Pesquisadores da iniciativa Carbon Tracker e do Instituto de Pesquisas Grantham divulgaram nesta semana um relatórioexplicando como entre 60% e 80% das reservas de carvão, petróleo e gás natural apresentadas pelas grandes companhias do setor na verdade nunca poderão ser aproveitados por causa de tratados climáticos internacionais. Assim, o valor dessas empresas estaria supervalorizado, representando uma ‘bolha’ financeira que pode vir a estourar, causando uma nova crise econômica mundial. O documento recebeu o apoio de diversas entidades, como o HSBC, Standard and Poor's e a Agência Internacional de Energia (AIE).
“Investidores inteligentes já podem ver que apostar em companhias que são extremamente dependentes das reservas de combustíveis fósseis está se tornando bastante arriscado. Nosso relatório levanta sérias questões sobre a capacidade do sistema financeiro de agir sobre o risco de longo prazo dessa indústria, já que a única medida utilizada para avaliar os riscos trata-se da comparação dentro do mesmo setor”, afirma o ex-diretor de economia do Banco Mundial, Nicholas Stern, um dos autores do relatório e atualmente professor da London School of Economics.
O relatório afirma que cerca de 25% das reservas mundiais de combustíveis fósseis está listada em bolsas, um total de 762GtCO2. Para se manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC, como pedem tratados climáticos internacionais já em vigor, o máximo que pode ser queimado, de acordo com os pesquisadores, seria algo entre 125GtCO2 e 225GtCO2 (veja imagem). Mesmo se fossem utilizadas novas tecnologias, como a captura e armazenamento de carbono (CCS), apenas mais 125GtCO2 estariam liberados para o uso.
Segundo James Leaton, diretor de projetos da Carbon Tracker, a grande ameaça está na visão de curto prazo que predomina nos mercados. “Analistas afirmam que você deve seguir no trem até o momento em que ele começa a cair do desfiladeiro. Cada um deles acredita que é inteligente o bastante para abandonar o trem antes que seja tarde, mas pode ser que todos acabem querendo sair pela porta ao mesmo tempo. É isso que estoura uma bolha e provoca a quebra dos mercados.”
Stern salienta ainda que ao invés de estarem se prevenindo desse tipo de situação, as companhias estão investindo mais e mais nos combustíveis fósseis. “As 200 maiores empresas do setor gastaram US$ 674 bilhões em 2012 para encontrar e explorar novas reservas, uma quantia equivalente a 1% do PIB mundial. Todo esse dinheiro pode estar sendo gasto em atividades que não poderão ser realizadas.”
O documento destaca que o risco tem crescido a cada ano e que os investidores, empresas e governos não estão se dando conta do impacto que a mudança para uma economia de baixo carbono terá sobre o mercado financeiro.
Os pesquisadores apresentam uma série de recomendações para evitar a crise da bolha do carbono. Ministros de Finanças deveriam iniciar um processo internacional para incorporar as mudanças climáticas no gerenciamento de riscos dos mercados. Além disso, agentes reguladores deveriam obrigar as companhias a deixarem informações transparentes e acessíveis sobre emissões de gases do efeito estufa relacionadas às suas atividades.
Para os investidores, o relatório aconselha um maior engajamento na cobrança das responsabilidades climáticas das empresas. Analistas e agências de avaliação deveriam apresentar com maior detalhe e levar mais em conta os riscos climáticos presentes nos negócios.
“Investidores institucionais são atualmente incentivados a buscar os melhores resultados no mercado, em vez de buscarem entender os valores e os riscos envolvidos. Mais indicadores financeiros deveriam ser postos em prática para facilitar o acesso às informações sobre os riscos climáticos”, declarou Leaton.
Esse não é o primeiro estudo a levantar a preocupação com a “bolha de carbono”. Em fevereiro, a Smith School of Enterprise and the Environment, da Universidade de Oxford, lançou um programa para avaliar o tema.
“Os investidores continuam a empregar centenas de bilhões em setores poluidores e insustentáveis. Em muitos casos esses investimentos não valerão o que os investidores esperam”, afirmou Hon John Gummer, presidente do comitê de Mudanças Climáticas da Smith School.
O programa deve durar quatro anos e pretende detalhar o risco potencial dos investimentos em setores com alta concentração de dióxido de carbono, como carvão, petróleo e aço.
fonte; http://www.institutocarbonobrasil.org.br/negocios_e_novas_tecnologias/noticia=733778
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