Icó - Mais um ano termina sem que o problema de degradação do Rio Salgado tenha sido enfrentado. Pelo contrário, agravou-se nos últimos anos. Sem investimento em obras de saneamento básico, dezenas de cidades continuam despejando esgotos em seu leito, além de entulho e lixo jogados por moradores de centros urbanos e vilas rurais.
O Rio Salgado será o principal canal de escoamento no Ceará das águas oriundas da transposição do Rio São Francisco.
Sem investimento em obras de saneamento básico, dezenas de cidades continuam despejando esgotos em seu leito, além de entulho e lixo
O professor João José Anselmo dos Santos, agrônomo, e coordenador do Centro de Vocação Tecnológica (CVT) de Icó, acompanha desde 2008 os agravos da situação de degradação do Rio Salgado, a partir de expedições documentadas em fotos e relatórios técnicos. "Neste mês, voltei ao mesmo local onde tirei fotos em 2008 e a realidade é de extrema preocupação. O que se ver é uma verdadeira rampa de lixo as margens do rio".
Em junho passado foi lançada uma campanha na Internet de ´Salve o Rio Salgado´. Por meio de petição on line, os internautas podem acessar a página e assinar o termo que será encaminhado para as autoridades como forma de pressionar os governantes a adotarem providências concretas em defesa do rio.
O trabalho do professor João Anselmo começou há exatos quatro anos a partir da realização de uma trilha ecológica, realizada ao longo de 15km no leito seco do rio. O grupo na época saiu do encontro com o Rio Jaguaribe até a Ponte Rodoviária Piquet Carneiro, na zona urbana do município de Icó. A expedição comprovou que na época já era grande o nível de degradação ambiental: desmatamento das margens, assoreamento de alguns trechos, lançamento de esgoto e grande volume de resíduos depositados no leito do mesmo.
O problema referente aos resíduos ficou mais evidente na zona urbana. "O que me chamou mais a atenção foi o volume de entulho de construção jogado às margens", disse. "Essa ação, na época, era fruto da atividade dos caçambeiros e carroceiros que retirava areia do leito do rio".
Observou-se que quase sempre a retirada de areia era associada à colocação de entulho, pois alguns dos caçambeiros aproveitavam a viagem para levar o entulho e retirar a areia do rio. Segundo fiscalização de agentes do escritório regional do Ibama, na cidade de Iguatu, a extração de areia ocorreu sem licença ambiental de operação e em locais proibidos, sem licença, próximo às margens, encostas e sob a Ponte Piquet Carneiro.
A expedição do professor João Anselmo constatou um fato preocupante: o despejo de vasilhames de agrotóxico. "Isso ocorreu e continua a ocorrer porque lotes explorados com atividade agrícola ficam próximos ao rio", disse. "Os produtores rurais lançam tudo que considera lixo em seu leito".
Os agricultores revelaram despreparo para manusear os agrotóxicos e falta de consciência sobre o risco para a saúde de pessoas, animais e para a degradação ambiental. "Essa é uma triste realidade", observou o professor. "O poder público municipal precisa conscientizar os agricultores e oferecer postos de coleta para esse material".
Em outubro de 2011, durante a realização de uma expedição com alunos de escolas públicas a um trecho do Rio Salgado, a conhecida Prainha do Salgado, ficou constatada que a situação piorou. "Na ocasião, foi realizada uma coleta de lixo e dentre os vários tipos de resíduos foi encontrado lixo hospitalar", afirmou. "Infelizmente, o quadro vem se agravando".
Já neste ano, o professor constatou que o Rio Salgado permanece sofrendo degradação. "Em janeiro de 2012, fomos até a Lagoa de Estabilização de Esgoto do município, localizada na margem, e o leito do rio, recebe constantemente os resíduos oriundos da decantação do esgoto", observou. "Há uma grande concentração de plantas aquáticas no local de água parada e animais pastando bem próximo". Em uma distância de apenas 60 metros havia uma bomba captando água para irrigar um plantio de bananeira. Segundo o agrônomo João Anselmo, a concentração de plantas aquáticas é resultado de um processo de eutrofização, caracterizado pelo crescimento da vegetação. A causa é o excesso de nutrientes, nitrogênio e fósforo. Diminuição do uso da água para recreação; eventuais mortes de peixes; mau cheiro; proliferação de mosquitos e insetos. A liberação de despejos domésticos em recursos hídricos empobrece o meio aquático de oxigênio e provoca a morte dos micro-organismos.
O Rio Salgado nasce no distrito de Lameiro, no pé da Serra do Araripe, no município do Crato, com o nome de Rio da Batateira. Sua bacia hidrográfica está espalhada por 23 municípios. Os que são banhados pelo rio são os seguintes: Icó, Cedro, Umari, Baixio, Ipaumirim, Várzea Alegre, Lavras da Mangabeira, Granjeiro, Aurora, Caririaçu, Barro, Juazeiro do Norte, Crato, Missão Velha, Barbalha, Jardim, Penaforte, Milagres, Abaiara, Mauriti, Brejo Santo, Porteiras e Jati, com uma população estimada em 850 mil pessoas. A degradação ocorre em todos estes.
O professor disse que vai continuar acompanhando a degradação do Rio Salgado em Icó, que dispõe de um Perímetro Irrigado. "É preciso a participação efetiva da gestão municipal, do Governo do Estado e dos moradores. Há necessidade de definição de uma política conjunta entre os municípios diretamente afetados pelo problema".
Mais informações:
CVT de Icó
Rua Av. Ilídio Sampaio, 2151
Centro Histórico
fonte: diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1219188
Nenhum comentário:
Postar um comentário