sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A erosão da EROEI: Energia Retornada sobre Energia Investida, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Energia Retornada sobre Energia Investida

O “pico do petróleo” e a consequente crise econômica global é motivo de muita discussão. O declínio da produção dos combustíveis fósseis foi previsto pelo geofísico americano M. King Hubbert que, em 1956, publicou um artigo mostrando que o pico (máximo da produção) do petróleo, no mundo, deveria ser atingido em torno de 50 anos. Depois deste pico, a produção cairia rapidamente, podendo criar um grande desequilíbrio entre a demanda e a oferta. Isto provocaria um grande aumento do preço dos hidrocarbonetos, afetando a economia internacional.

Porém, existem visões mais “otimistas” do ponto de vista da continuidade do atual modelo de desenvolvimento. A Agência Internacional de Energia (IEA) acredita que a capacidade de aumento da produção dos combustíveis fósseis vai continuar nas próximas décadas. Alguns autores, por outro lado, dizem que o “pico”, se houver, não seria da produção, mas sim da demanda por petróleo, sendo que o avanço das energias renováveis poderá ser uma solução para a crescente necessidade energética mundial.
Todavia, a grande questão a ser debatida é o custo da produção de energia e o retorno que se obtém dos investimentos realizados. Para tanto, é preciso considerar ao conceito EROEI, que é a sigla em inglês para “Energy return on Energy invested” (Energia Retornada sobre Energia Investida). Ou Eroi (Energy return on invested). O EROEI pode ser apresentado pela fórmula “K para 1”, sendo K a quantidade de energia retornada por 1 unidade investida. Quanto mais alto for o EROEI mais eficiente é o combustível. Se K é próximo de 1, a fonte energética não é viável, pois utilizará tanto ou quanto na produção do que no seu retorno.
Indubitavelmente, é necessário energia para extrair energia. Quando teve início a produção de petróleo, o seu EROEI situava-se em torno de 100 para 1. Em meados do século XX o EROEI ainda estava na casa de 50 para 1. Nos dias atuais, se utiliza um barril de petróleo para produzir o equivalente a nove barris. Para o gás de xisto e as areias betuminosas (tar sands) o EROEI situa-se perto de quatro para um. Estudos mostram que para haver desenvolvimento econômico o EROEI deve ficar entre cinco e nove vezes.
Se a relação entre a energia investida e a energia obtida ficar baixa seriam necessários mais recursos para manter uma produção adequada de petróleo e gás, sobrando cada vez menos dinheiro e recursos para outras atividades econômicas e sociais. A erosão da EROEI reduz a lucratividade das empresas, reduzindo os salários e aumentando o custo de produção de bens e serviços, reduzindo a produtividade geral da economia. Cada pessoa a mais é um retorno a menos em termos econômicos.
O século XXI está assistindo à diminuição do EROEI do petróleo, pois houve, ao longo do tempo, um aumento na demanda, fazendo com que o petróleo fácil de ser extraído fosse acabando. A produção de petróleo em águas profundas (como no exemplo do pré-sal), por ser menos acessível, exige mais energia no processo de produção, diminuindo o EROEI.
Portanto, pode-se dizer que o fim da energia fóssil abundante e barata chegou ao fim. Por isto, é praticamente impossível manter os altos índices de crescimento do PIB do período de ouro da economia internacional, que foi de 1950 a 1973 (antes da crise do petróleo). A produção energética chegou a uma espiral de complexidade. A demanda por mais energia leva à necessidade de mais complexidade para obter esta energia adicional. Com a complexidade crescente, há um risco maior de acidentes devido à natureza complexa do sistema e um aumento geral de custos. O grande desafio das energias renováveis é, exatamente, reduzir os custos de produção para que a energia retornada seja várias vezes maior do que a energia investida, viabilizando a transição para uma economia de baixo carbono e sustentável ambientalmente.
Em síntese: se a EROEI dos combustíveis fósseis apresenta uma tendência persistente de declínio, o mesmo acontece com a produtividade geral da economia. Neste quadro, é impossível manter altas taxas de crescimento econômico, assim como a mobilidade social ascendente fica comprometida. Energia mais cara significa preço dos alimentos mais elevados. Implica, também, na possibilidade de maiores protestos populares, especialmente nos países que se encontram na fase da pirâmide populacional conhecida como a “bolha de jovens”.
Referência:
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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