Por Janaína Salles, Especial para Plurale em revista
Foto Thaís Rocha/Divulgação
É verão no Rio de Janeiro, os termômetros marcam em torno dos 38º. Mas a chegada de uma frente fria começa a mudar o cenário, trazendo nuvens carregadas: promessa de chuva rápida, típica da estação. Téo Cordeiro, no terraço de seu apartamento em Olaria, zona norte da cidade, observa o céu e registra a chegada da chuva com sua Nikon FM2.
Permacultor, Cordeiro é um dos integrantes do Instituto PermaRio, criado para difundir conhecimentos sobre como aproveitar melhor os recursos naturais existentes e formas corretas de descartar resíduos, por exemplo. Ele conta que quando chove fica no terraço observando a chuva cair e se acumular nas duas bombonas, de 200 e de 120 litros, instaladas para captação da água.
“Dá um certo desespero de ver a água indo pelo ralo e eu não conseguir usar”, diz o permacultor, explicando que o volume é tão grande que daria para encher uns cinco recipientes de 200 litros, mas que não tem como colocar mais peso no espaço de 30m2, também repleto de vasos de hortaliças, frutas e flores. Segundo Téo Cordeiro, a água que consegue captar é utilizada em quase tudo no apartamento onde mora com a esposa Danielle Costa: na limpeza, no vaso sanitário, para lavar roupa, para irrigação e até para tomar banho.
Para ele, uma alternativa ao mau uso que se faz habitualmente dos recursos hídricos disponíveis: “O consumo e o planejamento das cidades é, historicamente, pelo menos falando sobre o Brasil, de muito desperdício, ou seja, essa coisa que é a estrutura do apartamento, que é o símbolo da grande cidade, é uma estrutura que trata a água de uma maneira completamente irracional”.
Com a proximidade da chegada de seu primeiro filho, Téo considera que a água é de fato o principal problema a ser resolvido nas grandes cidades, por esta e pelas próximas gerações, por causa do aumento da demanda e das poucas fontes de recurso.
No mundo, “acho que até 2005 ou 2006 a gente tinha a maior concentração das pessoas ainda vivendo em área rural. No Brasil, já superamos esta porcentagem desde a década de 60, mas no mundo isso só inverteu recentemente. Vamos ter aí um padrão de crescimento para os grandes centros urbanos acelerado nos próximos anos, principalmente nos países que estão se industrializando de uma maneira muito rápida, como a China e a Índia”.
Ele aponta um momento histórico da cidade do Rio de Janeiro como símbolo da necessidade de repensar o uso do recurso hídrico. A cidade enfrentou falta de água do início até meados do século XIX, pois as várias fontes oriundas da Floresta da Tijuca foram secando, devido ao desmatamento desordenado, que vinha dando espaço ao cafezal.
Foi a necessidade de água que fez Dom Pedro II ordenar a saída dos produtores do local e o reflorestamento da região. Porém também é “desde esta época que a nossa grande fonte de água é o rio Guandu. A gente está completamente dependente. Qualquer poluição ou estiagem, o fornecimento de água fica prejudicado”, alerta.
Para o permacultor é preciso pensar em duas ações: economizar e achar novas fontes de recurso. Estudos apontam que cerca de 33% da água gasta em uma residência vai, literalmente, pelo ralo. Quer dizer que todo este volume vai parar no vaso sanitário. “E para a descarga você não precisa ter uma água que passa por todo o processo de filtração. Você poderia muito bem reaproveitar para fazer esse uso. É uma questão básica”.
Téo destaca que outro grande consumo da água ocorre durante o banho, também em torno de 30%. Por isso é preciso economizar, diminuindo o tempo embaixo do chuveiro e fechando o registro quando estiver ensaboando e passando shampoo ou creme. Já a limpeza representa 20% do total do uso. Por isso, se a água da torneira fosse substituída pela água da chuva na descarga e na limpeza pelo menos, isso já representaria uma economia de 50% para o bolso.
Como a instalação do sistema de captação de água de chuva também pode ser muito simples e barata, é para Cordeiro a alternativa mais viável de fonte de água, principalmente para quem mora em casa, cobertura ou tem acesso ao terraço de um prédio. “Tem gente que utiliza cisterna mesmo, de 15 mil litros, é um tipo de captação”.
Em sua casa ele instalou a Minicisterna para residência urbana, criada por Edison Urbano, ex-técnico de eletrônica que, por necessidade de economizar, foi buscar soluções, criando diversos sistemas sustentáveis.
Há três elementos do sistema criado por Edison que tornam o processo mais completo e que não têm em outras captações: filtro para separar a sujeira da água, um cano para separar a água limpa da água suja e outro cano que funciona como redutor de turbulência.
A minicisterna funciona da seguinte maneira: são instaladas calhas no telhado para captação da chuva. A água então desce pelo cano ligado à calha e passa pelo primeiro processo de filtragem: um filtro produzido com tela de mosqueteiro, autolimpante e com espaço para saída de sujeiras grossas, como folhas, pedras.
A água então entra em duas tubulações. A primeira, na vertical e instalada fora da bombona, armazena e possibilita a eliminação apenas dos primeiros 10 minutos de chuva, pois pesquisas mostraram que a água limpa a atmosfera, as impurezas do ar, fazendo com que esta chuva inicial seja mais suja. Quando este cano enche a água passa a entrar no recipiente pela outra tubulação, ligada à bombona (conforme imagem).
No fundo do recipiente é colocado um cano que funciona como redutor de turbulência, para a água, ao entrar, não “remexer” a que já está armazenada, levantando alguma impureza ou detrito acumulado no fundo. Há ainda uma quarta tubulação para saída do líquido em excesso e um buraco pequeno feito para se verificar a quantidade e qualidade da água e para colocar cloro orgânico quando for necessário tratá-la.
Urbano explica que para fazer tudo isso é necessário pouco material: calha, canos de PVC, cola de PVC, torneira, bombona e tela de mosqueteiro. Os gastos com tudo ficam em torno de uns R$ 300, preço de um dos filtros se for comprado em loja.
“Eu tenho esse foco do faça você mesmo. Não uso nada sofisticado. Além disso, tudo o que eu faço, tem um lado de educação”, resume Edison, que disponibiliza gratuitamente tem todos os manuais de sistemas criados por ele em seu site www.sempresustentavel.com.br.
“Hoje eu sou uma pessoa completamente diferente de 15 anos atrás. Com muito respeito, com muita economia e o cuidado para não sujar a água. O problema do planeta não é a falta de água, é a sujeira. O que está se esgotando é a água limpa, potável. Muito mais importante que a economia é cuidar da água, dos mananciais. Isso que está se matando”, alerta.
Essa e outras ideias ele faz questão de passar adiante. Por isso coloca todas as informações em seu site e promove cursos, workshops pelo país. “É só me chamarem. O importante é disseminar os projetos e criar multiplicadores, como o Téo, que fez o curso comigo, colocou o sistema em sua casa e hoje ensina outras pessoas”.
Quem também quiser informações sobre os cursos oferecidos pelo PermaRio pode acessar o site: www.permario.org.:
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