Um futuro com o predomínio das energias renováveis pode ser algo desejado por aqueles que esperam por um maior controle dos efeitos das mudanças climáticas, mas infelizmente esse futuro parece não estar tão perto. Segundo um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), os subsídios para os combustíveis fósseis aumentaram quase 30%, chegando a US$ 523 bilhões em 2011, e até 2035 essas devem continuar sendo as principais fontes de energia do nosso planeta.
O Panorama de Energia Mundial (World Energy Outlook), publicado nesta segunda-feira (12), revela também que o mapa energético global está mudando de forma drástica, e que estas transformações reformularão as expectativas sobre o papel dos diferentes países, regiões e combustíveis no sistema mundial de energia nas próximas décadas.
Uma das nações que terá um papel central é os Estados Unidos, que devem se tornar praticamente autossuficientes em energia até 2035 e um exportador de gás natural e petróleo até 2020.
“A América do Norte está na vanguarda de uma grande transformação na produção de petróleo e gás que afetará todas as regiões do mundo, mas o potencial também existe para uma mudança transformadora de forma semelhante na eficiência energética global”, afirmou Maria van der Hoeven, diretora executiva da AIE.
Os países em desenvolvimento também terão um papel muito importante no crescimento da produção e da demanda de energia. China, Índia, e Oriente Médio, por exemplo, serão responsáveis por 60% do crescimento da demanda, participando também do aumento na produção de petróleo, carvão e gás natural. O Brasil também se destacará na produção de petróleo de águas profundas.
No geral, os combustíveis fósseis continuarão a dominar o mix energético mundial, apoiados principalmente pelos subsídios – que chegaram a US$ 523 bilhões em 2011 – e pelo aumento da produção no Oriente Médio e na África. “Os subsídios a combustíveis fósseis no último ano atingiram US$ 523 bilhões. Isso sugeriria que o apetite por reforma está diminuindo”, comentou Fatih Birol, economista chefe da AIE e principal autor do documento.
No entanto, o panorama aponta que, apesar disso, investimentos em eficiência energética podem ajudar a tornar o mix energético mundial mais limpo até 2035.
“O Panorama de Energia Mundial deste ano mostra que até 2035 podemos atingir economias de energia equivalentes a cerca de um quinto da demanda global em 2010. Em outras palavras, a eficiência energética é tão importante quanto o fornecimento de energia sem restrições, e uma ação maior em eficiência pode servir como uma política energética unificadora que traz benefícios múltiplos”, declarou Hoeven.
“Ações para melhorar a eficiência energética podem retardar a trajetória das emissões de dióxido de carbono para 2ºC – o que está estabelecido para ocorrer em 2017 – até 2022, obtendo tempo para assegurar um acordo climático global necessário. Isso também traria uma segurança energética e benefícios econômicos substanciais, incluindo um corte nas contas de combustível de 20% em média”, concordou Birol.
Sem esses incentivos, entretanto, o relatório mostra que será muito mais difícil conseguir controlar as emissões. “Nossa análise mostra que na ausência de um estímulo para uma política planejada, dois terços do potencial economicamente viável para melhorar a eficiência energética continuarão não realizados até 2035”, acrescentou o economista.
David H. Jones, vice-diretor executivo da AIE, disse que, apesar de lentas, as negociações para buscar esse tipo de ação estão acontecendo, principalmente com o objetivo de reduzir os subsídios ineficientes aos combustíveis fósseis que encorajam o consumo excessivo e comprometem o desenvolvimento sustentável. Mas Jones admite que é difícil encontrar uma solução que garanta a iniciativa dos governos.
“Alguns dos governos estão aumentando o interesse em eficiência energética exatamente por essa razão. Querem continuar mantendo o preço da energia baixo, mas não querem abrir mão as receitas que recebem exportando-a. Então estão tentando achar formas de fazer seu povo usar a menor quantidade dela possível”, explicou o vice-diretor executivo da AIE ao RTCC.
“Se não podem aumentar o preço para [reduzir o consumo] então precisam estimular a eficiência. Eles não podem fazer ambos, mas ficaremos melhor se fizerem um. Eles desperdiçam muita eletricidade”, observou ele.
Além da eficiência energética, o aumento da participação das energias renováveis no mix energético mundial também deve auxiliar na busca pelo controle das emissões, mas o documento prevê que as fontes limpas ainda dependerão muito de subsídios para se desenvolverem. Esses subsídios, que em 2011 chegaram a US$ 88 bilhões, precisarão atingir US$ 4,8 trilhões para estimular o crescimento das renováveis.
Ainda assim, as perspectivas são positivas: o relatório calcula que até 2015, as energias renováveis serão a segunda maior fonte de geração de energia, chegando perto do carvão como principal fonte até 2035.
Mas os autores enfatizam que para estimular a eficiência energética e as fontes renováveis, ainda será necessário desenvolver um acordo internacional para controlar as emissões, sem o qual tais objetivos se tornarão muito mais difíceis.
“O investimento adequado em tecnologias de energia de baixo carbono depende de mais certeza sobre políticas climáticas em longo prazo – não se pode dizer que o resultado das negociações climáticas de Durban forneceu essas condições”, concluiu o relatório.
fonte; institutocarbonobrasil.org.br
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