Por Sônia Araripe, Diretora de Plurale em site e Plurale em revista
Mesmo quem milita no ramo da sustentabilidade, costuma deparar-se com a dificuldade em expressar, em poucas palavras, o que realmente significa este conceito. Termo relativamente novo – surgido e disseminado pela sociedade principalmente nos últimos 20 anos – até hoje requer reflexão sobre sua conceituação.
Se, para alguns autores, o conceito já começava a se delinear em 1962, com Rachel Carson, no seu revolucionário “Primavera Silenciosa”, com o começo das discussões sobre meio ambiente, para muitos, apenas em 1980, que esta abordagem passou a ser mais tangível, a partir de Lester Brown, fundador do Worldwath Institute. A ex-primeira ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que acabou por batizar o famoso Relatório Brundtland, é outra responsável por esta conceituação na linha do tempo. Finalmente, mas não menos importante, como dizem os britânicos, John Elkington, fundador da ONG Sustainability, foi mais do que relevante ideólogo do que hoje conhecemos pelo nome de sustentabilidade, ao reforçar, em 1990, o tripé econômico, social e ambiental.
Mas, afinal, de que sustentabilidade estamos falando? Considero essencial sempre frisar que este é um diálogo ainda em construção. Atravessando a linha tênue entre o tangível e intangível. Se as Ciências Exatas podem se apropriar de teoremas e fórmulas definitivas, aqui estamos falando de um processo coletivo que está ajudando a ser formulado com a participação de cada um de nós. Que tem sim, muito que ser contabilizado e aferido. Mas que também reúne uma infinidade importantíssima de ações em terreno tão relevante quanto intangível.
A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva, em recente evento promovido pela Confederação Nacional de Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização ( CNseg), no último dia 11 de dezembro de 2012, no Rio, na entrega do Prêmio Antônio Carlos de Almeida Braga, trouxe luz para esta realidade. Além do conhecido tripé, base da sustentabilidade, Marina somou outras vertentes mais do que essenciais neste diálogo em construção.
Marina Silva fez discurso fortemente aplaudido pelos cerca de 400 executivos presentes. Alertou para a grave crise civilizatória atual, destacou a relevância de se praticar sustentabilidade em várias frentes, inclusive política e ética e marcou o papel de cada um nesta busca por um modelo de desenvolvimento mais sustentável.
Marina destacou o compromisso do mercado de seguros com a sustentabilidade e o papel relevante do Brasil na busca por um modelo sustentável, principalmente dos mais jovens. “O Brasil é um país jovem, que não pode desperdiçar a grande oportunidade de fazer desenvolvimento sustentável. E os jovens precisam ter ideais, acreditar que podem ser protagonistas deste processo”, afirmou.
O principal homenageado do dia, o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga, mais conhecido como Braguinha, um dos fundadores da atividade de seguros no Brasil, conversou com exclusividade com esta colunista. Lembrou que no seu tempo de empresário não se falava ainda em sustentabilidade, mas várias premissas já estavam presentes. “Praticávamos, quando ainda nem existia esta conceituação”, disse. Ele reforçou também o relevante papel dos jovens, que devem ter acesso a Educação de qualidade e também a todos os serviços básicos. Almeida Braga frisou que o Brasil está literalmente na moda no mundo. “Vejo isso na Europa e em outros países”, disse o executivo.
O Brasil que surge como potência de destaque no cenário global não é mais o da triologia turística de samba, suor e carnaval. Mas sim um país moderno, capaz de abrigar grandes eventos – como a Copa e as Olimpíadas que se aproximam – da geração de empregos, da pujante economia, estável consolidada. Claro, ainda com fortes distorções sociais, mas que foi capaz de avançar – e muito – nos últimos anos. Em campos tão distintos quanto a Neurociência de ponta ou na produção de aviões militares e executivos de primeira linha. Na pesquisa de biodiesel e outras energias limpas, como a solar e eólica, e na tecnologia social de como retirar da linha da pobreza cerca de 35 milhões de pessoas.
Potência que ajudou a liderar e consolidar os rumos da Conferência Rio + 20 e em outros fóruns globais relevantes. País com empresas capazes de mostrar resultados tangíveis na redução das emissões, no combate ao trabalho escravo, no desmatamento na Amazônia, capaz de consolidar diálogo entre diversas partes envolvidas em diferentes processos de construção coletiva. Mercado com empresas sustentáveis capazes de competir globalmente, mesmo com uma das mais altas cargas tributárias do mundo. Com setores bancário, de seguros, previdência, saúde e de capitalização sólidos e avançados, que conquistam reputação internacional.
Todo este processo em curso caminha na direção do que os especialistas chamam da migração para a novíssima economia, capaz de gerar desenvolvimento sustentável em novas bases, baseada na cooperação social e no esforço por preservar e regenerar serviços naturais dos quais se depende tornam-se decisivos. Sobre esta mudança, recomendo a leitura do recente livro “Muito além da Economia Verde”, do professor Ricardo Abramovay, do Departamento de Economia da Faculdade de Economia da USP.
Claro, existem ainda muitos – e relevantes - obstáculos no caminho. Megacidades cada vez mais inchadas, descasamento nos currículos entre a formação de jovens e as necessidades do mercado de trabalho, excesso de burocracia, crise moral e ética, lentidão no Judiciário e por aí segue uma longa lista. Mas em um ponto, não há dúvida: o Brasil tem sim uma chance única e imperdível de liderar o processo de destacar-se como potência sustentável. Oportunidade única, com cada um de nós se engajando neste diálogo em construção, ou nos arrependermos por nos tornarmos reféns e cúmplices de nossa própria história.
(*) Artigo originalmente publicado no Portal de Sustentabilidade da CNSEG, onde Sônia Araripe tem nova coluna.
fonte: http://www.plurale.com.br
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