“Todos sabemos que é difícil atribuir uma tempestade específica às mudanças climáticas. Mas também sabemos outra coisa: eventos climáticos extremos são a nova normalidade por causa delas”, declarou Ban Ki-moon aos representantes dos 193 países reunidos para a assembleia geral das Nações Unidas na última sexta-feira (9).
O secretário-geral da ONU lembrou que a super tempestade Sandy, que matou quase 200 pessoas em sua passagem pelo Caribe e pelos Estados Unidos e causou bilhões em prejuízos, é justamente o tipo de fenômeno que vai se repetir cada vez mais frenquentemente em um mundo sob o aquecimento global.
“Essa pode ser uma verdade que incomoda, mas é uma que não podemos ignorar. Os melhores cientistas do mundo estão nos alertando há anos sobre isso. Não podemos mais olhar para o outro lado, persistindo com o nosso atual estilo de vida. Essa deve ser uma das principais lições do Sandy”, afirmou.
“Nosso desafio é claro e urgente: precisamos reduzir as emissões de gases do efeito estufa, aumentar a adaptação climática para nos prevenir de eventos climáticos ainda mais severos que o Sandy e alcançar um acordo climático global até 2015”, completou.
Ban Ki-moon também elogiou a Austrália pela decisão de assinar o segundo período de compromissos do Protocolo de Quioto, o único tratado climático em vigor.
“Outros governos precisam seguir o exemplo australiano. Lidar com as mudanças climáticas é responsabilidade de todos e é também uma oportunidade para fazer crescer uma economia sustentável de baixo carbono”, afirmou.
COP 18
Apesar dos apelos do secretário-geral da ONU, a próxima Conferência Climática (COP18), em Doha, no Catar, não está parecendo nada promissora.
O grupo africano de nações, que reúne 54 países, manifestou sua indignação com o andamento das negociações internacionais ao criticar nesta semana a falta de engajamento dos países no financiamento de ações de adaptação e mitigação climática.
Segundo os africanos, as promessas feitas no passado de liberação rápida de recursos não se cumpriram e toda a nova postura de países como os Estados Unidos, Canadá e Japão de apenas negociar um acordo para 2020 é muito preocupante.
“Neste momento, depois de tudo que foi discutido nas Conferências do Clima de Copenhague, Cancún e Durban esperávamos um maior engajamento e transparência no processo de transferência de recursos e tecnologias para as nações mais pobres e vulneráveis”, afirmou Seyni Nafo, porta-voz do grupo africano.
Em 2009, em Copenhague, os líderes mundiais, incluindo o reeleito Barack Obama, prometeram liberar US$ 100 bilhões anualmente até 2020 para lidar com as mudanças climáticas. Porém, não existe nada detalhando como isto será feito.
“Para que Doha seja bem sucedida, a questão do financiamento é prioritária. Esperamos que Obama cumpra sua promessa e apresente planos reais para os próximos anos”, disse Pa Ousman Jarju, presidente do grupo conhecido como Países Menos Desenvolvidos (LDCs).
Em um encontro no último dia 25, ministros do Meio Ambiente da União Europeia afirmaram que batalharão na COP 18 por novos comprometimentos das nações mais ricas, principalmente daquelas que estão de fora do Protocolo de Quioto, se referindo à EUA, China, Rússia, Canadá e Japão.
De acordo com os europeus, estes países não podem fugir de suas responsabilidades, ainda mais porque são justamente alguns dos maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa.
Para a presidente do braço climático da ONU (UNFCCC), Christiana Figueres, o mínimo que se pode esperar da COP 18 é que seja confirmado e detalhado o compromisso dos US$ 100 bilhões até 2020.
“Uma das principais discussões nos últimos meses foi justamente sobre como arrecadar esses recursos e operacionalizar sua distribuição. Acredito que em Doha os países conseguirão definir estes elementos e veremos um avanço real”, declarou.
Mas essa visão pode ser otimista demais, já que a União Europeia, que sempre foi responsável por elevar a ambição dos demais países nas conferências climáticas, pode aparecer enfraquecida em Doha.
“Poderemos assistir ao esvaziamento da questão de financiamento climático. Nações europeias como Espanha, Itália, Grécia podem retirar sua ajuda e diminuir a contribuição e a influência da UE”, afirmou Tim Gore, da Oxfam, em entrevista para a Reuters.
Existe a possibilidade de que outros assuntos em Doha, como a discussão do novo tratado climático, fiquem paralisados se não houver avanços no financiamento.
O grupo das pequenas nações insulares já avisou que exige novos compromissos e mais transparência sobre a liberação de recursos. Além disso, se recusará a aceitar a “reciclagem” de promessas anteriores, ou seja, que governos realoquem para as mudanças climáticas financiamentos antigos já anunciados para outras áreas, como a conservação do meio ambiente.
A Conferência do Clima de Doha começa no dia 26 de novembro e segue até sete de dezembro.
Imagem: Super tempestade Sandy atinge costa leste norte-americana / NASA
fonte: institutocarbonobrasil.com.br
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