quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O decrescimento do ritmo do crescimento econômico, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

taxa de crescimento do pib


O século XX vai ficar conhecido como o momento de maior crescimento demo-econômico de todos os tempos. O período que vai do final da Segunda Guerra Mundial até o final da década de 1970 é conhecido como os “30 anos gloriosos”, pois foi o período de maior crescimento populacional e econômico, não só do século, mas de toda a história humana. Segundo cálculos de Angus Maddison e do Fundo Monetário Internacional, o PIB mundial cresceu por volta de 4,8% ao ano, a população cresceu em média quase 2% e a renda per capita aumentou 2,8% ao ano entre 1950 e 1980. Este período “extraordinário” contou com o investimento dos avanços científicos e tecnológicos acontecidos na primeira metade do século XX, com uma grande expansão da fronteira agrícola e econômica e com os baixos preços dos combustíveis fósseis.

O Brasil, por exemplo, foi um dos países que mais cresceu durante o boom internacional e apresentou uma das melhores performances econômicas do mundo. O PIB brasileiro cresceu em média 7% ao ano, entre 1950 e 1980, a população cresceu 2,8% ao ano e a renda per capita teve um expressivo aumento de 4,2% na média anual das 3 décadas. Os países ocidentais e o Japão (chamadas de economias avançadas pelo FMI) cresceram, em média, 4,6% ao ano, neste período. O conjunto das economias emergentes (também chamadas de Terceiro Mundo) cresceu em média 5% ao ano, entre 1950 e 1980.
Contudo, o modelo de produção taylorista-fordista, com administração macroeconômica de inspiração keynesiana, entrou em crise no final dos anos de 1970. Entre 1981 e 1990 o crescimento médio anual das economias avançadas caiu para 3,3%, das economias emergentes para 3,4% e do Brasil caiu para somente 1,6% ao ano (menor que o crescimento da população no período). Nos anos de 1990, as economias avançadas continuaram o processo de declínio (para 2,8% ao ano) e houve uma pequena recuperação do conjunto das economias emergentes (crescimento anual de 3,8%) e do Brasil (crescimento de 2,7% ao ano).
A novidade pós-1980 foi o impressionante crescimento da China que manteve uma média de variação do PIB próxima de 10%, ao ano, entre 1980 e 2010. Não há nada parecido na história. Na década de 1990 houve também o reerguimento da Índia. Os dois países mais populosos do mundo puxaram a média de crescimento das economia emergentes nos anos 1990 e lideraram o mundo no início do novo milênio. Mas este desempenho extraordinário tem seus limites e não há como crescer ilimitadamente.
Entre 2001 e 2010 as economias avançadas cresceram apenas 1,6% ao ano. Mas o conjunto das economias emergentes cresceu 6,2% ao ano, sendo que até o Brasil apresentou crescimento de 3,7% ao ano no período. A China cresceu cerca de 10% e a Índia cerca de 8% ao ano. Como a China e a Índia possuem quase 40% da população mundial, o crescimento econômico destes dois países fez crescer a chamada “classe média emergente”, ampliou o mercado de consumo no mundo, contribuindo para elevar o preço dos alimentos e das commodities.
Parecia que a primeira década do século XXI iria inaugurar um período de grande divergência nas taxas de crescimento do PIB e de grande convergência da renda entre as economias avançadas e as emergentes. Já havia muitas pessoas comemorando o excepcional crescimento das economias periféricas. Porém, o início da segunda década do atual século está apontando para uma redução geral do crescimento econômico no mundo. As economias avançadas já estão no caminho da estagnação e o Japão é apenas um exemplo.
Relatório publicado em 23 de janeiro de 2013, pelo FMI (World Economic Outlook – WEO), mostra que nos 3 primeiros anos da segunda década do corrente século houve uma desaceleração tanto das economias avançadas quanto das economias emergentes. O Brasil tinha ensaiado uma recuperação econômica, pois depois de um crescimento pífio de 1,6% na chamada década perdida (não houve crescimento da renda per capita brasileira nos anos de 1980), cresceu 2,7% na década de 1990 e 3,7% entre 2001 e 2010. Porém, os 3 primeiros anos da atual década apontam para um crescimento de apenas 2,4%, inferior àquele do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Ou seja, o Brasil voltou a crescer abaixo da média mundial e abaixo da média da América Latina, embora o governo tenha tomado diversas medidas para estimular o consumo, mas não conseguiu, por enquanto, vencer o “pibinho”.
O fato, é que a desaceleração do crescimento econômico é um fenômeno mundial. Diversos analistas indicam que também a China e a Índia já começaram a desacelerar suas economias, que possuem desequilíbrios de diversas ordens. Na China, em 2013, teve início o declínio da população em idade ativa e dentro de 10 anos começa a diminuição demográfica, além de uma aceleração do envelhecimento populacional. Indubitavelmente, uma desaceleração da economia chinesa vai afetar todos os países em desenvolvimento.
Além disto, a poluição do ar das grandes cidades da China e a poluição das águas do rio Ganges na Índia, aumentam o custo ambiental de maneira exponencial. A elevação do preço dos combustíveis fósseis e das commodities, aliado à depleção dos recursos naturais e às mudanças climáticas está colocando um limite à capacidade de expansão econômica do mundo. O economista, Joseph E. Stiglitz, prêmio nobel de economia, disse que a grande ameaça para a economia mundial nas próximas décadas é o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Tudo indica que a era do crescimento econômico acelerado está chegando ao fim. Ainda é cedo para se ter uma visão mais completa, mas o século XXI pode estar consolidando o caminho da redução continuada do ritmo de incremento das economias nacionais e internacional. O mundo vai ter que começar a pensar em uma situação sem crescimento ou até mesmo, em alguns casos, na até hoje impensável situação de uma economia com decrescimento.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

fonte: ecodebate.com.br

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