quinta-feira, 11 de abril de 2013

Seca agora é problema de Primeiro Mundo

energia & crédito carbono


Por Flamínio Araripe, Editor do Blog Desimblogio , Especial para Plurale em revista
Esta matéria é destaque na Edição 34, Especial Água de Plurale em revista, que está circulando 
O Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária no Ceará em 2012 caiu de R$ 6,5 bilhões para R$ 600 milhões em consequência da seca que assolou o Nordeste, considerada a maior dos últimos 40 anos. A estação de chuvas nesta região em 2013, prevê a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), será 40% abaixo da média histórica.

O prognóstico de continuidade da seca ampliará o número de carros-pipas nas estradas no interior dos sertões nordestinos e em algumas cidades onde as fontes hídricas se esgotaram. As invasões de agricultores famintos, cena comum até meados da década de 90 nas feiras e mercados de cidades nordestinas na seca, hoje é contida pelos programas de transferência de renda e bolsas de compensação pela estiagem e seguro por perda da safra.
Mas o gado não escapa. A Federação da Agricultura do Ceará estima de 100 mil cabeças as perdas do rebanho bovino no estado. A agricultura de subsistência que depende de chuvas não teve colheita. A água, que já é um bem escasso na região, até para beber se tornou mais difícil.
A seca, que era tradicionalmente um problema do semiárido nordestino ou da África, agora atinge os países desenvolvidos. Causou a quebra da safra do milho nos Estados Unidos. Ondas de calor com queimadas e escassez hídrica afligiram a Austrália. Prejuízos da seca impactaram a Espanha e México. Todos estes países – e inclusive o Ceará – são objeto de estudo comparativo do Banco Mundial.
Agora é um problema do Primeiro Mundo. Por coincidência, este ano, nos dias 11 a 15 de março, em Genebra, a Organização Meteorológica Mundial, Convenção das Nações Unidas sobre Combate à Desertificação (UNCCD) e a Organização da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO) realizaram Reunião de Alto Nível sobre Política Nacional de Secas. O encontro teve a participação de ministros e chefes de Estado com o objetivo de induzir as nações a adotar até 2020 uma agenda permanente para lidar com as secas, de modo diferente da atitude improvisada das medidas de emergência.
O Plano Nacional de Segurança Hídrica, a ser elaborado até 2014 pelo Ministério da Integração Nacional e Agência Nacional de Águas (ANA) é um passo no sentido da adoção de uma visão sistêmica do que fazer com relação ao convívio com as secas. O quadro de mudanças climáticas com redução das chuvas desafia a uma política de seca permanente, sem improvisos.
A necessidade de obras que proporcionam segurança hídrica é um consenso no processo civilizatório, na manutenção do homem no espaço geográfico. A constatação é universal. Na maior região semiárida habitada do planeta, o Nordeste brasileiro, esta máxima é confirmada. A região precisa de barragens, adutoras e perímetros irrigados para garantir a sustentabilidade e permitir avanços no processo de desenvolvimento.
Há muitos vazios hídricos a serem preenchidos e vulnerabilidades. O Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – Dnocs - ao longo de 103 anos de atuação construiu 327 barragens nos estados nordestinos, 37 perímetros de irrigação e tornou perenes mais de 4 mil km de rios intermitentes, de modo a evitar o êxodo rural nestas regiões.
A conclusão do primeiro trecho das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional (Pisf), que vai da captação em Cabrobró, no Pernambuco, a Jati, no Ceará, está prevista para o final de 2014, conforme anuncia o secretário de Infraestrutura Hídrica do Ministério da Integração Nacional, Francisco Teixeira. A conclusão dos dois eixos que vão levar água aos estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, é anunciada para 2015 numa visão otimista - ou 2016.
Moradores do sertão de Pernambuco, no interior de outros municípios do estado além dos que margeiam o Rio São Francisco, sem sair de casa, já bebem desta fonte para matar a sede. Neste caso, a água do Velho Chico não chega através do carro-pipa. O abastecimento é assegurado em vazão regular com a tecnologia das adutoras, por meio de bombas de captação, tubulações de aço, estações elevatórias, tanques de amortecimento e válvulas de descarga para estações de tratamento que entregam a água potável em sedes de municípios e distritos.
A água das torneiras dos 80 mil habitantes de Serra Talhada, em Pernambuco, veio do Rio São Francisco, transportada através da adutora do Pajeú no trecho de 112 km concluído pelo Dnocs, que no dia 6 de fevereiro tirou o município do colapso no abastecimento. A água vence distâncias de até 724 km da captação no Rio São Francisco, é bombeada através de serras com até 850 metros de altitude acima do nível do mar, para hidratar o sertanejo.
A obra, que faz parte da fase executada da I Etapa da adutora, foi festejada na cidade. A solenidade de entrega, em 25 de março, contou com as presenças da presidenta Dilma Rousseff, do governador do estado, Eduardo Campos, hoje aliado do governo, no tabuleiro da sucessão presidencial, e de várias autoridades.
A água do Rio São Francisco é transportada numa vazão de mais de 100 metros cúbicos por segundo, desde a captação no Lago Itaparica, no município de Floresta, onde abastece o distrito de Nazaré do Pico, até a estação de tratamento da Companhia de Água e Esgotos do estado, a Compesa, em Serra Talhada. A adutora opera com duas bombas que impulsionam a água através de tubulações de 600 mm de ferro fundido, numa extensão que inclui quatro elevatórias das seis previstas da I Etapa da obra, que chegará ao município de Afogados de Ingazeira, no total de 197 km.
O coordenador de Obras da diretoria de Infraestrutura Hídrica do Dnocs, Glauco Mendes, informou que a água do rio São Francisco chegou às torneiras da população de Serra Talhada no prazo dado ao Ministério da Integração Nacional. O engenheiro-chefe da Comissão Fiscal da obra pelo órgão, Roberto Sérgio Limeira, relata que primeiro foi providenciada a interligação de um açude pequeno por meio da adutora do Saco para abastecer Serra Talhada enquanto não chegava a água da adutora do Pajeú.
Todavia, a qualidade da água do açude era barrenta e foi um alívio para a população quando chegou a do São Francisco, pois o manancial próximo está exaurido. “O quadro do abastecimento de água em Serra Talhada estava no limite do limite”, disse Limeira, ao comemorar a conclusão da fase da obra da adutora do Pajeú que classificou de “grande conquista”.
Também é captada no Rio São Francisco, em Orocó, no Pernambuco, a água da Adutora do Oeste, que percorre 724 km em tubulação com vazão de 483 litros por segundo e atende a 43 municípios pernambucanos e seis do Piauí, uma população de 724 mil habitantes. A infraestrutura foi construída pelo Dnocs, dotada de tubulações com diâmetro de 700 a 75 mm pelo qual a água é bombeada por seis estações elevatórias e duas subestações. Na Bahia, opera a adutora do Algodão, construída pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) que leva água do rio São Francisco através 279,5 km de tubulação para oito municípios do sertão baiano.

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