A década de 1970 inaugurou uma nova fase do capitalismo, caracterizada pela recorrência de crises. Nesse período, o capitalismo aportou à sociedade um conjunto quase que simultâneo de crises. Já passamos por crises energéticas, externas, da dívida, financeiras, imobiliárias, mobiliárias, inflacionárias, de alimentos e socioculturais. E a sociedade ainda passou a conviver com uma crise ecológica. Essa visão foi reforçada pelo relatório do Fórum Econômico Mundial Riscos Globais 2013, alertando sobre o aumento da probabilidade de ocorrência de novos desequilíbrios.
A crise ecológica se mostra como o grande desafio para a sociedade, uma vez que seus efeitos e suas soluções não estão restritos às ações de uma única nação. As inúmeras conferências ambientais são prova de tal desafio, em que nunca há um consenso. A crise ecológica, a elevação dos preços de gêneros alimentícios e a crise econômico-financeira iniciada em 2008 trouxeram à tona um debate que é tratado como um tabu pelos economistas: o limite absoluto imposto pelos ecossistemas ao crescimento econômico perpétuo.
A economia é sustentada pelo constante aumento da produção, não pelo aumento de bem-estar. Mas a base energética e material que sustenta a economia é limitada pela disponibilidade de recursos naturais como fonte de insumo ou depósito de resíduos. Assim, os limites biofísicos do planeta colocam uma barreira intransponível à expansão perpétua da economia, embora os modelos econômicos adotados pelos governos não incorporem essa perspectiva. Desse modo, o uso do crescimento econômico como uma saída para as crises, para a busca do sonhado “pibão” ou para o também sonhado desenvolvimento dos países pobres talvez não esteja mais disponível.
Essa perspectiva é sinalizada nas conferências ambientais, até é reconhecida por alguns governos, mas infelizmente não é incorporada nas decisões e nos modelos econômicos, nem ensinada nas escolas de Economia. Além disso, a história tem mostrado que o crescimento não é suficiente para tornar uma sociedade desenvolvida ou mesmo para elevar o seu grau de bem-estar. O bolo já estragou. E a recente crise econômico-financeira revelou que os remédios prescritos no passado não têm surtido efeito.
A insistência na busca pelo pibão a qualquer custo tem contribuído apenas para agravar a crise socioecológica, sem efeitos práticos sobre o bem-estar. Por exemplo, a redução do IPI para os automóveis quase não afetou o produto da economia, mas aumentou os congestionamentos, o consumo de combustíveis e as emissões de gases de efeito estufa, sem contar os gastos com saúde.
Nesse contexto, qual deve ser a alternativa para a economia brasileira que leve em conta as restrições biofísicas do sistema natural? Que elementos deveriam compor um modelo econômico-ecológico? A resposta a essas questões passa por uma reformulação dos modelos econômicos que hoje não incorporam a variável ecológica. Além disso, os formuladores de política precisam empreender o aprofundamento de ações efetivamente de longo prazo, que visem incorporar os pressupostos do desenvolvimento sustentável e não apenas a adoção de ações paliativas de curto prazo baseadas em modelos equivocados. Caso contrário, os custos socioeconômicos seguirão aumentando.
Junior Garcia, doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pelo Instituto de Economia da Unicamp, é professor adjunto do Departamento de Economia da UFPR.
fonte: ecodebate
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