segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Orgânicos vs. tradicionais



Em um primeiro momento, a notícia caiu como uma bomba. Depois de revisar nada menos do que 237 pesquisas, estudiosos da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, concluíram que desembolsar uma grana extra para ter alimentos orgânicos na despensa pode não valer a pena. É que eles não identificaram, na maioria dos casos, diferenças significativas na concentração de vitaminas e afins. Justiça seja feita, o fósforo - mineral que, em parceria com o cálcio, participa da formação dos ossos - foi detectado em maiores doses nos orgânicos. Porém, como pouquíssimas pessoas apresentam carência desse mineral, o achado não foi considerado excepcional. 


"A investigação não surpreende. Outros trabalhos já revelaram que o orgânico não reúne mais nutrientes. Acontece que a qualidade do alimento vai além da quantidade de substâncias presentes nele", analisa Elaine de Azevedo, nutricionista da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), em Mato Grosso do Sul, e consultora do Portal Orgânico. Por exemplo: em uma lavoura adubada com fertilizantes sintéticos há muito nitrogênio, o que leva a altas taxas de proteína no vegetal plantado ali. Parece bom, não é? "Em contrapartida, esse elemento deixa a planta bastante vulnerável a doenças e com elevado teor de nitrato, que é tóxico", avisa Elaine. 

{txtalt}
























Isso sem contar que, em certas situações, os itens orgânicos são, sim, mais ricos em nutrientes. Em sua tese de doutorado, a química Sônia Stertz, da Universidade Federal do Paraná, encontrou menos substâncias benéficas nas versões convencionais de tomate, batata, morango, agrião e couve-flor. "Contudo, isso depende de fatores como clima e solo. E há grandes variações de um produtor para outro", pondera a cientista. O morango orgânico, para ter ideia, esbanjou 342% a mais de ferro, 183% de magnésio, 80% de potássio extra, 34% de cálcio, 26% de fibras e 24% de proteínas. 

Contradições nutricionais à parte, segundo Sônia Stertz, um artigo recente indica que os alimentos cultivados de acordo com o sistema orgânico tendem a apresentar níveis superiores de fitoquímicos. E esses compostos bioativos têm ação antioxidante, ou seja, são capazes de combater radicais livres e, consequentemente, evitar males que vão desde câncer até doenças cardiovasculares. Estamos falando do licopeno do tomate, da isoflavona da soja, do sulforafane das couves... 

Isso é bastante plausível porque o vegetal sem agrotóxicos precisa acionar seu mecanismo natural de defesa o tempo inteiro para se proteger de seus inimigos. Esse processo, por sua vez, estimula a fabricação dos aclamados fitoquímicos. Na revisão americana, outro destaque ficou por conta da comparação entre os níveis de agrotóxicos encontrados nos alimentos orgânicos e nos convencionais. No geral, os primeiros se mostraram menos propensos à contaminação por pesticidas. 

"De fato, essa é a principal diferença entre as duas opções. Os orgânicos são muito mais seguros", afirma a nutricionista Semíramis Domene, professora da Universidade Federal de São Paulo. "Os pesticidas são desenvolvidos para atacar organismos vivos em geral. Portanto, não afetam apenas as pragas", esclarece. A triste realidade é que também estamos sob sua mira. 

O perigo cresce quando a exposição a essas substâncias acontece dia após dia. Situação que, convenhamos, não é improvável de acontecer - basta pensar nas frutas do café da manhã, nas folhas do almoço, nos legumes da sopa servida no jantar e por aí vai. "O contato frequente com os agrotóxicos aumenta o risco de uma série de problemas", aponta Luiz Cláudio Meirelles, gerente-geral de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.


fonte: planetasustentavel.abril.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário