domingo, 11 de novembro de 2012

Especial Reciclagem


Um problema de 3.400 toneladas
Não é preciso ser um cidadão dos mais atentos para perceber que Fortaleza, assim como a maioria das cidades brasileiras, carece de uma estrutura para coleta, manejo e tratamento de lixo mais adequada e eficiente.

Para comprovar, basta fazer um teste simples: guarde aquele papel de chiclete que você acabou de tirar do bolso, caminhe em busca do cesto de lixo e responda: quantos quarteirões foi preciso até achar o local mais próximo?
Três, quatro, cinco quarteirões seria a resposta? É possível caminhar até mais!
Parece bobagem, mas somente na nossa Capital são recolhidas 3.400 toneladas de lixo diariamente, de acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam).
Dados que alertam para a importância de uma maior conscientização.
A Lei 12.305, por exemplo, busca instituir a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). O objetivo principal do projeto é a erradicação de todos os lixões – aqueles depósitos de lixo a céu aberto, sem qualquer sistema de proteção ambiental. A ideia é que esses locais sejam substituídos por aterros sanitários até agosto de 2014.

Segundo estudo desenvolvido pela Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP), para atender à demanda de forma viável, o Ceará precisaria de seis aterros grandes e outros seis pequenos a um custo de R$ 71,461 milhões. Ainda de acordo com o projeto, em todo o Brasil serão necessários 448 aterros, com valor próximo de R$ 2 bilhões.
“Não há aterro sanitário em Fortaleza, todo lixo coletado é disposto no Aterro Sanitário Metropolitano Oeste de Caucaia (ASMOC), desde o ano de 1998, através de convênio firmado entre a cidade de Fortaleza, a cidade de Caucaia e o Governo do Estado do Ceará”, explica Dellany Oliveira, coordenadora do Programa de Coleta Seletiva de Fortaleza.

Aterros podem ser a saída
Para colocar em prática a Lei 12.305, a Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública (ABLP) garante que o dinheiro virá de recursos federais já previstos quando da aprovação da lei. A verba deve ser usada na compra de terrenos, licenciamentos, projetos, entre outros recursos, durante cinco anos.
Segundo a presidente da instituição, Tadayuki Yoshimura, “os investimentos necessários para a operação, manutenção e ampliação dos aterros por um prazo de 20 anos partirão da iniciativa privada”. Ela acrescenta que o projeto também prevê a formação de consórcios de municípios e o regime de contratação por parcerias público-privadas (PPPs) para a gestão dos aterros.
O que dá para aproveitar
À parte da perspectiva que envolve o manejo de resíduos sólidos, há quem se adiante a esse processo e busque o reaproveitamento do lixo nosso de cada dia.
Segundo o Sindicato das Industrias de Reciclagem do Estado (Sindiverde), 85 empresas filiadas atuam na reciclagem de vários materiais como plástico, papel, ferro e alumínio, gerando 1.800 empregos diretos no Ceará.
Só de alumínio, nosso Estado produz 600 toneladas mensais. Desse total, 35% são latas de bebidas, 10% de perfis de alumínio (janelas, portões, etc); 15% são blocos do material (peças fundidas, iluminação, rodas de carro); outros 20% são chaparias (telhas, baús de caminhão, chapas de ônibus); enquanto 15% vêm de panelas, cabos e fios de enrolamento de motor. Os 5% restantes vêm de outros produtos que carregam o metal.
O diretor de assuntos trabalhistas e sindicais do Sindiverde, Geraldo Silva Neto, explica que as 600 toneladas mensais produzidas por aqui referem-se apenas aos materiais encaminhados para reciclagem. “Não teríamos como quantificar o que não se recicla”, lembra o diretor.
“O alumínio pode ser reciclado tanto a partir de sucatas geradas por produtos de vida útil esgotada, como de sobras do processo produtivo. Particularmente no Estado do Ceará, quase todo o material é pós-uso, ou seja, retirado do lixo ou pós-consumo”, esclarece o diretor.
Apesar de o destino inicial ser a lata do lixo, o alumínio não perde seu valor comercial. O quilo da sucata pode ir de R$ 2,00 a R$ 3,00 para compra. O preço varia de acordo com a classificação do produto; se são blocos, latas, chapas ou perfis, por exemplo. Depois de feita a triagem, limpeza e compactação, a tabela sobe de R$ 2,50 a R$ 4,00 para venda, como explica o diretor do Sindiverde.
“O preço do alumínio, como de outros metais não ferrosos, tem como balizador a cotação internacional da London Metal Exchange (LME). São commodities, o mercado de sucatas se baseia nesta cotação e também na demanda interna. Quanto mais oferta, menor o preço e vice-versa”.

Primeiros passos na ciência
Quem já visitou Quixeramobim – município do sertão central cearense, localizado a 206 quilômetros de Fortaleza – sabe que as temperaturas por lá são, digamos, um tanto elevadas. Dependendo do horário, os termômetros registram 35, 37, até 39 graus à sombra. Mesmo para quem vive na região, o calor intenso é motivo de incômodo. Não há ventilador que dê jeito!
Diante do problema climático e estimulados por professores, alunos do curso de Edificações da Escola Profissionalizante Doutor José Alves da Silveira começaram a desenvolver um projeto que vem mudando a consciência ambiental de moradores daquela região.
Batizada de “Isolamento Térmico: solução econômica e ecológica”, a ideia surgiu após os estudantes observarem que o teto do refeitório da escola era revestido de alumínio industrializado. Com uma temperatura agradável à sombra, a turma decidiu pesquisar mais sobre o metal.
“Eles estudaram o alumínio e descobriram que as embalagens Tetra Pak continham o material. Começaram a fazer testes com as caixinhas no laboratório de física e tiveram a ideia de produzir uma manta térmica”, relembra Adriana Araújo Alves, professora e coordenadora do curso de Edificações.
Das aulas teóricas para a prática, foi um pulo. As primeiras descobertas no laboratório foram suficientes para levar os alunos a campo. Devidamente orientados, eles visitaram residências de famílias de baixa renda de Quixeramobim à procura do melhor lugar para testar a manta produzida.
“Escolhemos a casa de um dos nossos colegas de turma, porque ficava na periferia, no bairro Maravilha, onde as condições eram restritas e seria mais fácil de acompanhar o processo”, garante Guilherme Farias, do 2º ano de Edificações, integrante do projeto.


 Aprendendo a exercitar a replicabilidade
Durante uma semana, a manta ficou instalada na sala da casa de Jeferson Brendan, também do 2º ano. Ele recorda, “quando chegava da rua, o calor era imenso. A sala era o ambiente mais quente”.
A mudança com a instalação da manta térmica foi nítida: diminuição média de 9 graus. Crysna Arruda, outra integrante do projeto, explica que os moradores foram orientados a anotar a temperatura sempre por volta das 13h, período de sensação térmica mais elevada, segundo a estudante.
Os gráficos, fotos e demais dados foram todos registrados no caderninho de campo e no blog (www.projetoisolamentotermico.blogspot.com). A repercussão do experimento estimulou a competição saudável. “Esse projeto despertou o interesse dos outros alunos a estarem envolvidos, seja dando continuidade ou trazendo algo inédito. Nós trabalhamos o conceito de replicabilidade, que é aplicar na sociedade o que foi aprendido na escola”, comemora a diretora Maria Josimar.
O refresco que vem da caixa
O sucesso do projeto ultrapassou os muros da escola. Segundo a professora Adriana Alves, alunos e moradores de Quixeramobim já começam a ter uma consciência ambiental maior; caixas foram espalhadas em vários pontos da cidade para incentivar a coleta do material Tetra Pak. “Os processos sobre como abrir e higienizar as embalagens foram repassados à população. Hoje, por exemplo, um estudante não consegue passar por uma caixinha sem recolher e lembrar que dá para reaproveitar. O projeto até ganhou um lema: ‘na caixinha de leite, o refresco da população’”, empolga-se Adriana.
A turma de alunos estima que, até o momento, 5 mil embalagens já foram coletadas desde agosto de 2011. O desafio, agora, é ampliar a produção de mantas térmicas e viabilizar a comercialização. De acordo com a coordenadora do curso de Edificações, uma manta térmica industrializada custa, em média, R$ 6,00. Já a manta produzida com o alumínio das caixinhas custa R$ 0,60, valor que paga as despesas com linha nylon, grampos e fitas isolantes.
“Nós produzimos em ritmo lento, porque temos apenas uma máquina comum. O ideal seria uma máquina industrial, daquelas de costurar saco. Temos até uma relação de espera pelas mantas”, garante Adriana Alves. A professora acredita que o projeto é viável para construtoras de casas populares, “muitos se preocupam com a estética, porque não querem as logomarcas no teto de casa; mas a caixinha tem 5% de alumínio, o raio de sol tem de passar por essa camada sempre. Então, não importa de que lado ela esteja, o efeito vai ser o mesmo”.











Quando a sucata vira formosura
Rolamentos, roscas, porquinhas… Peças de metal que facilmente acumulariam em sucatas e ferros-velhos transformam-se em beleza e formosura nas mãos do artista plástico cearense Roberto Fonseca, natural de Boa Viagem e radicado em Fortaleza.
Trabalhando em sua residência no bairro Mondubim, localizado na zona Sul da cidade, o artista cria – a partir do que viraria lixo – bailarinas, músicos, pescadores; personagens longilíneos que permeiam o imaginário da população da cidade. Até mesmo a índia Iracema, símbolo-mor de Fortaleza, também já foi criada por esse artista, que carrega nos olhos o brilho de quem sabe que faz um belo trabalho. E a criação fez sucesso! “A Iracema é a peça que mais sai”, diz Roberto, com um sorriso no rosto ao mostrar um exemplar da índia.
Chegando na Capital aos sete anos de idade, o menino Roberto Fonseca já sabia que gostava de criar o belo. Tinha o costume de esculpir peças em madeira e cerâmica, já demonstrando o dom das artes plásticas. O anos foram passando e, com eles, a arte foi ficando para trás, cedendo lugar ao trabalho sério, sisudo. “Eu trabalhava com o conserto de balanças mecânica, criando as peças de alumínio. Fazia eu mesmo as peças, porque elas não existiam para vender”, explica o artista, que durante anos deixou dormente o talento para dar lugar à profissão que considerava prudente.
Somente com o decorrer dos anos veio à tona a lembrança da atividade lúdica praticada durante a infância. Por sugestão dos familiares, Roberto resolveu retomar a ação de criar esculturas a partir do que era considerado lixo pela maioria. Mesmo sem ter total consciência da importância desse tipo de trabalho, Roberto acabou ingressando em um universo de artistas plásticos que se utilizam de técnicas sustentáveis para produzir beleza. “Com esse trabalho dá para reciclar o lixo”, brinca o artista, que sabe que mesmo com um tom jocoso, a afirmação é verdadeira. “Compro algumas peças em sucata, locais onde o metal ficaria acumulado”, explica.
Vendendo sua produção na Central de Artesenato (Ceart) em Fortaleza, o artista plástico já teve suas peças usadas como troféus de congressos e associações. E o reconhecimento não vem à toa. Unindo transpiração à inspiração, Roberto já colhe os frutos do esforço e trabalho responsável empregados no ofício.
“Produzo um monte de peça de uma vez, em dois dias tem cerca de 23 peças concluídas”, explica. Somente o Congresso Nacional de Advogados Trabalhistas, realizado em um hotel da avenida Beira-Mar, se utilizou de nada menos do que 80 peças encomendadas dele.
Sua arte também já foi utilizada como troféu pela Associação Cearense de Magistrados, Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Maracanaú e já foi exposta na Casa Cor Ceará. Recentemente, Roberto venceu a 16ª Edição do Concurso de Presépio Artesanal – promovido pela Ceart – se utilizando da tipologia metal.
E com humildade, Roberto segue transformando o que seria lixo em beleza e encantando quem põe a vista em alguma de suas obras, seja uma virgem dos lábios de mel ou um jangadeiro do Mucuripe.
 fonte: /hotsite.diariodonordeste.com.br/reciclagem/


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