quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Mundo usa excessivamente reservas de água subterrânea para agricultura

O mundo está esgotando as reservas de água subterrânea mais rapidamente do que elas podem ser repostas devido à sobreexploração, de acordo com cientistas do Canadá e dos Países Baixos.
Os pesquisadores, da Universidade McGill de Montreal e da Universidade Ultrecht nos Países Baixos, combinaram dados do uso de águas subterrâneas do mundo todo com modelos computadorizados desses recursos para chegar a uma medida do uso de água em relação à oferta.

A medida mostra que a pegada de água subterrânea – a área acima do solo que depende da água de fontes subterrâneas – é cerca de 3,5 vezes maior do que os próprios aquíferos.
A pesquisa sugere que cerca de 1,7 bilhões de pessoas, principalmente na Ásia, estão vivendo em áreas cujas reservas de água subterrânea e os ecossistemas que dependem delas estão sob ameaça, disseram eles.
Tom Gleeson, de McGill, que liderou o estudo, afirmou que os resultados são “decepcionantes”, mostrando que as pessoas estão usando excessivamente as águas subterrâneas em muitas regiões da Ásia e da América do Norte.
Mais de 99% da água doce e não congelada do mundo está abaixo do solo, e ele sugere que esses enormes reservatórios poderiam ser cruciais para a crescente população do planeta se administrados apropriadamente.
O estudo, publicado no periódico Nature, descobriu que 80% dos aquíferos do mundo estão sendo usados de forma sustentável, mas isso é compensado pela grande sobreexploração em algumas poucas áreas chave.
Essas áreas incluem o oeste do México, as Grandes Planícies nos Estados Unidos, o Vale Central da Califórnia, a Arábia Saudita, o Irã, o norte da Índia e partes do norte da China.
“Essenciais para a agricultura”
“Os poucos aquíferos que estão sendo grandemente explorados são, infelizmente, essenciais para a agricultura em vários países”, declarou Gleeson à Reuters. “Então mesmo que esse número seja relativamente pequeno, essa são fontes vitais de recursos que precisam de uma administração melhor.”
Pesquisas anteriores mostraram que se usa cerca de 140 litros de água para cultivar os grãos que produzem uma xícara de café, tanto se eles são cultivados na Etiópia ou na floresta tropical colombiana.
“O efeito desse uso na oferta de água disponível será muito diferente”, escreveram os pesquisadores. “Até agora, não houve jeito de quantificar o impacto de tal uso agrícola das águas subterrâneas de qualquer forma consistente ou global.”
Gleeson disse que limites na extração de água, uma irrigação mais eficiente e a promoção de dietas diferentes, com menos ou nenhuma carne, poderiam tornar esses recursos hídricos mais sustentáveis.
A água que fica em aquíferos subterrâneos foi assunto de uma pesquisa de cientistas britânicos publicada em abril, que mapeou grandes reservas sob grandes regiões da África que poderiam fornecer uma proteção contra os efeitos das mudanças climáticas se usadas sustentavelmente.
Uma equipe da Pesquisa Geológica Britânica e da Universidade College de Londres estimou que as reservas de água subterrânea na África são cerca de 100 vezes maiores do que a quantidade encontrada na superfície do continente.
Algumas das maiores reservas estão sob os países mais secos do norte da África, como a Líbia, a Argélia, o Egito e o Sudão, mas alguns dos esquemas para explorá-las não são sustentáveis.
O maior deles é um projeto na Líbia de US$ 25 bilhões de um grande rio artificial, construído pelo regime do falecido ditador Muammar Gaddafi para abastecer cidades incluindo Trípoli, Bengasi e Sirte, com uma estimativa de 6,5 milhões de metros cúbicos de água por dia.
A rede de tubulações e poços está tragando a água, que estava sob as rochas do Saara há 40 mil anos, do solo, mas esta água não está sendo reposta.
Não é certo o quanto essa fonte de água irá durar, e estimativas variam entre 60 e 100 anos.

Traduzido por Jéssica Lipinski
Leia o original (inglês)

fonte; Instituto Carbono Brasil

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