Energia eólica cresce no Brasil impulsionada pela crise internacional.
As Nações Unidas elegeu 2012 o Ano da Energia Sustentável Para Todos. No Brasil, a bola da vez é a energia eólica, que desde 2010 vem ampliando seu peso na matriz energética graças em boa parte ao investimento de grupos estrangeiros que aportaram no país após a crise na Europa e nos EUA.
A meta do Governo Federal é mais do que duplicar a participação desse tipo de fonte dos atuais 1,1% para 2,3% até o fim do ano. Parece pouco, mas é um grande avanço pela rapidez da evolução. A energia eólica começou a ser utilizada no país em 2004, e a perspectiva do Ministério de Minas e Energia é que até 2020 ela responda por 6,7% do total produzido.
Para o engenheiro mecânico Everaldo Feitosa, vice-presidente da Associação Mundial de Energia Eólica e presidente da Eólica Tecnologia, a perspectiva do governo ainda é tímida. Ele acredita que até 2020, a energia eólica possa representar 10% da matriz: “A energia eólica é hoje a fonte mais barata no Brasil. Não tem sentido a contratação de outra mais cara, o que geraria ônus para a população, por isso a tendência é a contratação desse tipo de fonte limpa”.
Feitosa ressalta que uma conjunção de fatores naturais e econômicos tem estimulado o crescimento da participação da energia eólica no Brasil. O país, lembra ele, tem excelentes jazidas de vento e complementaridade entre o regime de vento e de água: os meses de secas nos rios são os que têm os melhores ventos. “Esses dois fatores são presentes divinos que nós tivemos”, ressalta.
As jazidas de vento, de acordo com Feitosa, estão concentradas basicamente em cerca de 70% nos estados do Nordeste e 30% no Sul. Mas, como o sistema brasileiro é integrado, uma central eólica contribui para a geração de energia para todo o país. A chefe do Laboratório de Energia Eólica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Mila Avelino, explica que a implantação dos parques eólicos apresenta vantagens com relação à distribuição de energia: “A região costeira, além da vantagem de estar mais próxima dos centros de consumo e dos fornecedores de equipamentos, é favorecida, em termos de logística de distribuição de energia, pela infraestrutura disponível”.
Além da contribuição da natureza, a economia também deu uma força para que o Brasil passasse a investir mais na energia eólica: câmbio favorável, incentivos fiscais e a crise internacional foram fatores que ajudaram a estimular o mercado de energias renováveis, que há dez anos buscava decolar no país.
“Todo mundo falava que energia eólica era cara. Com a crise financeira no exterior, os custos de equipamentos diminuíram muito, principalmente o de turbinas eólicas. Assim, foi possível fazer com que a energia eólica competisse com todas as outras matrizes em termos de custo de geração de energia. E sem qualquer subsídio. Até mesmo em nível mundial, o preço da energia eólica no Brasil é o menor do planeta: cerca de R$ 100 por megawatts/hora (MWh)”, ressalta Feitosa.
Atualmente, existem cerca de 5.300 MW (megawatts) em projetos eólicos autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Mila acredita que a instalação, nos próximos anos, de cerca de 7 GW (gigawatts) de potência nova já contratada, aumente ainda mais o interesse de fabricantes e representantes de empresas estrangeiras especializadas em energia eólica em investir no Brasil: “Em uma década, temos potencial para virmos a ser o principal mercado de energia eólica da América Latina, com cerca de 30 GW de capacidade instalada”.
No início do mês, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamento de R$ 389 milhões para a construção de cinco parques eólicos na região Nordeste: quatro no Rio Grande do Norte e um na Bahia. Os projetos foram vencedores do Leilão de Fontes Alternativas de 2010 e integram o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o BNDES, os investimentos do país em energia eólica atingiram, no ano passado, R$ 5,1 bilhões, sendo R$ 3,4 bilhões de financiamentos do banco.
A exigência do BNDES, para aprovar um financiamento, de que 60% dos materiais sejam fabricados no Brasil forçou empresas estrangeiras fabricantes de turbinas eólicas a instalarem indústrias no país, o que têm promovido também um desenvolvimento industrial e tecnológico.
“Os países que mais fazem promoção de energia limpa são os mais poluentes. Na Alemanha, por exemplo, 60% da matriz é carvão, já na Espanha 65% são combustíveis fosseis. Existiu na ultima década muita propaganda, mas todos têm uma matriz muito suja. O único país altamente limpo era, foi e será o Brasil”, aposta Feitosa.
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