quarta-feira, 15 de agosto de 2012


Projetos de redução de emissões em aterros sanitários se multiplicam

Autor: Jéssica Lipinski 

“O lixo de um homem é o tesouro de outro.” Essa metáfora costuma ser usada para situações em que achamos função para algo que alguém considera inútil, mas atualmente ela anda mais literal do que nunca. Recentemente, diversas iniciativas para coletar o metano gerado pelo lixo de aterros sanitários têm surgido, produzindo energia limpa e gerando créditos de carbono.

O processo funciona mais ou menos da seguinte maneira: o lixo orgânico enviado para aterros sanitários é colocado sob a terra, passando por processos químicos como a putrefação que geram alguns gases como o metano, gás do efeito estufa (GEE) cerca de 20 vezes mais potente do que o CO2. Esse biogás é coletado, sendo redirecionado para a geração de energia limpa.
A queima desse biogás impede que muitas toneladas de GEEs sejam emitidas para a atmosfera, o que intensificaria o efeito estufa. Por isso, a iniciativa possibilita a geração de créditos de carbono para mercados de emissões ou para o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Além de ajudar a mitigar as mudanças climáticas e gerar energia, a iniciativa também melhora a qualidade da água na região do aterro e reduz os poluentes atmosféricos.
São justamente esses projetos de redução de emissões em aterros sanitários os mais populares no programa Climate Action Reserve e já geram créditos que são negociados no mercado de carbono da Califórnia.
Ao todo, 11 iniciativas no México e nos Estados Unidos estão certificadas pelo programa e já evitaram a emissão de 2,5 milhões de toneladas métricas de emissões de GEEs, o equivalente a retirar 498 mil veículos de passeio das ruas por um ano.
Brasil
No Brasil, iniciativas equivalentes também estão ficando mais populares e gerando cada vez mais créditos de carbono e energia limpa. Uma delas é o Projeto Bandeirantes de Gás de Aterro e Geração de Energia, implantado no aterro Bandeirantes, em São Paulo.
O aterro, que diariamente recebia cerca de metade do lixo de São Paulo, funcionou entre 1979 e 2007, e calcula-se que nele estão enterradas mais de 40 milhões de toneladas de lixo. Mas apesar de o aterro estar fechado desde 2007, o lixo sob ele ainda produzirá metano por alguns anos.
Por isso, foram instalados 400 pontos de captura do gás, que levam o metano até a Usina Termelétrica Bandeirantes, onde o gás é queimado para gerar energia. A usina, administrada pela companhia Biogás, tem capacidade para fornecer eletricidade para até 300 mil pessoas. Anderson Alves da Silva, coordenador da Biogás, diz que sem a usina, 80% do metano do aterro seria liberado para a atmosfera; com a usina, apenas 0,01% é emitido.
Junto com o metano capturado no aterro paulistano de São João, fechado em 2009, são gerados 350 megawatts (MW) por hora por ano. Com a transformação desse gás em energia, estima-se que até o final de 2012 as emissões sejam reduzidas em 11 milhões de toneladas.
Em junho, a prefeitura de São Paulo leiloou na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&F Bovespa) um lote de 531.642 toneladas de crédito de carbono provenientes do aterro Bandeirantes, arrecadando R$ 4,5 milhões. A empresa vencedora do leilão foi a suíça Mercuria Energy Trading SA, que pagou €3,30 por tonelada.
“Conseguimos uma oferta significativa que será aplicada em melhorias ambientais necessárias à população que reside próxima aos aterros”, comentou na época Mauro Ricardo Costa, secretário de Finanças da cidade de São Paulo. “Os recursos serão aplicados no Parque Linear Perus, na região da Zona Norte”, acrescentou Carlos Fortner, secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente.
Esse foi o terceiro leilão de créditos de carbono organizado pela prefeitura paulistana. Em setembro de 2007 ocorreu o primeiro, que vendeu um lote de 808.450 toneladas do aterro Bandeirantes, arrecadando R$ 34 milhões. Em setembro de 2008 ocorreu o segundo, que vendeu 454.343 créditos do aterro Bandeirantes e 258.657 créditos do aterro São João.
Outro exemplo de aproveitamento do metano é o aterro Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, maior aterro da América Latina, que chegou a receber 7,8 mil toneladas por dia de lixo vindos da cidade do Rio de Janeiro e da baixada fluminense.
Fechado em junho deste ano, o aterro conta agora com 320 poços de captação e dutos de transporte de metano até uma usina de biogás. De lá, o metano vai para a refinaria Duque de Caxias (Reduc), da Petrobrás.
A comercialização desse gás gerará créditos de carbono à refinaria, sendo que 18% dos recursos captados com a venda dos créditos serão destinados à recuperação e urbanização do bairro Jardim Gramacho.
Segundo a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), o aterro de Gramacho produzirá biogás pelos próximos 15 anos, e a utilização desse gás para gerar energia evitará que cerca de 75 milhões de metros cúbicos de metano sejam lançados na atmosfera. “As emissões de poluentes serão reduzidas em 85%”, observou na época Carlos Minc, secretário do Meio Ambiente do estado do Rio de Janeiro.
Imagem: Projeto Bandeirantes de Gás de Aterro e Geração de Energia, implantado no aterro Bandeirantes, em São Paulo / Biogás

fonte: Instituto Carbono Brasil

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