As moscas varejeiras que pousam sobre animais mortos não estão apenas aproveitando a carniça – estão coletando amostras de seu DNA. Cientistas na Alemanha mostraram que esse DNA dura tempo suficiente para ser sequenciado, fornecendo uma imagem rápida e eficaz da diversidade de mamíferos em florestas tropicais, inacessíveis de outras formas.
Pesquisadores tropeçaram nessa sombria técnica de catalogação enquanto estudavam uma forma de antraz que mata chimpanzés na Costa do Marfim. Começaram com amostras de moscas para descobrir se os insetos abrigariam a bactéria do antraz depois de se alimentarem de corpos infectados, mas logo perceberam “que detectar o DNA de mamíferos nas moscas também poderia ser uma ferramenta extremamente útil para avaliar biodiversidade”, explica o líder da equipe, Sébastien Calvignac-Spencer, biólogo evolutivo do Robert Koch Institute, em Berlim.
Montando armadilhas e redes com carne, a equipe coletou moscas que se alimentavam de carniça do Parque Nacional Taï, na Costa do Marfim, e da Reserva Kirindy, em Madagascar, descobriu que 40% delas carregam DNA de mamíferos. Os pesquisadores sequenciaram esse material para identificar 16 mamíferos na Costa do Marfim, incluindo seis das nove espécies de primatas locais, bem como o Duiker de Jentink (Cephalophus jentinki) – um antílope ameaçado, com menos de 3.500 indivíduos restantes.
Em Madagascar, a equipe identificou quatro espécies de mamíferos – incluindo duas de lêmures – representando um oitavo de todos os mamíferos da ilha. O trabalho foi publicado em 7 de janeiro, na Molecular Ecology.
O DNA “não é perfeito, mas é usável”, observa Calvignac-Spencer. Sua equipe conseguiu recuperar fragmentos com várias centenas de pares de base – algo que seria mais difícil de encontrar em animais como os mamíferos, que têm intestinos muito mais eficientes na quebra de alimentos, com ácidos e enzimas. “Moscas têm sistema digestório muito menos sofisticado. Além de fornecer inventários, as moscas poderiam ajudar a rastrear o status de populações ameaçadas com muito mais eficácia que buscas ativas", declara.
O vírus Ebola, por exemplo, matou milhares de gorilas na República do Congo e no Gabão, dez anos atrás, mas o monitoramento ativo só encontrou 44 carcaças. “E eram gorilas!”, destaca Calvignac-Spencer. “Imagine como seria difícil monitorar mortes de morcegos ou roedores”, adiciona. “Moscas poderiam ser muito preciosas nesse contexto”.
“Essa é uma ideia extremamente simples, mas inteligente”, elogia Thomas Gilbert, geneticista da University of Copenhagen, que mostrou no ano passado que sanguessugas também podem preservar o DNA dos animais de que se alimentam. De acordo com Gilbert, a beleza do último estudo está no fato de que “moscas têm distribuição mais ampla do que sanguessugas. Elas podem fazer amostras que nós não podemos”. Nas sanguessugas, por outro lado, o DNA dos animais parasitados tem maior estabilidade e, portanto, dura mais do que nas moscas. “Na verdade esses métodos são muito complementares”, observa.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=670
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