domingo, 29 de abril de 2012


O que vai acontecer com as latinhas?

As embalagens de latas foram uma das primeiras formas para guardar alimentos por um longo prazo. Herméticas, resistentes, fáceis de fabricar e de transportar, elas viraram o jeito preferencial para conservar quase tudo, de óleo de soja a feijoada pronta. Algumas latas ficaram famosas, como as do leite Moça ou a da sopa Campbell. Mas nos últimos anos, algumas marcas conhecidas e outras nem tanto andaram trocando suas embalagens por outro tipo de material.
Óleos de soja hoje vêm em garrafas PET. Polpa de tomate, em sachês de alumínio com plástico. Parecem ser mais atraentes e baratas, mas têm desvantagens ambientais. O PET não é biodegradável como a lata, nem pode ser reciclado e virar um produto igual. Os sachês de alumínio com plástico são de difícil reuso. Esses são alguns dos argumentos de alguns ambientalistas e também da indústria das embalagens metálicas para promover seu produto. É o que diz Thais Fagury, gerente executiva da Associação Brasileira de Embalagem de Aço (Abeaço), em entrevista por email ao Blog do Planeta. Só falta ainda dar uma resposta adequada à participação de carvoarias com mão de obra irregular e madeira de desmatamento ilegal na cadeia de produção do ferro gusa, matéria-prima para o aço. Principalmente na Amazônia. Thais é um dos organizadores do 1º Congresso de Embalagem de Aço, que acontece em São Paulo até amanhã.
ÉPOCA – Nos últimos anos, alguns produtos antes  embalados em latas de aço, como óleo de soja, azeite e molho de tomate, passaram para outro tipo de recipiente, feito de vidro ou de plástico. Por que houve essa troca?
Thais Fagury – Grande parte das mudanças se deram por redução do custo da embalagem primária por parte dos envasadores. O problema é que a redução do valor na embalagem primária nem sempre significa um lucro real para as empresas ou menor impacto ambiental. Como exemplo temos a migração do mercado de molho de tomate em mais de 60% para sachês. O custo do sachê é inferior ao da lata de aço mas para envasar o produto na embalagem flexível são necessárias algumas mudanças, como adição de embalagem secundária (caixas de papelão para embarque com no máximo 24 unidades), maior número de trabalhadores em linha, maior perda durante a distribuição, menor capacidade de empilhamento no transporte e armazenamento do produto, e menor durabilidade do produto. E a embalagem tipo sachê não é reciclada hoje no Brasil. Ou seja, o impacto em consumir o sachê é muito maior quando comparamos ao consumo das latas de aço.
ÉPOCA – Quais são as vantagens da embalagem de aço?
Thais – A embalagem de aço é, tecnicamente, uma das melhores formas de se acondicionar produtos, por evitar desperdícios e proteger adequadamente a integridade de seu conteúdo no transporte e comercialização. Além de resistente, a embalagem de aço é versátil, possui uma excelente visibilidade na prateleira, pode servir como embalagem promocional, é 100% reciclável, podendo retornar infinitas vezes ao processo de fabricação de novo aço, e conserva mais as propriedades nutritivas dos alimentos do que os processados artesanalmente. A lata de aço é  prática, versátil, fácil de transportar, suporta choques e quedas, permite empilhamento seguro e é resistente ao fogo. Para o segmento químico e de tintas é bastante utilizada devido a inviolabilidade, evitando falsificação. Quando se pensa no transporte de longa distância ou em condições críticas, por exemplo, a embalagem de aço é a primeira a ser cogitada por sua resistência mecânica. A espessura do aço, constantemente reduzida, proporciona a redução do peso específico da embalagem e aumenta a competitividade em relação aos outros materiais.
ÉPOCA – A embalagem de aço é mais barata do que a de plástico ou de vidro?
Thais – Geralmente as embalagens rígidas como aço, alumínio e vidro apresentam valores semelhantes. As embalagens flexíveis e plásticas são mais baratas, justamente porque apresentam menor barreira, peso específico menor.
ÉPOCA – A embalagem de aço protege melhor os alimentos do que o plástico? Há evidências científicas disso?
Thais – As embalagens de aço são hermeticamente fechadas ideais para os alimentos, que em sua maioria, são cozidos no vapor na própria lata para garantir a durabilidade e saudabilidade dos ingredientes. Destaque para a preservação dos nutrientes e do sabor dos alimentos enlatados, pois a lata de aço funciona como uma barreira contra a luz e o oxigênio, que deterioram algumas propriedades, acelerando reações químicas e alterando, por exemplo, a cor e consistência do alimento. Além disso, a lata de aço dispensa o uso de conservantes químicos e oferece um período de validade entre 18 e 60 meses, como no caso da sardinha. As latas são ideais para qualquer tipo de alimento: vegetais, pescados, carne, bebidas etc. Encontramos nos mercados internacionais uma variedade ainda maior: sanduíches prontos para consumo, diversas saladas, pratos prontos – todos sem a adição de conservantes químicos e super saudáveis. Podemos citar um estudo da Universidade de Illionois, nos EUA, que comprova que o valor nutricional do alimento enlatado é semelhante ou superior ao do alimento fresco in natura.
ÉPOCA – Que embalagem é melhor para o meio ambiente?
Thais – As mais favoráveis são as 100% recicláveis e fabricadas a partir de recursos de fonte infinita. A lata de aço pode passar por este processo infinitas vezes sendo reutilizada para a fabricação de novo aço para diferentes fins como carros, eletrodomésticos, construção civil e novas embalagens. O aço é o material mais reciclado do mundo, a cada tonelada de aço reciclada deixamos de extrair 1,5 toneladas de minério de ferro para a fabricação de novo aço. O mesmo acontece com alumínio e vidro que são 100% recicláveis. Nos demais casos as embalagens são recicláveis mas não 100% porque não são capazes de voltar para o mesmo processo de fabricação infinitas vezes. Nós, consumidores, temos que ficar muito atentos a este conceito, em alguns casos o conceito 100% reciclável é passado de forma errônea ao consumidor.
ÉPOCA – Qual embalagem é mais facilmente reciclável?
Thais – A lata de aço, hoje, é a embalagem mais fácil de ser reciclada. Isso porque cada usina siderúrgica é uma planta recicladora do material. O aço quando misturado aos demais materiais de embalagem é de mais fácil separação já que pode ser extraído por eletromagnetismo.
ÉPOCA – O ponto fraco do aço é seu ciclo de produção. Parte do aço brasileiro é fabricado a partir de ferro gusa feito com carvão vegetal de desmatamento ilegal, usando mão de obra em condições irregulares. Por que a indústria do aço não inibe essa prática?
Thais – As siderúrgicas no Brasil já trabalham nos mais rigorosos padrões, inclusive porque exportam para diversos países e passam por constantes auditorias e fiscalização. A etapa mais impactante no ACV da lata de aço é a extração de minério de ferro que é fortemente minimizada com a reciclagem da lata pós consumo.
ÉPOCA – Existe algum tipo de controle do ciclo da matéria prima para evitar material de guseiras irregulares ou carvoarias clandestinas no cerrado e na Amazônia?
Thais – Não temos esta informação.
ÉPOCA – Nos últimos anos, o esforço para regularizar a atividade econômica na Amazônia atingiu as cadeias de produção da soja, da madeira e da pecuária. Qual é a vulnerabilidade da cadeia do aço?
Thais – Não temos esta informação.
(Alexandre Mansur)

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