quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Nanotecnologia para reduzir pegada petroleira



A Venezuela está empregando nanotecnologia para desenvolver novos catalisadores aplicáveis para reduzir a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa causada pela sua indústria petroleira. Nano é a escala do diminuto: uma partícula de um nanômetro (nm) que mede a milionésima parte de um milímetro, ou, em números: 0,000000001 metro.


“Buscamos empregar nanopartículas de sais de metais, por exemplo, nitratos de ferro ou níquel, ou cobalto, como catalisadores em processos petroleiros nos quais são gerados gases-estufa”, disse ao Terramérica a pesquisadora Sarah Briceño, do Centro de Física do Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas (Ivic, estatal).

Os catalisadores são substâncias empregadas para acelerar processos químicos, “e nosso objetivo é conseguir os adequados para indústria venezuelana e que permitam reduzir em até 50% a emissão de gases em tarefas como refino de petróleo ou consumo de combustível nos veículos”, destacou Briceño.

A Venezuela, sócia fundadora da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), extrai quase três milhões de barris por dia e tem reservas de petróleo pesado superiores a 200 bilhões de barris. Em seu território, seis refinarias processam diariamente 1,1 milhão de barris (de 159 litros).

Por outro lado, o país consome, segundo a Opep, 742 mil barris por dia de diferentes combustíveis, dos quais cerca de 300 mil barris correspondem à gasolina usada por mais de seis milhões de veículos automotores. O Ministério do Poder Popular para o Meio Ambiente afirma que a Venezuela responde por 0,48% do total mundial de emissões de gases-estufa, e de 0,56% de um desses “vilões”, o dióxido de carbono.

Em fase experimental, “observamos com microscópios de alta resolução a varredura e o comportamento, a reação química, das nanopartículas de sais de metais e elementos surfactantes (que influem na superfície de contato entre substâncias) envolvidas nesses processos”, explicou Briceño.

Desde que o norte-americano Richard Feynman (1918-1988), prêmio Nobel de Física em 1965, introduziu, em 1959, o conceito da nanotecnologia (manipulação da matéria em escala molecular e atômica) esta decolou em campos como medicina, farmácia, energia, eletrônica, metalurgia, conservação do meio ambiente e do conhecimento.

“Toda a tabela periódica (dos elementos) pode ser levada à escala nano. Nós nos focamos em pesquisar como a Venezuela, com sua tecnologia e infraestrutura, pode dar esta contribuição ambiental em seus trabalhos com hidrocarbonos”, disse Briceño. “A ênfase nós demos na redução das emissões de óxidos de nitrogênio e de metano, que são os mais fortes causadores do efeito estufa”, acrescentou.

Estima-se que a pesquisa dará frutos em 2013. Levá-los à indústria será percorrer um longo caminho, se forem consideradas as escalas de laboratório: no Ivic são obtidos resultados em aglomerados de partículas que pesam 0,1 grama, e a exploração de petróleo da Venezuela em um único dia equivale a 400 mil toneladas.

A relação entre energia e meio ambiente é um campo fértil para a nanotecnologia, como mostra uma pesquisa norte-americana do Massachusetts Institute of Technology, para agregar nanopartículas de ferro ao petróleo, o que permitiria limpar com imãs o hidrocarbono que vaze para corpos de água.

“A demanda energética aumentará nos próximos anos e devemos ser capazes de gerar energia abundante, barata e com o menor impacto ambiental. Os combustíveis fósseis não são uma alternativa adequada, mas pior é utilizá-la mal quando há oportunidades incríveis para ser muitíssimo mais eficiente”, afirmou Javier García Martínez, diretor do Laboratório de Nanotecnologia da Universidade de Alicante, na Espanha.

A nanotecnologia “oferece oportunidade de gerar novos materiais e processos, e no campo da energia há um grande potencial para melhorar a eficiência das células fotovoltaicas que formam os painéis solares”, disse ao Terramérica o consultor venezuelano Juan Carlos Sánchez, que integra o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC), premiado em 2007 com o Nobel da Paz juntamente com o ex-presidente norte-americano Al Gore (1993-2001)

Para Sánchez, “aos grandes produtores de petróleo, às empresas ou aos países não convém necessariamente o desenvolvimento de processos e materiais da nanotecnologia, quando esta tem o objetivo de uso maior e mais efetivo da energia solar. Digamos que vá em sentido contrário ao negócio toda tecnologia que reduza a emissão de gases-estufa, porque diminuiria a demanda por petróleo com o aumento do uso da energia solar”.

Em sua opinião, a Venezuela deveria dirigir esforços para outras tecnologias que reduzam a emissão de gases-estufa associada à atividade petroleira, “como o chamado sequestro de dióxido de carbono, gerado nas refinarias para sequestrá-lo no subsolo de poços de petróleo e evitar que vá para a atmosfera”.

Outros sócios da Opep “adiantam” esse tipo de pesquisa, entre eles “Arábia Saudita, Argélia e Emirados Árabes Unidos, para fugirem do rótulo de que os países petroleiros são os responsáveis pelo aquecimento global”, apontou Sánchez. A Venezuela “poderia dispor para esse fim de seus milhares de velhos poços abandonados, que permitiriam enterrar dióxido de carbono a mais de mil metros de profundidade”, acrescentou.

Briceño considera, por outro lado, que êxitos em seu campo podem impulsionar estudos para aplicar nanotecnologia a outras vertentes ambientais da indústria venezuelana do petróleo. Por exemplo, emprego e disposição do coque (resíduo sólido com mais de 90% de carbono), do qual a Venezuela produz 20 mil toneladas diárias no processo para melhorar seu petróleo pesado e o extrapesado, para transformá-los em leves aptos para a maioria das refinarias. A poeira das montanhas de coque afeta as populações do leste venezuelano que são vizinhas de instalações para melhorar o petróleo. Talvez em um futuro as nanopartículas para tratá-lo sirvam para seu resgate. 



fonte; institutocarbonobrasil.com.br

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