sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Diariamente, 95,4 toneladas de alimentos vão para o lixo em Manaus, capital de um Estado onde 648,6 mil pessoas estão inclusas na faixa de extrema pobreza.
[ i ]A Secretaria Municipal de Limpeza informou que recolhe, diariamente, 95,4 toneladas de alimentos nas lixeiras, em 39 feiras e mercados da cidade.








Manaus - As frutas, verduras, hortaliças e peixes jogados no lixo das feiras e mercados de Manaus daria para alimentar quase 100 mil pessoas por mês, segundo estimativa do programa Mesa Brasil. O total de comida desperdiçada cresceu assustadores 960%, entre janeiro e dezembro de 2013, enquanto 648,6 mil pessoas estão incluídas na faixa de extrema pobreza, no Estado.
A Secretaria Municipal de Limpeza (Semulsp) informou que recolhe diariamente 95,4 toneladas de alimentos nas lixeiras, em 39 feiras e mercados. Por mês, os alimentos desperdiçados somam 2.862,9 toneladas. Em janeiro do ano passado, a média mensal era 270 toneladas.

O resultado do desperdício, também, pesa no bolso do consumidor. Quanto mais frutas, legumes, verduras e peixe no lixo, mais caro estes alimentos chegarão à mesa.
A Feira da Panair, no Educandos, zona sul, é a campeã em despejo de comida no lixo: 9,7 toneladas por dia. Jaraquis, pacus, sardinhas, curimatãs e até tambaqui chegam a transbordar nas lixeiras ao fim do dia. O feirante Adeilson Monteiro de Paula explicou que a quantidade descartada varia conforme a oferta e período do ano. “Peixe só vende bem mesmo de manhã cedo. O produto que ainda está na banca depois das 10h30 ou 11h tem grande chance de encalhar”, explicou.
Diariamente, 1,5 tonelada de tomate, cebola, pimentão e abacaxi, entre outras frutas e legumes, acaba na lixeira da Feira do Coroado, zona leste. Dona de uma banca há cinco anos, a feirante Nazaré dos Santos Reis divide a responsabilidade pelo desperdício com os consumidores. Ela afirma que muitos clientes deixam de comprar um tomate, por exemplo, por estar amassado. “Não temos tempo de distribuir comida. Aqui, eu deixo o que pode ser reaproveitado num galão separado, para quem quiser vir pegar”.
Apesar da média de comida despejada no lixo somente nas feiras e mercados da cidade, 95,4 toneladas por dia, a dimensão do desperdício em Manaus é ainda maior. A Semulsp informou que não tem como quantificar a comida descartada pelos restaurantes, porque não há lixeiras exclusivas só para alimentos e, alguns estabelecimentos fazem seu próprio descarte, conforme a Lei Complementar Nº 001, de 20 de Janeiro de 2010.
Além disso, em torno de 30% da produção agrícola do Estado se perde antes de chegar às prateleiras de venda, segundo a Secretaria de Estado de Produção Rural (Sepror).
Em paralelo às 2.862,9 toneladas mensais de comida jogada na capital, no Amazonas o universo dos miseráveis corresponde a 18,6% do total dos 3,48 milhões de habitantes do Estado, segundo o último levantamento do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesa Brasil quer diminuir o desperdício
O Programa Mesa Brasil está buscando parceiras para diminuir o desperdício de comida em Manaus. O  coordenador do projeto, Ellinaldo Barbosa, avalia que grande parte dos alimentos despejados nas lixeiras das feiras e mercados poderia ser reaproveitado no prato.
Para Ellinaldo, o maior entrave para a coleta destes produtos nas feiras é o armazenamento inadequado. “Existe um ponto delicado entre a fruta ou verdura que não está própria para a comercialização, mas ainda tem um bom valor nutricional, e aquela que já está estragada. Não se pode depositar tudo junto”, disse.
Em 2013, o Mesa Brasil recolheu 2.100 toneladas de alimentos em Manaus, junto aos agricultores, restaurantes, supermercados e padarias. Barbosa afirmou que o projeto alimentou 80 mil pessoas no ano passado, e complementou 7 milhões de refeições. “Iniciamos uma conversa com a Secretaria Municipal de Limpeza (Semulsp) para fomentar uma parceria com atuação direta nas feiras e mercados”.
Barbosa explicou que os alimentos recolhidos incrementam os pratos de quem tem pouca variedade em casa, aumentando o valor nutricional da refeição. “Em alguns casos, a pessoa tem somente farinha e ovos em casa, e ganha em saúde ao receber também abóbora ou couve, por exemplo”, disse.
O Mesa Brasil, desenvolvido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc), é um Programa de Segurança Alimentar e Nutricional, baseado em ações educativas e distribuição de alimentos excedentes ou fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser consumidos. A rede atua nacionalmente como um banco de alimentos para a promoção da cidadania e segurança alimentar.
Em atividade, no Amazonas há 10 anos, o Mesa Brasil distribui alimentos para 200 instituições sociais, como Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), Casa Vhida, Grupo de Apoio à Criança com Câncer do Amazonas (GAAC-AM), Abrigo Moacir Alves e Lar Batista Janel Doylle. O programa atua em Manaus, Iranduba, Manacapuru e Rio Preto da Eva.
Para ser doador, voluntário ou assistido do programa, o interessado deve entrar em contato pelos telefones 3234-1598 ou 3234-1795. Também é possível se inscrever diretamente no Sesc, na Rua Coronel Salgado, 512, Aparecida, de segunda à sexta-feira, de 8h30 às 17h30.
Desperdício Universal
A campanha ‘Pensar. Comer. Conservar - Diga Não ao Desperdício’, lançada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), alerta sobre as toneladas de comida que vão para o lixo diariamente.
Segundo dados do programa, atualmente pelo menos um terço de todos os alimentos produzidos no mundo se perde entre as fazendas e a mesa de refeição. O estudo identificou que as pragas, instalações inadequadas de armazenamento e escoação ineficiente são as principais causas do estrago de comida no mundo.
fonte: http://www.d24am.com/noticias/amazonas/comida-jogada-no-lixo-em-manaus-daria-para-alimentar-100-mil-pessoas/103598

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