Os governos são lentos. As negociações climáticas engatinham. Ações nacionais são pontuais e esporádicas. Estes problemas já são bem conhecidos de quem acompanha o noticiário sobre as mudanças climáticas, mas não é sempre que é possível provar estes fatos com números. Este é o grande mérito do Low Carbon Economy Index 2012, elaborado pela consultoria PwC, e que traz o grave alerta de que a meta recomendada por cientistas de se manter o aquecimento global em menos de 2ºC está praticamente impossível de ser alcançada. Ao invés disso, os compromissos assumidos até agora pelos líderes mundiais apontam que até o fim deste século estaremos vivendo em um planeta até 6ºC mais quente.
Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), uma elevação dessa magnitude nas temperaturas significa o aumento dramático da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, a extinção de milhares de espécies e drásticas transformações no nosso modo de vida.
“A realidade é muito mais desafiadora do que se pensava. Mesmo dobrando nossas atuais metas de descarbonização, ainda assim veríamos uma aquecimento de 6ºC em 2100. Parece altamente improvável que os governos consigam realmente manter o limite de 2ºC”, afirmou Jonathan Grant, diretor de sustentabilidade da PwC. Para alcançar os 2ºC, a consultoria afirma que seria preciso reduzir a intensidade de carbono na economia mundial em 5,1% ao ano durante os próximos 39 anos, algo que jamais foi realizado. Mesmo com um ano marcado pela crise internacional, que resultou na queda da produção industrial, a descarbonização da economia não foi muito significativa em 2011.
“Constatamos que em 2011 a intensidade de carbono caiu apenas 0,7%. É muito pouco e muito tarde. Não se trata de alarmismo, é uma questão de matemática. Estamos nos encaminhando para um território desconhecido, no qual não sabemos que tipo de transformações e inovações tecnológicas serão necessárias. De qualquer forma, vale destacar que continuar com o modelo atual (business as usual) não é uma opção válida”, declarou Leo Johnson, do departamento de Sustentabilidade e Mudanças Climáticas da PwC.
Em 2011, os países europeus foram os que registraram as maiores quedas em sua intensidade de carbono, com Reino Unido, Alemanha e França apresentando uma redução maior do que 6%. Mas a principal razão para isso foi o inverno ameno, que reduziu o consumo de energia, e, é claro, a crise econômica que assola o continente. Já os Estados Unidos apresentaram uma queda de 3,9%, também graças ao inverno com temperaturas altas e ao investimento na geração de energia com gás natural. A PwC sugere que o cenário futuro norte-americano é promissor, principalmente se a nova legislação de eficiência de combustível para automóveis for posta em prática.
A Austrália aparece como a grande vilã do índice, com um crescimento de 6,7% em sua intensidade de carbono em 2011 e um aumento de 8,7% nas emissões relacionadas ao setor de energia devido ao uso contínuo de termoelétricas à carvão. Os países emergentes também não aparecem muito bem. A China e a África do Sul seguem possuindo uma relação entre carbono e PIB altíssima, com, respectivamente, 754 tC02/2011$m e 781 tC02/2011$m. A líder neste quesito é a Arábia Saudita, com 817 tC02/2011$m.
O Brasil se destaca positivamente nesta relação, com apenas 197tC02/2011$m graças à sua matriz hidrelétrica. O país apresentou em 2011 uma queda de 1% em sua intensidade de carbono, porém o percentual relacionado com a geração de energia aumentou em 1,7%. Durante a última década, a média brasileira foi de uma redução de 0,7% e a taxa anual necessária para até 2050 é estimada em -4,1%.
Em 13 de novembro, o Instituto de Energia Renovável da Alemanha (IWR), que fornece consultoria para ministérios daquele país, também publicou um informe sobre esta temática, afirmando que as emissões globais de dióxido de carbono em 2011 atingiram novo recorde e subiram para 34 bilhões de toneladas, 2,5% a mais do registrado em 2010. “Se a tendência atual for mantida, as emissões mundiais de CO2 irão subir outros 20%, para mais de 40 bilhões de toneladas, até 2020″, afirmou o diretor do instituto, Norbert Allnoch.
Segundo o IWR, a China liderou a lista de países emissores em 2011, com 8,87 bilhões de toneladas de CO2, aumento em relação aos 8,33 bilhões lançados na atmosfera em 2010. A produção de dióxido de carbono na China foi 50% maior que as 6,02 bilhões de toneladas produzidas pelos Estados Unidos no ano passado. A Índia ficou em terceiro, na frente de Rússia, Japão e Alemanha. O Brasil é o 12º em emissão de CO2, segundo o ranking produzido pela IWR. O país liberou 488 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera em 2011, mais do que México (464 milhões), Indonésia (453 milhões) e África do Sul (452 milhões).
Em maio de 2012, a Agência Internacional de Energia havia afirmado que as emissões globais de CO2 cresceram 3,2% desde o ano passado. A liberação do gás na atmosfera havia subido para 31,6 bilhões de toneladas.
De acordo com análise do Global Carbon Project, co-liderada por pesquisadores do Tyndall Centre, da Universidade de East Anglia, as emissões globais de CO2 devem aumentar novamente em 2012, atingindo uma alta recorde de 35,6 bilhões de toneladas. Esta análise foi publicada no dia 02 de dezembro na revista Nature Climate Change, sob o título "The challenge to keep global warming below 2 °C".
A terceira edição do The Emissions Gap Report 2012 (algo como Relatório de Disparidade de Emissões 2012), divulgada no dia 21 de novembro, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), também demonstra que a meta de redução de emissão de gases de efeito estufa para 2020 não será cumprida. Ainda que todos os países do mundo decidam agora ser mais ambiciosos nas metas voluntárias e obrigatórias de redução de emissões de gases de efeito estufa, não será mais possível atingir o compromisso firmado em 2010, de evitar que a temperatura no mundo suba mais que 2ºC até 2020.
O relatório mostrou que a concentração de gases do aquecimento global pode ficar até 14% acima do nível definido como meta para 2020. Segundo o estudo, em vez de diminuir, a presença de gases como o dióxido de carbono está aumentando em torno de 20% na atmosfera, desde o ano 2000. De acordo com o levantamento, a distância entre a atual situação, o que os pesquisadores projetam como cenário para 2020 e o que os cientistas consideram como índices ideais, é cada vez maior.
Há dois anos, representantes de mais de 190 países se comprometeram, na África do Sul, com ações para conter o aumento da temperatura no mundo. Ao reconhecerem a necessidade de mudanças globais para minimizar problemas decorrentes das mudanças climáticas – como grandes enchentes e secas extremas, as economias concordaram em definir metas até 2015, que deverão ser colocadas em prática por todos os países signatários a partir de 2020.
Esse conjunto de metas foi chamado de Plataforma Durban e deve substituir o Protocolo de Quioto em oito anos. O acordo global, porém, segue ainda na teoria, sob ameaça de resistência ou dificuldade de países como Estados Unidos e China em modificar padrões como o da queima de combustíveis fósseis (responsável por mais de 60% das emissões dos países mais desenvolvidos). Além disso, muitas economias europeias ainda travam a definição de questões complexas, como a transferência de tecnologia e financiamento para que países mais pobres e em desenvolvimento consigam acompanhar as mudanças globais.
O estudo "Turn Down the Heat: Why a 4°C Warmer World Must be Avoided" (Diminua o calor: Por que um Mundo 4°C mais Quente Deve ser Evitado) lançado pelo Banco Mundial no dia 18 de novembro, advertiu que a temperatura global pode aumentar, até 2060, 4°C acima dos níveis do mundo pré-industrial se não forem tomadas ações imediatas. Caso isso não ocorra, deve haver consequências potencialmente devastadoras para cidades costeiras e países pobres.
A quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera atingiu um novo recorde em 2011, afirmou no dia 20 de novembro a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Entre 1990 e 2011 houve um aumento de 30% na força radioativa – o efeito do aquecimento sobre o clima – por causa do dióxido de carbono (CO2) e outros gases que retêm o calor de longa duração. Somente o dióxido de carbono já chega a 390,9 partes por milhão na atmosfera.
Desde o início da era industrial, em 1750, cerca de 375 bilhões de toneladas de carbono foram liberados na atmosfera como o CO2, provenientes principalmente da queima de combustíveis fósseis, de acordo com o boletim anual da OMM, que tem como foco especial o ciclo do carbono. Cerca de metade desse dióxido de carbono permanece na atmosfera, sendo o restante absorvido pelos oceanos e pela biosfera terrestre .
“Esses bilhões de toneladas de dióxido de carbono adicionais em nossa atmosfera permanecerão lá por séculos, fazendo com que nosso planeta se aqueça ainda mais e tenha um impacto sobre todos os aspectos da vida na Terra”, disse o Secretário-Geral da OMM, Michel Jarraud. “As emissões futuras só vão piorar a situação”. “Até agora, sumidouros de carbono absorveram quase a metade do dióxido de carbono emitido pelos seres humanos na atmosfera, mas isso não vai necessariamente continuar no futuro. Já vimos que os oceanos estão se tornando mais ácidos como resultado da absorção de dióxido de carbono, com possíveis repercussões para a cadeia alimentar submarina e recifes de coral. Há muitas interações adicionais entre gases de efeito estufa, a biosfera da Terra e os oceanos, e precisamos aumentar a nossa capacidade de monitoramento e do conhecimento científico, a fim de entender melhor estes fenômenos “, disse Jarraud.
A agência observou que o dióxido de carbono é o gás de efeito estufa mais importante emitido pelas atividades humanas, e é responsável por 85% do aumento da força radioativa durante a última década. Também é o gás de efeito estufa mais importante de longa duração; os outros são o metano e o óxido nitroso.
fonte: http://novo.maternatura.org.br/news.php?news=666
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