como chumbo e mercúrio.

"Os  grandes geradores adoram este formato, acreditando que estão fazendo um bom negócio, e a falta de conhecimento da população no pós-consumo faz com que se destine os equipamentos à coleta publica", disse. Bonanzini alerta que o descarte irregular desses materiais na natureza pode causar danos irreversíveis ao meio ambiente e à saúde pública. Ele afirma que o cidadão deve cobrar das autoridades o cumprimento da legislação, como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Lei 12.305, que prevê a reciclagem adequada desses resíduos.

    Segundo Bonanzini, a Ecoletas recolhe cerca de dez toneladas por mês de produtos eletrônicos e faz a devida manufatura reversa, retirando, com segurança, os componentes dos equipamentos. Ele explicou que o trabalho tem como foco principal a linha verde (celulares e computadores), mas a empresa também recebe outros materiais. Os interessados devem enviar e-mail para ecoletas@ecoletas.com.br e receberão posteriormente instruções sobre como deve ser o procedimento para o descarte adequado.

Empresas verdes

Para auxiliar o consumidor nesse processo, anualmente, o Greenpeace divulga um ranking com as empresas de eletrônicos mais verdes no Mundo. Na 18ª edição do Guia do Greenpeace, publicada no fim do ano passado, as empresas de eletrônicos líderes em consumo foram avaliadas com base em três critérios ambientais: energia e clima, produtos mais ecológicos e operações sustentáveis.

A ONG destaca que todas as pessoas devem trabalhar para prolongar a vida de seus aparelhos eletrônicos, comprar produtos usados, e, por fim, só comprar o que você realmente precisa. "Os dispositivos mais sustentáveis são aqueles que você realmente não comprar". Na última edição do ranking, a empresa indiana Wipro Infosystem conquistou o primeiro lugar.

O conglomerado indiano marcou mais pontos e ficou na primeira colocação por seus esforços em desenvolver energias renováveis e políticas de energia mais verdes na Índia. A Wipro também avançou no que diz respeito à coleta de lixo eletrônico pós-consumo, reciclagem e retirada gradual de substâncias perigosas de seus produtos.

No mesmo ranking, a HP ficou na 2ª colocação e a Nokia em 3º. Já a gigante Apple teve uma ligeira queda com relação à edição de 2011, caindo da 5ª para a 6ª colocação. A RIM, fabricante do Blackberry, foi a última do grupo. Para Marcos Bonanzini, "o mercado de consumo verde é bem expressivo e o ranking pode ser um diferencial na comercialização de seus produtos, além de divulgar equipamentos mais sustentáveis e que são mais simples de reciclar", afirmou.

Programa

O diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, afirmou que, no Brasil, apenas 1% desse tipo de resíduo é encaminhado para a reciclagem. "O grande volume de todo esse lixo eletrônico ainda está guardado, armazenado, nas casas e escritórios para ser descartado no futuro. Esse é um fenômeno que a gente tem percebido em vários Estados do Brasil, quando as pessoas falam que têm um armário, uma gaveta, onde guardam esse material, para um dia entregar para um destino adequado".

A Abrelpe desenvolve um programa de sensibilização da sociedade sobre a necessidade do descarte adequado desses resíduos. "A perspectiva é de que, com a aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que obriga o estabelecimento a ter uma logística reversa para esses equipamentos e a conscientização da população, consigamos, num prazo de cinco a sete anos, acabar com esse passivo existente hoje no mercado", explica Carlos Silva Filho.

Fique por dentro
Quem são os principais geradores?
O lixo eletrônico é gerado por uma grande variedade de dispositivos, desde os eletrodomésticos até os pequenos dispositivos eletrônicos, como telefones celulares e outros equipamentos, como tablets.

As três principais categorias de geradores de lixo eletrônico são: usuários de processo (fabricantes); os usuários de varejo (famílias e pequenas empresas) e granel (grandes empresas, instituições de ensino, governos, etc); e fabricantes de equipamentos originais com resíduos descartados antes durante o processo de fabricação, devido a um defeito nos componentes.

A produção de resíduos também pode ocorrer ao longo da cadeia de abastecimento, desde os componentes individuais, os subconjuntos, até os produtos semiacabados.

Fonte: Banco Mundial

EMERSON RODRIGUESREPÓRTER 


fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1234632

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