Pesquisadores brasileiros questionam estudo polêmico sobre manejo florestal
No dia 23 de julho, o Instituto CarbonoBrasil publicou a notícia sobre um novo estudodefendendo que "uma extração industrial de madeira em florestas tropicais primárias que seja sustentável e rentável é impossível".
Realizado por Barbara Zimmerman, do Fundo de Conservação Internacional para o Canadá, e Cyril Kormos, vice-presidente de política da Fundação WILD, o trabalho, publicado no periódico BioScience, aponta que as características das florestas tropicais – sua rica biodiversidade, variedade inigualável e interconexões extremamente complexas entre espécies – as tornam particularmente suscetíveis a distúrbios.
Por isso, mesmo retirando apenas umas poucas espécies chave de árvores, os madeireiros estariam alterando drasticamente a estrutura geral do ecossistema.
Assim, o estudo conclui que é errada a noção de que uma extração bem administrada em florestas tropicais antigas poderia fornecer um “meio termo” entre a conservação e a conversão de florestas em monoculturas ou pasto.
Esta notícia teve bastante repercussão e o Instituto CarbonoBrasil recebeu de um grupo de três pesquisadores brasileiros, Lucas Mazei1, José Natalino da Silva2 e Alexandre Anders Brasil3, uma carta resposta questionando os resultados do estudo.
Na carta, que foi encaminhada também para o periódico BioScience, os pesquisadores discordam dos resultados apresentados e afirmam: “Baseados nas mesmas referências, nós podemos concluir exatamente o oposto: Manejo Florestal, seja industrial, comunitário, de pequena ou de larga escala é uma excelente ferramenta para a conservação das florestas tropicais se regras técnicas forem seguidas incluindo as características ecológicas das espécies".
A BioSciencie ainda não respondeu aos brasileiros se publicará a carta. Leia a tradução da carta e sua versão original (em inglês):
Carta Resposta a Zimmerman e Kormos
Zimmerman e Kormos (BioScience, 62: 479-487) fundiram dois conceitos diferentes – "Exploração Seletiva de Madeira" e "Manejo Sustentável de Florestas" – para demonstrar que uma estratégia de pequena escala comunitária ou de proprietários de terra privados para o manejo madeireiro ou não-madeireiro seria melhor do que a exploração industrial da madeira. Esta mistura, intencional ou não, é enfatizada na sua explicação sobre os impactos da exploração seletiva de madeira (SFM) nas mudanças climáticas. Exploração Seletiva da Madeira não é Manejo Florestal Sustentável! Os próprios autores deixam claro quando acrescentam que as definições de SFM no UNFCCC, UNFF, FAO, ITTO e FSC precisam "exigir explicitamente que a estrutura e a composição florestal sejam mantidas" para "manter a produção madeireira e também o complemento integral de serviços ecossistemicos e valores sociais”.
Aplicar as melhores práticas de manejo para alcançar a sustentabilidade baseada em dados experimentais confiáveis é o papel dos gestores florestais. Os autores destacam claramente quais variáveis deveriam ser testadas para o manejo sustentável das florestas: ciclo de cortes, limite do diâmetro da derrubada, intensidade de colheita, taxa de retenção das sementes. Estas variáveis são especificas para cada localidade e deveriam ser baseadas nas estruturas, composição florística e dinâmica de cada local. Apesar de existirem dados sobre algumas áreas tropicais, as regulamentações geralmente são regionais ou nacionais.
Os autores estão corretos quando destacam que "com o suprimento abundante de madeira proveniente muitas vezes do desmatamento ilegal sem manejo, não existe incentivo para o manejo ou conservação”. Entretanto, discordamos da solução proposta pelos autores baseada apenas em SFM de pequena escala e/ou em investimentos no REDD+. Baseados nas mesmas referências usadas pelos autores, nós podemos concluir exatamente o oposto: Manejo Florestal, seja industrial, comunitário, de pequena ou de larga escala, é uma excelente ferramenta para a conservação das florestas tropicais se regras técnicas forem seguidas incluindo as características ecológicas das espécies.
Se acreditarmos que o manejo florestal pode ser uma ferramenta para a conservação de florestas tropicais, então a implementação de políticas deveria ser discutida em fóruns internacionais. Infelizmente, as discussões nas arenas internacionais focam o REDD e minimizam o SFM. Para contribuir para a redução da ausência de dados sobre espécies especificas, melhorar a saúde das florestas e distribuir os benefícios do SFM, a agenda internacional de discussões deve incluir: Silvicultura Tropical, Regeneração das florestas tropicais naturais, Impactos do FM sobre a biodiversidade e preços justos para os produtos florestais.
LETTERS - Response to Zimmerman and Kormos
Zimmerman and Kormos (BioScience, 62: 479-487) merge two different concepts - "Selective Logging" and "Sustainable Forest Management" - to demostrate that a strategy of small-scale community and private landowner timber and nontimber forest-management would be better than industrial logging. This mixture, intentional or not, is accentuated in their explanation on the impacts of selective logging (SFM?) on Climate Change. Selective Logging is not Sustainable Forest Management! The authors themselves make it clear when they add to the definitions of SFM in UNFCCC, UNFF, FAO, ITTO, FSC the need to "explicitly require that a forest's structure and composition be maintained" to "sustaining timber yields while maintaining a forest's full complement of ecosystem services and societal values”.
Applying best management practices to achieve sustainability based on reliable experimental data is the role of forest managers. The authors point out clearly what variables should be tested for sustainable forest management: cutting cycle, felling diameter limit, harvest intensity, seed-tree retention rate. These variables are site specific and should be based on the structure, floristic composition and dynamics of each site. Although data for some tropical sites exist, regulations are mostly regional/national.
The authors are right when point out that "with an abundant timber supply from usually illegal conventionally unmanaged logging, there is no the incentive for management or conservation." However we disagree with their proposed solution based only on small-scale SFM and/or REDD+ investment. Based on the same references used by the authors, we might conclude exactly the opposite: Forest Management, be it industrial, community-based, small or large-scale is an excellent tool for the conservation of tropical forests if technical rules are followed including the ecological characteristics of the species.
If we believe that forest management can be a tool for tropical forest conservation, then policies to implement it should be discussed at international forums. Unfortunately, the discussions at international arenas focus on REDD and minimize SFM. To contribute reduce the lack of species-specific data, improve forests health and distribute the benefits of SFM the agenda of international discussion must include, Tropical silviculture, Regeneration of natural tropical forest, Impacts of FM on biodiversity, Fair prices for forest products.
LUCAS MAZZEI1, JOSÉ NATALINO DA SILVA2, ALEXANDRE ANDERS BRASIL3
1 Embrapa Amazônia Oriental. Trav. Dr. Enéas Pinheiro s/nº. Caixa Postal, 48. 66095-100, Belém (PA) Brasil. email : lucas@cpatu.embrapa.br;
2 Universidade Federal Rural da Amazônia. Av. Presidente Tancredo Neves, Nº 2501, 66.077-901, Belém (PA) Brasil. email : silvanatalino734@gmail.com
3 Conservation International - Brazil. Rua Antonio Barreto, 130 Sala 406, 66055-050 Belém - PA - Brasil. email: a.brasil@conservation.org
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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