domingo, 24 de fevereiro de 2013

José Júlio da Ponte, o sonhador da manipueira em pó no império dos agrotóxicos


Ariosto Holanda entrega Ordem Nacional do Mérito Científico a José Júlio da Ponte outorgada pelo MCT 

Um sonho do cientista José Júlio da Ponte, o registro da patente industrial da manipueira em pó como bioinseticida, biofungicida, bioacaricida e biofertilizante natural, não foi realizado em vida. O
professor emérito da Universidade Federal do Ceará, um dos poucos cearenses homenageados com a Ordem Nacional do Mérito Científico outorgada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, faleceu nesta segunda-feira, em Fortaleza, aos 78 anos, sem ter conseguido a patente do seu invento pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

O deputado Ariosto Holanda, que era secretário da Ciência e Tecnologia do Ceará à época da outorga da homenagem ao cientista cearense, fez a entrega numa solenidade em Fortaleza. Segundo o parlamentar, o pesquisador "foi um professor doutor que se destacou muito na defesa do meio ambiente, principalmente no tocante ao combete aos defensivos agrícolas, como autor de um defensifo natural, a manipueira, produto por ele desenvolvido para substituir os inseticidas de origem química que geralmente agridem o meio ambiente".
Ariosto Holanda e José Júlio da Ponte

Ambientalista por coerência da aplicação do conhecimento científico, pesquisador no uso de defensivos agrícolas de origem vegetal, José Júlio da Ponte recorreu ao deputado Fernando Melo (PT-AC), Fernando Melo (PT-AC) que intercedeu em favor da agilização do pedido de patente para a manipueira em pó, requerimento formalizado pelo então ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Resende, ao INPI.

O caso tramitava há cinco anos sem solução quando o ministro intercedeu, relata o jornalista Montezuma Cruz.

O insumo agrícola seria extraído da manipueira, subproduto líquido da prensagem da mandioca. O deputado Fernando Melo, preocupado com o alto preço dos fertilizantes químicos e com a intenção de promover o resgate da cultura da mandioca na Amazônia, convidou em 1978 o professor José Júlio da Ponte para expor os resultados da sua pesquisas com a manipueira em audiência pública na Câmara.

Também foram chamados a participar da audiência Carlos Estevão Leite, pesquisador da Embrapa em Cruz das Almas; Luiz Joaquim Castelo Branco, do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), da Embrapa no DF; Antônio Fadel, diretor  da Halotek – Fadel Industrial Ltda e Joselito Mota, pesquisador do Centro de Tecnologia em Mandioca, da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.

“O ministro Sérgio Rezende encaminhou ao deputado cópia de seu ofício ao presidente do INPI, Jorge de Paula Costa Ávila, no qual lembra que José Julio é professor emérito da Universidade Federal do Ceará, onde foi livre docente da cadeira de Fitopatologia do Curso de Agronomia e vem se dedicando há mais de 20 anos aos promissores estudos que indicam a manipueira como defensivo e fertilizante agrícola”, escreveu Montezuma Cruz.

"Estou confiante em que o INPI analisará com a necessária isenção e critérios técnicos o pedido de patente, dando ao cientista cearense as condições necessárias para oferecer ao mercado o produto que
desenvolveu em vários anos de dedicação á pesquisa", afirmou o ministro na correspondência a Melo. Manifestou ainda o desejo de que José Júlio "possa continuar a oferecer sua inestimável contribuição à ciência agrícola brasileira, que o fez merecedor de tantas honrarias, entre elas, a Ordem Nacional do Mérito Científico" - acrescenta o jornalista.
José Júlio da Ponte. FOTOS: Flamínio Araripe

Perfil

Cientista e comendador, José Júlio da Ponte Filho graduou-se em 1958 como engenheiro agrônomo pela UFC. Defendeu dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo (USP) 10 anos depois e, com a tese “Nematoides das galhas: espécies ocorrentes no Brasil e seus hospedeiros”, recebeu o título de livre-docente da UFC em 1978. Ele teve papel essencial na fundação do Curso de Agronomia da Instituição, que deu origem à UFC, ao lado das faculdades de Direito, Odontologia e Farmácia. Segundo o Reitor Jesualdo Pereira Farias, boa parte dos professores do Curso de Agronomia foram alunos de José Júlio. 

José Júlio da Ponte Filho foi, ainda, presidente da Academia Cearense de Ciências, além de ter integrado a Academia de Ciências de Nova York. Em abril de 2007, foi admitido na Ordem Nacional do Mérito Científico por ter se destacado na pesquisa de alternativas naturais aos agrotóxicos, descobrindo que a manipueira, extrato líquido que sobra no processo de fabricação da farinha de mandioca, pode ser aplicada no combate a pragas e doenças nas plantações. (Com informações de Montezuma Cruz e da Ascom da UFC).

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