Quando em 1989 o cabeleireiro Phill McCrory assistia a um dos maiores desastres ecológicos da nossa história, o acidente com o cargueiro Exxon Valdez, em que 40 milhões de litros de óleo cru foram derramados no mar do Alasca, o americano ficou surpreso como o pelo dos animais, principalmente das focas, absorvia o óleo rapidamente. McCrory decidiu então testar como era a reação do cabelo humano à substância. Logo descobriu que a fibra capilar era extremamente eficiente para esse fim. Nasciam aí os tapetes feitos de cabelo para limpar vazamentos de óleo.
O americano se juntou a uma organização não-governamental, a Mattter of Trust, sediada em San Francisco, para tornar o projeto viável. Com divulgação apropriada, logo salões de beleza do mundo inteiro começaram a enviar restos de cabelo para a ONG. “Recebemos cabelo de salões americanos, canadenses e também de lugares tão distantes como Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra. Uma vez recebemos milhares de rabos-de-cavalo de estudantes de escolas na Ásia, África do Sul, Venezuela e, até mesmo, do Brasil”, conta Lisa Gautier, fundadora e diretora da Matter of Trust.
Estima-se que um único salão de cabeleireiros corte quase meio quilo de cabelo diariamente, por isso, certamente, não há falta de matéria-prima para os tapetes. A organização recebe, em média, 3 mil quilos de cabelo por semana. O material é enviado em caixas ou pacotes pelo correio para a organização ou diretamente para a fábrica onde os tapetes são produzidos. A única ressalva é que nada esteja misturado aos tufos de cabelo - nenhum grampo, clip, presilha, nada. “Se algum tipo de lixo estiver junto com o cabelo, ele pode danificar as máquinas que confeccionam os tapetes”, explica Lisa.
Parcerias com fábricas têxteis permitem que os cabelos sejam transformados nos tapetes absorventes, produzidos em diversos tamanhos, conforme a demanda. Outros tipos de pelos animais e fibras naturais também são eficientes para a confecção, como pelos de cachorro e de cavalo, além da lã das ovelhas. Cada metro quadrado do tapete sai por cerca de 4 dólares e o custo do programa é financiado por doações e pela venda dos tapetes para prefeituras, governos e empresas. “Esperamos que a marinha americana compre os tapetes para ter em seus navios”, diz a diretora da Matter of Trust.
Quando há um acidente com vazamento de óleo, empresas petrolíferas e navais são as responsáveis pela limpeza do meio ambiente. Entretanto, detergentes e esponjas de nylon usadas para limpar o óleo são feitas com ... óleo! “É um círculo vicioso, mais óleo para remover óleo”.
Os tapetes absorventes já foram usados em desastres ambientais nos Estados Unidos, Coréia e em países da América Central. Quando houve um vazamento de 200 mil litros de combustível, na capital das Filipinas, Manila, em 2006, milhares de detentos de uma prisão cortaram os cabelos para ajudar na limpeza do mar.
O cabelo humano pode ser utilizado para outros fins, também pouco conhecidos. Após usados na limpeza do óleo, os tapetes absorventes, contendo lixo tóxico, podem ser incinerados ou transformados em fertilizantes. Misturados com compostos de lixo orgânico e minhocas, depois de alguns meses, os tapetes se transformam num excelente fertilizante – sem sinais residuais de substâncias tóxicas. A fibra capilar também libera gradualmente na terra proteínas, ótimas para o crescimento das plantas. Os tapetes podem ser usados ainda para corrigir o problema da erosão solar. Colocadas no solo, as fibras se umidificam, mas reduzem a evaporação da água, permitindo que sementes cresçam.
“Todos os anos acontecem aproximadamente 2.600 derramamentos de óleo no mundo, que atingem principalmente áreas muito pobres. Em todos esses lugares há restos de cabelo e lixo orgânico. Com esses recursos, as pessoas que vivem nesses locais podem fazer a diferença para a própria vida”, acredita Lisa Gautier. Seja limpando rios e lagos próximos, ou produzindo fertilizante natural, essas comunidades podem utilizar uma matéria-prima simples e barata para fazer a diferença no meio ambiente.
NÚMEROS E FATOS ALARMANTES
Veja aqui alguns dados fornecidos pela ONG Master of Trust e que dão bem a dimensão dos problemas causados pelo descarte irresponsável de óleo no mundo:
- 2,6 milhões de litros de óleo são jogados no mar todos os anos. A maior parte vem do uso doméstico;
- manutenção e limpeza de navios são responsáveis por jogar no oceano cerca de 500 milhões de litros de óleo;
- 234 milhões de litros de óleo emergem do fundo do mar num movimento natural da natureza;
- um grande acidente pode jogar no oceano aproximadamente 140 milhões de litros de óleo.
fonte: planetasustentavel.abril.com.br
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