quinta-feira, 2 de agosto de 2012


Perda de biodiversidade afeta metade das reservas tropicais mundiais

Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil
artigos e estudos
Foto de tucano por Fernando Gonçalves em Plurale em revista, Ed 29
Um novo estudo publicado no último dia 25 de julho pelo periódico Nature Climate Change revelou que cerca de metade das reservas de floresta tropical do mundo estão sofrendo uma grande perda de biodiversidade.
A pesquisa analisou dados de 60 áreas protegidas representativas em 36 países tropicais da África, América Latina e Ásia e constatou que aproximadamente metade delas apresentou um grande declínio de biodiversidade nas últimas duas ou três décadas, e 80% delas tiveram pelo menos alguma perda de biodiversidade.

Entre as reservas florestais brasileiras que fizeram parte do estudo estão a Adolpho Ducke, no Amazonas, a Caxiuanã, no Pará, e a Paranapiacaba, em São Paulo. Segundo o estudo, essa última tem presenciado uma séria perda de biodiversidade. Das brasileiras, apenas a área de Caxiuanã apresentou bons resultados.
Entre os grupos taxonômicos que mais sofreram perda de biodiversidade estão animais de grande porte, anfíbios, lagartos, cobras não venenosas, peixes de água doce, plantas epífitas, árvores antigas de grandes sementes e grandes predadores.
Entre as espécies menos vulneráveis estão primatas, alguns pássaros, cobras venenosas e animais migratórios. Já outros grupos, como espécies invasoras, cipós, trepadeiras e algumas borboletas, aumentaram no período observado.
“A coisa mais assustadora de nossas descobertas é o quão disseminado o declínio das espécies está nas reservas atingidas. Não são apenas uns poucos grupos que estão sendo prejudicados, mas uma alarmante gama de espécies”, afirmou Carolina Useche, do Instituto Humboldt.
De acordo com os autores do estudo, o que ocorre nos arredores das reservas quase sempre afeta seu interior, então a perda de biodiversidade dessas áreas de preservação também está ligada às atividades de fora das reservas. “Por exemplo, se um parque tem muitos incêndios e mineração ilegal em torno dele, essas mesmas ameaças também podem atingi-lo em algum grau”, alertou Useche.
“Quase tão importante é o que está acontecendo fora delas. 85% das reservas que estudamos perderam um pouco da cobertura florestal próxima nas últimas duas ou três décadas. Mas apenas 2% observaram um aumento nas florestas circundantes”, concordou Kadiri Serge Bobo, da Universidade de Dschang.
”Não queremos dizer com isso que não precisamos das áreas protegidas, estamos somente pontuando alguns problemas encontrados. As regiões no entorno dessas áreas podem ser um grande problema”, acrescentou William Laurance, da Universidade James Cook e do Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical.
Para os cientistas, isso ocorre porque tanto os seres humanos como outros causadores da perda de biodiversidade – incêndios, enchentes e secas severas – não respeitam a delimitação geográfica das reservas.
“Para o fogo, por exemplo, não faz diferença nenhuma saber que tem um mapa na Presidência da República falando que aquilo ali é uma área protegida. As linhas são todas imaginárias”, comentou Sílvia Futada, pesquisadora do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do Instituto Socioambiental (ISA).
Ela explica também que essa separação das reservas em áreas fragmentadas pode ser muito prejudicial para os processos biológicos naturais, pois estes ocorrem de uma forma muito mais fluida do que a divisão administrativa e política imposta pelas reservas.
“Esse é o problema da fragmentação da mata, você vai formando retalhos, ilhas verdes rodeadas de desmatamento. Isso cria um impacto na dinâmica das espécies porque seus campos de ação não se limitam à linha imaginária que divide a porção protegida do restante da floresta. Alguns animais, por exemplo, têm dificuldade de transitar entre essas manchas”, declarou Futada.
Mas apesar de a maioria das áreas de preservação estar sofrendo com o declínio da biodiversidade, algumas delas conseguiram manter suas espécies. A análise constatou que, nestes casos, a causa de tal manutenção foi um bom monitoramento das reservas e o crescimento nos esforços de conservação, tanto da área em si quanto em seu entorno.
“Reservas nas quais os esforços diretos de proteção aumentaram nos últimos 20 a 30 anos geralmente se saíram melhor do que aquelas nas quais a proteção diminuiu; uma relação que se mostrou consistente em todas as três principais regiões tropicais do mundo”, disseram os pesquisadores.
Os autores sugerem que para frear e reverter esse quadro de perda de biodiversidade, deve-se fortalecer o monitoramento e os esforços de conservação da área. Uma das formas de fazer isso, segundo eles, é estabelecer zonas de amortecimento e segurança ao redor dos parques existentes, criando corredores pra conectar os parques.
“É importante conversar com as comunidades que vivem perto para incentivar formas alternativas de ganho econômico compatível com a preservação das reservas”, observou Laurance. “Um foco em administrar as ameaças externas e internas também deveria aumentar a resiliência da biodiversidade em reservas frente às mudanças climáticas potencialmente sérias”, acrescentaram os autores.
Por fim, os cientistas citaram que são necessários mais esforços para manter a biodiversidade das reservas de florestas tropicais, e lembraram que, caso as áreas protegidas não consigam cumprir sua função, uma extinção em massa será inevitável.
“Essas reservas são como arcas para a biodiversidade. Mas algumas dessas arcas estão em perigo de afundar. Mesmo assim elas são nossa maior esperança para manter as florestas tropicais e sua fantástica biodiversidade para sempre”, concluiu Laurance.
fonte: http://www.plurale.com.br/noticias

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