Comida com bula
Por Raquel Ribeiro, Especial para Plurale em revista
Com seu explosivo documentário, o cineasta Silvio Tendler provou, por A + B, que o veneno está na mesa: agrotóxicos utilizados em larga escala chegam até ao leite materno! Não bastasse isso, nossos alimentos ainda são recheados de aditivos químicos.
Pior, muitas vezes desnecessários. A maioria dos corantes tem a única função de tornar o produto mais sedutor. Precisam mesmo colocar urucum industrializado na manteiga? Por que fazer cereais matinais multicoloridos, refrigerante roxo ou iogurte cor-de-rosa? Nem os remédios escapam da maquiagem: a indústria faz questão de dourar (e azular, esverdear...) a pílula. E o consumidor, óbvio, assume seu naco de culpa ao escolher alimentos chamativos – e não reclamar do abuso das empresas.
Ah, mas se não houvesse conservantes, os alimentos nada durariam nos mercados. Verdade. Vale, no entanto, questionar se a praticidade da maionese industrializada, por exemplo, compensa a quantidade de química que se ingere junto. Silvia Salas trabalhou por 12 anos como engenheira de alimentos e conhece bem essa indústria: “Não posso colocar dez aditivos químicos em um alimento, embalar numa caixa plástica para que dure um ano e criar a ilusão de que é uma coisa gostosa, fresca e saudável, quando realmente não é.” Sair da empresa foi uma questão ética: “Todos os aditivos alimentares fazem mal a saúde, porque o corpo não reconhece um ingrediente químico que foi inventado nas últimas décadas.” E cita o aspartame e o glutamato monossódico: “Não está comprovado, ‘oficialmente’, o dano que podem causar às pessoas”, alega. “Mas muita gente apresenta alergia ao consumir esses produtos; e alergia nada mais é do que a rejeição do organismo a certa sustância”.
Quando aquecido além dos 30º.C, durante o processo digestivo, o aspartame se fragmenta em ácido fórmico, metanol e formaldeído. Entre os efeitos colaterais provocados pelo seu consumo estão tonteira, alucinações, urticária e dores de cabeça. O Journal of Neuropathology and Experimental Neurology publicou que esse adoçante artificial é “um candidato promissor para explicar o recente aumento da incidência e do grau de malignidade dos tumores cerebrais”.
Presente em uma infinidade de alimentos industrializados, incluindo biscoitos, doces, tortas e snacks, o glutamato monossódico (MSG) estimula receptores da língua produzindo um sabor conhecido por umami – saboroso, em japonês–, que interfere na percepção do paladar. Cerca de 70% do MGS é composto de ácido glutâmico, aminoácido que tem função excitante nas células e que pode levar a danos cerebrais. Pesquisas apontam que nosso organismo utiliza o glutamato como um transmissor de impulsos nervosos no cérebro – e seu consumo está sendo associado a dificuldades de aprendizado, Mal de Alzheimer, Parkinson e câncer. Aos amantes da culinária japonesa, uma dica: existe shoyu orgânico (macrobiótico) e sem glutamato.
Randall Fitzgerald, um jornalista investigativo, mostrou que no século XX a taxa de mortalidade devido ao câncer subiu, nos Estados Unidos, de 3% para 20% do total de mortes ocorridas, a incidência de diabetes cresceu de 0,1% para quase 20% da população, doenças cardíacas se proliferaram e houve aumento na incidência de doenças cerebrais. O principal responsável por esses índices? A alimentação, claro.
“A ciência médica simplesmente não pode prever que pessoas serão sensíveis a quais substâncias químicas, em quais dosagens, com qual potencial para desenvolver alguma dependência, ou quais efeitos sinérgicos podem criar condições tóxicas no corpo humano. A incerteza quanto aos fatores de risco a que estamos expostos no curso de nossas vidas constitui uma forma de roleta-russa biológica que jogamos com nossos próprios organismos, todos os dias”, escreveu Fitzgerald, em Cem Anos de Mentira.
De acordo com o autor, mais de três mil substâncias químicas sintéticas são regularmente adicionadas aos produtos alimentícios, e quase nenhuma foi testada quanto ao seu potencial interativo com outras substâncias. Em 2006, quando o livro foi lançado, cada norte-americano tinha mais de 700 substâncias quimicamente sintetizadas acumuladas em seu organismo!
Mais do que alertar para o risco da química que contamina nosso corpo, Fitzgerald nos incentiva a mudar hábitos. A indústria alimentícia quer lucro, investe em marketing e economiza na compra de matéria prima. Veja o rótulo de boa parte das marcas de requeijão: pouco leite (ou creme de leite) e muito amido, gorduras vegetais e, claro, estabilizantes para garantir o aspecto cremoso.
Sabemos quanto tempo dura a maionese caseira fora da geladeira. Como a versão industrializada pode ser consumida até mais de um ano depois de fabricada? Tal “milagre” tem como preço nada menos do que a saúde de quem consome com frequência. Moral da história: o supermercado tem muita coisa pra vender, mas pouca para comer. Compre alimentos na feira, prepare sua comida com ingredientes frescos e orgânicos e, se possível, tenha sua própria horta em casa.
Sabor de perigo
A lei obriga que o uso dos aditivos químicos seja discriminado nas embalagens e limita a concentração de alguns deles. A dosagem considerada segura de cada um é determinada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e Organização Mundial de Saúde. Mas cada governo – dependendo da pressão da indústria e da conscientização do consumidor – proíbe ou libera estes aditivos. Conheça os mais comuns:
Acidulantes: identificados pela letra H, são usados principalmente para acentuar o sabor ácido ou agridoce de bebidas. Podem diminuir ou harmonizar o doce do açúcar nos produtos. Alguns acidulantes estão naturalmente presentes nas frutas (caso do acido cítrico presente no limão), mas o natural é muito caro. O que se usa é o ácido cítrico obtido pela fermentação da sacarose. Já o ácido láctico funciona como potencializador de sabor em margarinas, molhos, balas, vinhos, sucos, cervejas, refrigerantes e dezenas de outros produtos.
Antioxidantes: identificados pela letra A, prolongam a durabilidade dos alimentos. Usados principalmente em produtos gordurosos. Ha antioxidantes naturais, como o tocoferol (vitamina E), e os sintéticos, como o BHA e BHT, ambos derivado do fenol.
Aromatizantes e flavorizantes: indicados pela letra F, realçam (ou criam) o sabor e o aroma. Há centenas de sopas, biscoitos, bolos, sorvetes e guloseimas com cheiro e gosto de ingredientes que não entraram na sua composição.
Conservantes: identificados pelos códigos P1 a P10, evitam a ação de microrganismos que deterioram os alimentos. Ácidos orgânicos, tais como o acético, benzóico, propanóico e o ácido sórbico, são usados como antimicróbicas em alimentos com pH baixo. Dióxido de enxofre e sulfitos são usados para controlar o crescimento de microorganismos em frutas secas, sucos e vinhos. Nisin e natamicina inibem o crescimento de bactérias e fungos. Já nitrito de sódio, reconhecidamente carcinogênico, esta onipresentes em quase todo alimento industrializado a base de carne.
Corantes: sua função é dar cor atraente ao alimento. C1 significa corante natural (caso do urucum); C2, artificial. Outras siglas que indicam corantes sintéticos: AC (vermelho) e FCF (azul brilhante). Estes e outros sintéticos, como o "Indigo Carmine", "Fast Green FCF" e "Allura Red AC", são bastante tóxicos. O Allura, permitido no Brasil, foi proibido no Canadá e outros países. Corantes “Amarelo Crepúsculo” e Tartrazina foram proibidos em vários países europeus por provocar hiperatividade e outros distúrbios de comportamento nas crianças.
Edulcorantes: indicados pela letra D, são usados em produtos dietéticos, mas também em pães e sucos não identificados como diet. Com três latas de refrigerante diet, um adulto de 70 kg pode ultrapassar a ingestão diária aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Uma criança de 30 kg pode ultrapassar tomando uma lata.
Emulsificantes: previnem a formação de cristais de gelo em produtos congelados, como o sorvete, e melhoram a uniformidade de produtos assados. Também conferem cremosidade e/ou maciez a produtos de panificação e confeitaria.
Espessantes: sua função é dar consistência ao alimento. Geralmente, é de origem vegetal. No rotulo são o EP.
Espessantes: sua função é dar consistência ao alimento. Geralmente, é de origem vegetal. No rotulo são o EP.
Estabilizantes: ajudam a manter a boa aparência dos alimentos e impedem que os diferentes ingredientes se separem. São identificados pelos códigos ET1 até ET29.
Realçadores de sabor: guanilato dissódico, inosinato dissódico e, o mais usado, glutamato monossódico. Por causa deles, não sossegamos até ver o pacote de salgadinho vazio.
Realçadores de sabor: guanilato dissódico, inosinato dissódico e, o mais usado, glutamato monossódico. Por causa deles, não sossegamos até ver o pacote de salgadinho vazio.
fonte: http://www.plurale.com.br
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