segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Previsões do IPCC de 1990 se confirmaram, afirma análise


Muitas vezes acusado de alarmista, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sempre enfrentou críticas pela maneira como realiza seus trabalhos e apresenta seus resultados. Porém, isso pode ser coisa do passado, agora que já se pode comparar as previsões feitas pela entidade com a realidade climática. Foi o que fez um grupo de cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, dos Estados Unidos, em conjunto com pesquisadores de diversas universidades. O que esse grupo constatou é que o relatório de 1990 do IPCC está correto na maioria absoluta de suas estimativas. A análise "Assessment of the first consensus prediction on climate change" foi publicada no periódico Nature Climate Change de 09 de dezembro de 2012. 


“Descobrimos que as previsões iniciais do IPCC são muito boas e que o clima está respondendo às concentrações de gases do efeito estufa da forma com que cientistas projetavam já em 1990”, afirmou David Frame, diretor do Instituto de Pesquisas em Mudanças Climáticas da universidade de Victoria, na Nova Zelândia. “A precisão das estimativas de 20 anos atrás é ainda mais notável porque na época os pesquisadores dependiam de modelos computacionais bem mais simples do que os de hoje”, salientou Dáithí Stone, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley.

Há 20 anos, o IPCC estimou que as temperaturas médias globais iriam subir entre 0.35˚C e 0.75˚C até 2010 e hoje vivemos em um planeta 0.39˚C mais quente. Para 2030, a previsão é que o aquecimento seja de 0,7˚C a 1,5˚C. 

É importante destacar que o IPCC, estabelecido em 1988 pelas Nações Unidas, não realiza pesquisas originais. O que os milhares de cientistas da entidade fazem é analisar o que está sendo produzido pelos centros de pesquisa climática em todo o mundo e sintetizar esses dados para que possam ser apresentados para a sociedade e, em especial, para os governos. Cada relatório do IPCC leva pelo menos cinco anos para ser produzido, sendo que já foram divulgados estudos em 1990, 1995, 2001 e 2007. Neste último ano, a entidade recebeu, junto com o vice-presidente norte-americano Al Gore, o prêmio Nobel da Paz.

Porém, o IPCC sempre foi alvo de muitas criticas, principalmente por suas escolhas de que pesquisas fariam parte dos relatórios. Assim, em 2011, uma reforma foi realizada na instituição e foram adotados novos procedimentos, como a obrigatoriedade dos autores de trabalhos selecionados para compor os relatórios de detalharem afiliações, fontes de financiamento e ligações que podem influenciar os resultados das pesquisas. Também se definiu que revistas, jornais, blogs e redes sociais não são fontes aceitáveis de informação e que estudos de ONGs e de ativistas climáticos podem ser utilizados desde que cientificamente e tecnicamente válidos.

Segundo Penny Wheton, uma das autoras do terceiro relatório do IPCC, é muito gratificante ver o trabalho da entidade validado por análises independentes e que isso pode facilitar a aceitação dos alertas climáticos pela comunidade internacional, principalmente pelos governos. “O que o IPCC tem dito há anos está se tornando realidade, evidências suportam isso. O que faremos com nossas emissões daqui para frente é o que vai definir se teremos um aquecimento de 2˚C ou de 5˚C até o final do século”, afirmou Wheton.

Cientistas alertam que manter o aumento das temperaturas abaixo de 2˚C é essencial para evitar as piores consequências das mudanças climáticas. 

Adicionalmente, vazou na internet partes preliminares do novo relatório do IPCC a ser publicado em 2013, o qual confirma que os cientistas especializados em clima estão mais certos do que nunca de que os humanos são responsáveis pelo aquecimento global, pela elevação dos níveis das marés e pelos casos de clima extremo. O documento afirma que o aumento nas temperaturas médias globais desde a era pré-industrial deve exceder os 2ºC até 2100, e pode chegar a 4,8ºC.

“É extremamente provável que as atividades humanas tenham causado mais da metade do aumento observado na média global das temperaturas da superfície desde os anos 1950″, diz o relatório preliminar do IPCC. Na linguagem usada pelo IPCC, “extremamente provável” significa um nível de certeza de ao menos 95%. O nível seguinte é “praticamente certo”, ou 99%, a maior certeza possível para os cientistas.

O relatório anterior do IPCC, de 2007, informou que havia uma certeza de ao menos 90% de que as atividades humanas, principalmente a queima dos combustíveis fósseis, eram a causa do aumento das temperaturas. O documento preliminar apareceu em um blog cético à mudança climática. O IPCC informou que o post prematuro e não autorizado com o documento poderá provocar confusão, porque o relatório ainda estava sendo feito e provavelmente mudaria antes de sua divulgação em 2013.

A COP-18 da Conferência sobre Mudanças Climática concluída em 08 de dezembro de 2012, destinada a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, não produziu avanço significativo. Três países – Canadá, Rússia e Japão – abandonaram o Protocolo de Kyoto e seus limites às emissões. Os EUA nunca ratificaram o pacto. O Protocolo também exclui os países em desenvolvimento, onde as emissões aumentam com maior rapidez. Um grupo de países concordou em estender o Protocolo de Kyoto até 2020, mas o conjunto é responsável por menos de 15% das emissões mundiais de gases-estufa. As nações em desenvolvimento afirmaram que pressionarão, em 2013, por um mecanismo radical da ONU que os compense pelo impacto da mudança climática.

O IPCC afirmou ter um alto grau de confiança de que a atividade humana tenha causado as mudanças em larga escala nos oceanos, nas placas de gelo ou nas geleiras das montanhas e nos níveis dos oceanos na segunda metade do século 20, de acordo com o relatório preliminar. O documento afirma que os casos de clima extremo também mudaram em razão da influência humana.

O relatório prevê cenários com um aumento nas temperaturas entre 0,2 e 4,8ºC neste século – uma faixa mais estreita do que em 2007. Mas, em quase todos os cenários, o aumento seria maior do que 2ºC. Em 2010, governos de vários países prometeram tentar conter o aumento global de temperaturas em mais de 2ºC, considerado pelos cientistas o limite máximo a fim de evitar mais climas extremos, secas, inundações e outros impactos da mudança climática.

As concentrações de dióxido de carbono na atmosfera eram as mais altas em 800 mil anos, segundo o relatório preliminar. O documento também afirma que os níveis dos oceanos devem subir para entre 29 e 82 centímetros até o fim do século – em comparação com os 18 a 59 centímetros projetados no relatório de 2007.

O aumento no nível dos oceanos pode ameaçar os habitantes de áreas de baixa altitude, de Bangladesh às cidades de Nova York, Londres e Buenos Aires. O fenômeno aumenta o risco de ondas de tempestades, erosão na costa e, no pior dos casos, a inundação completa de grandes áreas de território.


fonte: novo.maternatura.org.br/news.php?news=668

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