Apesar de estarem mais otimistas em relação aos mercados emergentes de carbono, investidores consideram cada vez mais irrelevantes o esquema europeu e o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU.
Todos os anos, a Thomson Reuters Point Carbon realiza uma pesquisa com várias categorias de participantes dos mercados de carbono ao redor do mundo, e os resultados de 2013 deixam transparecer um desânimo generalizado em relação a esse tipo de ferramenta para o corte de emissões de gases do efeito estufa.
O esquema europeu de comércio de emissões (EU ETS) “não tem mais um impacto significativo no corte de emissões”: essa é a opinião de 20% dos entrevistados. O sentimento é atribuído aos valores fracos que o sistema tem registrado, notou Emil Dimantchev, analista da TRPC e autor do relatório.
Quanto às perspectivas futuras, as opiniões são um tanto mais otimistas, com 65% afirmando que a proposta de adiamento dos leilões sob o EU ETS será aprovada. Cerca da metade dos entrevistados considera o valor do carbono em longo prazo um fator decisivo para investimentos.
“Se essas propostas falharem, o mercado ultrapassará um ponto sem volta além do qual o comportamento tanto dos preços quanto das empresas será drasticamente diferente”, comentou Dimantchev.
Em relação à reforma mais completa do EU ETS, cerca de 77% dos questionados acreditam que a União Europeia assumirá uma meta mais ambiciosa para o corte de emissões em 2020.
Já sobre o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), os participantes relatam um colapso sem precedentes nas atividades do esquema, sendo que 45% têm planos para terminar seus investimentos nos próximos três anos, um índice três vezes maior do que na pesquisa do ano passado.
Metade dos questionados pretende acabar ou reduzir as atividades no mercado primário – no ano passado eram apenas 37%. No mercado secundário, 16% dos participantes relatam planos de saída ou redução das atividades.
Com a demanda estagnada e a oferta crescente, os valores sob o MDL despencaram 90% no ano passado e essa é uma tendência que parece “cada vez mais irreversível”, lamenta Dimantchev, ecoando pouco mais da metade dos questionados que acreditam que os preços permanecerão baixos.
Quase dois terços se mostraram dispostos a entrar no mercado voluntário de carbono, sendo possível para os projetos que, além do corte de emissões, apresentem benefícios ambientais e sociais amplos, explicou o analista.
Surpreendentemente, alguns participantes do mercado – pouco menos da metade – ainda mostram certeza de que o MDL é a forma mais efetiva financeiramente para reduzir emissões em países em desenvolvimento, sendo que a quantidade de pesquisados que têm essa opinião subiu 7%. Na mesma linha, uma fatia maior de questionados – um terço – vê o mercado como maduro em relação à pesquisa de 2012.
Uma área do MDL em que parece haver mais atenção é o Programa de Atividades (PoAs). O relatório nota que no ano passado o primeiro PoA – distribuição de lâmpadas compactas fluorescentes no México – teve seus créditos emitidos, assim como mais dois no início de 2013 (China e Bangladesh).
Mesmo assim, a fatia de questionados que disse não ter planos de investir em PoAs subiu 10% para 47%.
A desilusão quanto às negociações multilaterais no âmbito das mudanças climáticas também é generalizada. Pela primeira vez desde Copenhague (2009), a maioria dos questionados se decepcionou com o resultado da ultima Conferência Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, com apenas 27% enxergando um novo acordo global com metas compulsórias para os maiores emissores. Mais de um terço espera a continuidade para além de 2020 do atual regime de compromissos individuais.
Os mercados emergentes têm sido a grande esperança do setor de comércio de emissões. Na Califórnia, 60% dos questionados que têm obrigações sob a Western Climate Initiative (WCI) disseram que estão começando a operacionalizar transações e 53% declararam que têm planos de redução das emissões. A maioria espera um preço entre US$ 10 e US$ 15/t em 2013.
Na Austrália, 65% dos entrevistados acreditam que o programa de cap and trade iniciará como planejado, em julho de 2015, apesar da oposição. Um sistema de comércio de emissões implementado na Coreia do Sul até 2015 também parece fazer sentido para dois terços dos questionados que atuam no país.
Já na China, apenas um terço dos entrevistados acredita que alguns dos programas piloto de comércio de emissões entrarão em operação em 2013, porém cerca de 60% enxerga o maior emissor mundial com um sistema de cap and trade ativo em 2020.
O futuro
A grande maioria dos participantes na pesquisa acredita que o EU ETS continuará existindo após 2020 e, de fato, a legislação atual estipula essa continuidade com uma queda no limite total de emissões de 1,74% ao ano.
No âmbito do MDL, o Comitê Executivo tem lançado uma série de ações propondo formas para lidar com a crise, porém, mais da metade dos pesquisados descreveram as discussões – chamadas CDM Policy Dialogue 2012 – como não sendo muito úteis e não acreditam que várias propostas serão implementadas.
Entretanto, questionados sobre a possibilidade de demanda adicional em médio prazo, a maioria respondeu afirmativamente, com 42% acreditando que as RCEs continuarão a ser usadas em sistemas locais, como os programas piloto da China.
Significativos 29% enxergam demanda em iniciativas nacionais como as NAMAs (Ações Nacionais de Mitigação Apropriadas às realidades Nacionais). Outros 29% estão pessimistas que haja nova demanda por RCEs em médio prazo.
A ampliação do escopo de países hospedeiros de projetos de MDL também é um dos focos das atividades do Comitê Executivo, já que a partir de 2012, apenas RCEs vindas de países menos desenvolvidos serão aceitos sob o EU ETS. Porém, a pesquisa mostrou que a maioria dos investidores do MDL não tem planos de desenvolver tais projetos.
“Os preços baixos das RCEs significam que os projetos nos países menos desenvolvidos continuarão a ser conduzidos por fundos governamentais ao invés de capital privado”, coloca o relatório.
Restrições adicionais para elegibilidade das RCEs sob o EU ETS são esperadas por 96% dos participantes no MDL, especialmente para projetos de grandes hidroelétricas, ácido nítrico e eficiência energética em usinas a carvão.
Dois terços dos questionados dizem ser preciso um preço mínimo de €5/t para justificar os investimentos no MDL, portanto, o relatório conclui que o repasse desses recursos será muito limitado já que a previsão é de que as RCEs custem em média € 0,44/t entre 2013 e 2020.
fonte: http://www.institutocarbonobrasil.org.br
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